Vera Albuquerque: Dia Internacional da Mulher

Falar do Dia Internacional da Mulher comemorado no dia 8 de março, lembrando apenas o dado histórico, sobre a greve de mulheres numa fábrica têxtil em 1857 por melhores condições de trabalho, é uma visão reducionista do papel da mulher no mundo, antes da Modernidade, na Idade Média.
Apenas alguns exemplos históricos:

Abadessas como Hildegarda de Bingen (1098 - 1179) e Herrad de Landsberg (1130 - 1195), século XII, desenvolveram-se nos campos teológicos e científicos. Herrad de Landsberg, escreveu a enciclopédia mais conhecida do século XII com o título Hortus Deliciarum , "Jardim de Delícias". Essa obra continha sínteses exatas sobre as técnicas das ciências estudadas no período.

Cristina de Pisano (1364 - 1430), poetisa e filósofa, autora do livro  - A Cidade das Mulheres. Lutou contra a exclusão das mulheres nas universidades da França, no século XIV. Marco do pensamento feminista em relação à educação da mulher e uma sociedade pacifista.
Podemos citar ainda rainhas como Leonor de Aquitânia (1122 - 1204) e Branca de Castella (1188 - 1252), avó e neta, exerceram amplas funções reais, governando na ausência maridos e reis. E muitas outras.

No mundo moderno podemos citar com orgulho muitas mulheres brasileiras, aqui apenas algumas:
Ana Aurora do Amaral Lisboa (Rio Pardo- RS, 24/09/1860 - 22/03/1951), educadora e defensora da justiça, da honra, da liberdade de pensamento e dos direitos da mulher.

Anália Franco (São Paulo, 29/03/1853 - 20/01/1919), educadora e escritora. Colaborou, de forma bastante ativa, em revistas feministas, como A Mensageira, A Família e O Eco das Damas.
Júlia Maria da Costa (Paranaguá- PR, 01/07/1844 – 02/07/1911). Casou em 1871, por conveniência e imposição familiar. Foi uma figura controvertida, forte, decidida e à frente de seu tempo. Publicou dois livros: Flores dispersas - 1ª série, e Flores dispersas - 2ª série. Sob os pseudônimos de Sonhadora, Americana e J.C. (entre outros), escreveu, além de poesia, crônicas-folhetins.
Nísia Floresta se destaca no Brasil por romper limites. Publicou seus textos em jornais da grande imprensa. Escreveu o livro intitulado Direitos das mulheres e injustiça dos homens, de 1832, o primeiro no Brasil a tratar do direito das mulheres à instrução e ao trabalho.

Mariana Teixeira Coelho - (1902-1917). Imigrou para o Brasil em 1892, fixando-se em Curitiba. Uma das primeiras pensadoras feministas do Brasil.

Com a obra a Evolução do Feminismo, revela sua militância pela causa, sendo uma das pioneiras do movimento feminista no Brasil. Seu nome, agora na era pós-moderna, deu origem ao Coletivo Marianas do qual sou integrante, e que busca prosseguir na militância de mostrar e valorizar não apenas a escrita da mulher, mas sobretudo seu espaço de forma igualitária nos movimentos culturais, no trabalho, na política, na ciência, enfim em todos os ambientes que dão lugar ao pensamento, educação e reflexão.

Temos ainda Lygia Fagundes Teles, Carolina Maria de Jesus, Cecilia Meireles, Ana Maria Machado, Clarice Lispector, Marina Colasanti, Zelia Gatai e milhares delas. Impossível nomear todas e dar-lhes aqui, o merecido grau de importância na cena literária brasileira e mundial.

Em Curitiba: Helena Kolody, Adelia Maria Wolner, Amalia Max, Luci Collin, Alice Ruiz; as muitas diversas e competentes escritoras que participam de movimentos literários, saraus, Feira do Poeta, Coletivo Marianas, que por serem tantas e tão únicas não é possível nomeá-las, mas sintam-se todas homenageadas nesse dia.

E não menos importantes, todas as mulheres que nunca estudaram, escreveram, cantaram ou militaram em qualquer domínio, mas que reinaram plenamente nos seus lares paupérrimos ou milionários, desvelando-se pelos filhos, para que eles pudessem, escrever, criar, estudar. Enfim, mulheres que educam e , melhoram o mundo.

Mas que direitos são esses que celebramos hoje? Igualdade?  Homens e mulheres são iguais?  São iguais, porém, não são a mesma coisa. Como lidar com isso? Para começar, não somos minoria, isso, por si, já deveria nos dar outra consciência de realidade. Sendo maioria, portanto, por que ainda somos minoria nos espaços, sejam eles quais forem? Essencialmente, mulheres não lutam apenas pela igualdade, por ser óbvio que não somos iguais. A reivindicação que orienta a fala feminina e feminista, é que as diferenças inerentes a cada gênero, não sejam motivo de menos-valia, desqualificação profissional, salários menores e tantos outros vilipêndios, que (apesar de legalmente muitos já nos sejam assegurados) na prática da vida, ainda suportamos.

Nesse dia, venho dizer que a luta pelo direito à escolha, pelo acesso à informação, educação, acolhimento da mulher e da sua prole em situação de risco, pelo direito de exercer uma profissão e de sermos avaliadas apenas pela capacidade profissional, é uma luta diária, incessante.

Luta que se faz através de ações, do discurso, da escuta, do exercício contínuo que reafirma o que somos e o papel que representamos, quando olhamos o passado e enxergamos o exemplo que nos deixaram as que foram antes de nós, e principalmente acolher na compreensão aquelas, cuja causa que deve nos unir, ainda soe como estranhamento.

Não se trata de simplesmente ocupar espaços dominados pela hegemonia masculina, mas sim construir uma outra educação, um outro sistema, mais generoso, mais eficiente onde caminhar pela rua, trabalhar, escrever, fazer arte, fazer política, criar filhos, sejam  direitos e vocações exercidas forma livre, segura e igualitária entre todos.




Vera Albuquerque – escritora – psicóloga com extensão em filosofia -mestranda em educação e membro do Centro Paranaense de letras.
Referência bibliográfica – Enciclopédia Educativa – Editora Bolsa Nacional do Livro.

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