Florbela Espanca: Poemas

POETAS

Ai as almas dos poetas
Não as entende ninguém;
São almas de violetas
Que são poetas também.

Andam perdidas na vida,
Como as estrelas no ar;
Sentem o vento gemer
Ouvem as rosas chorar!

Só quem embala no peito
Dores amargas e secretas
É que em noites de luar
Pode entender os poetas

E eu que arrasto amarguras
Que nunca arrastou ninguém
Tenho alma pra sentir
A dos poetas também!

Florbela Espanca


SER POETA

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
é condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

Florbela Espanca



FLORBELA ESPANCA:  Florbela Espanca (1894-1930) foi uma das mais importantes poetisas portuguesa. Seus poemas revelam emoções, a solidão, a tristeza, o sofrimento. Ela nasceu em Alentejo, Portugal, no dia 8 de dezembro de 1894. Um fato marcante da vida de Florbela Espanca é que seu pai, João Maria, só a reconheceu como filha depois que ela morreu. Florbela escreveu A Vida e a Morte, seu primeiro poema, em 1903. Chama a atenção que sendo ainda muito nova tenha escolhido esses assuntos filosóficos para seus poemas. Mas suas escolhas sempre foram desafiadoras, foi a primeira mulher a ingressar no curso de Direito da Universidade de Lisboa em 1917.  
Em 1919, lançou “Livro de Mágoas”; 1923 publicou “Livro de Sóror Saudade”. Suas obras póstumas: “Charneca em Flor” (1931)(considerada sua obra prima), “Juvenília” (1931), "Máscaras do Destino" (1931); “Reliquiae” (1934), “O Dominó Preto” (1983), “Cartas de Florbela Espanca” (1949).

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