Jandira Zanchi: Poesias

Fotografia de Neni Glock
RENASCIMENTOS


Tenho, em mim, uma roseira de frutos doces e amaciados
de manhãs inertes - celebrados sem artifícios ou colorações –
poderiam ser encontrados em dias de pouca luz
daqueles esquecidos nos poentes de mármores vazios
quase ao desalento, ricos de madeixas escuras e perfumes de cristal,
tão idôneos em sua ligeireza que entre eles se descobre a água
como um metal de cheiro e calor em seu leito de alvorada.

Foram renascimentos e escutas de uma eternidade vazia
quase opaca na retidão de suas fronteiras, muita saída a sal
e nuvens, circunspecta no eixo maciço da navegação em terra
fria – mesuras e ciência do cotidiano – pássaros e sombras,
fusos e rocas de sabedoria
quase vergando
da alma
a sombra de sua pedra angular - finitude.


Foram nesses estremecimentos de ventos e voltas que estendi
cem contas de fadas e fórunsem uns discursos de meio tempo
regados ao líquido e à nata por ali estremecidos dos corredores
estrelas e parcimônia das vantagens do esplendor da vida
a luta da subsistência
estiagem verde e marinha em beijos salinas
versos que se criam monásticos elásticos
prenhes do desejo branco da liberdade
quando ainda não havia o tempo, o fio e o medo
só essa valente sina de semáforos e luzes
aspirando o anjo em seu pouso branco
outono dedilha sua ventura na laje e no apego.

Jandira Zanchi




ENTREGA

ciente do invisível
espectadora do possível
sem trégua e lástima
o timo e o rumo ao léu
as sentenças são chaves azuis
espumadas à 1ª luz do dia
alvo e frio escorrido da noite
de ventosas e neblina em
estrelas que se entreolham
e novamente silenciam para
os acordos do solo feitos
em blocos sem sedimentos
movimentos esparsos e caros
lentos ou perfurados em suas conchas
iniciou-se no milagre
avança-se a esmo e bagre
rezas são ofensas à meia voz
entrecortadas de suspiros
e música entre dois goles
quase impuros do néctar
dos sábios alfarrábios
alfabetos discretos
discrepantes e ondulantes
na nau dos tempos
contratempos em teus sonhos
avançamos cá e lá na surdina
da entrega esfrega esfrega
esfregaesfregaesfrega
entrega......

Jandira Zanchi





FUGAZ

momentânea sanidade alongando-se
na promessa de algum encanto
é noite em minha sala e dia no silêncio
movo-me com a sinceridade dos escolhidos
sem fronteiras na lembrança
e alegrias no repouso
reabro o infinito com a agudeza de um mártir
sacrifico a leitura das aves e o esconderijo
de algum deus, sabendo que da sina
o semáforo e o ato são o compassivo brevê
do meu instante
Fugaz........

Jandira Zanchi





Jandira Zanchi é poeta e ficcionista. Atuou no magistério no ensino de matemática e física em faculdades, colégios e cursos. No final dos anos 80 foi professora cooperante na Universidade Agostinho Neto - Faculdade de Ciências, Luanda - Angola. Em Curitiba por cerca de dez anos esteve na FAE - Bussiness School. Como poeta publicou Gume de Gueixa (Editora Patuá, 2013), Balão de Ensaio (Editora Protexto, 2007) e o livro virtual A Janela dois Ventos (Emooby, 2012). Tem lançamento para breve de Área de Corte com a Editora Patuá.

 Entre outras antologias participa de Saciedade dos Poetas Vivos vol 1, Poesia para mudar o mundo vols. I e II do site Blocos Online, organizadas por Leila Míccolis, e 101 Poetas Paranaenses- antologia de escritas poéticas do século XIX ao XXI, (Selo Biblioteca Paraná, 2014), organizada por Ademir Demarchi. Integra o conselho editorial de mallarmargens revista de poesia e arte contemporânea.

Comentários