Tereza Du'Zai: Poemas

À morte e à morte

Ao nada,
minhas ilusões,
ao nada!
Só, eu rio e morro.
Rio de mim e dos outros,
do que fui e dos que se foram.
Vou-me e é justo que me vá assim,
com o corpo envolto em pedras,
e o peito cheio de dores ignoradas.
Não digam que cometi suicídio.
Não se envaideçam.
Não haverá de ser por suas perversidades.
Será por mim.
Egoisticamente por mim.
As pedras hão de me conduzir,
e é justo que assim seja;
afinal, apenas elas me venceram na arte de rolar.
Morro do mal da pouca vida,
Desta sina insana,
deste destino certo.
Envolvida em pedras,
para evitar despesas,
e dispensar protocolos vãos.
Lanço-me ao mar
também por vaidade.
antevendo a primeira mordida,
a disputa por cada lasca de pele,
por cada porção de víscera.
Lanço-me ao mar
a fim de me tornar útil na morte.
Perdoem-me os vermes da terra;
perdoe-me o proprietário da funerária Hees;
perdoe-me, Liz. Cancele as rosas amarelas,
mas os braços do coveiro serão poupados,
uma árvore será poupada,
velas brancas serão poupadas.
Nem rituais, nem hipocrisias.
Esta será a vez das piranhas.

Tereza Du'Zai

***



Tela de Dirce Polli


Redenção

Morrer sem perdão, sem arrependimentos;
sem ódios, paixões ou pretensões;
morrer em qualquer idade, em qualquer cidade;
adormecer à beira de qualquer estrada,
indiferente ao desconforto e à violência,
confundindo lobos com cães de guarda,
insensível ao egoísmo e ao preconceito;
abraçar a paz num pesadelo,
descer ao mais profundo abismo
a fim de se encontrar.

Tereza Du'Zai


***

Fatal

Eis meus mortos, acoados sob o mármore frio,
ocultos em suas cavernas púrpuras.
Inúteis.
Sem esperanças, sem milagres;
fulminados, aniquilados;
vestidos para a eternidade.
Vencidos.
Não mais o sol os aquecerá, não mais a chuva os banhará;
nenhuma honra os envaidecerá, nenhuma glória os ressuscitará.
Suas sentenças foram cumpridas.
O amor não os salvou.

Tereza Du'Zai

Abstração - 2013- Dirce Polli 

Permanência 

Há os que matam para ver morto,
mas há os que matam o morto morto.
Cada golpe uma esperança,
multiplicam-se, renascem, crescem;
tornam-se deuses,
senhores de muitos destinos.
Choram o morto morto,
amam-no como a um filho, complacentes e protetores;
recomendam-no a Deus, ao Diabo, aos vermes, a ninguém.
[...]
O corpo esfria,
alguns insetos se aproximam.
Adeus! A Deus! Há Deus! Há Deus?
A lua os guia, as nuvens dançam,
os esconderijos se abrem e a vida continua.

Tereza Du'Zai






Tereza Du'Zai, natural de Itajaí, SC, é poeta, contista, cronista e professora de Língua Portuguesa e Literatura. Atualmente, a autora tem se dedicado à produção e à divulgação de sua obra literária. Seus poemas têm sido publicados em  revistas, blogs e jornais brasileiros.













Os quadros que acompanham o poemas são da artista plástica Dirce Polli Bittencourt: Orientadora de Arte no Centro Cutural Ítalo Brasileiro Comitato Dante Alighieri. Licenciada pela Universidade Federal do Paraná onde frequentou também cursos de extensão em Leitura de Imagens e Gravura. Pós graduada em  Arteterapia .  Artista plástica catalogada no Dicionário de Artes Plásticas Brasil – Julio Louzada, Vol. V, pg. 701. Participou de exposições individuais e coletivas e em Salões de Arte Contemporânea:  53º Salão Paranaense(1996);  III Mostra de Artes Plásticas – UNIOESTE 1997 e 2002;  XXII Semana Portinari 1997;  Salão de Arte de Blumenau-SC; Salão de A  Salão de Arte Prefeitura de Vinhedos/SP;  III Muestra Latina Americana de Miniprint – Rosário Argentina, 1998, entre outros.

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