Ana Costa: Amesterdão, Paris e Berlim - Poesias

Amesterdão

Respeito a memória
todos os olhares para trás
melancólicos ou perserverantes
têm uma réstia de gota de chuva
cara, mãos, cansaço
guardados na alegria chorosa

De Amesterdão ninguém conhece lembranças
risco do charro adormecido
perigos soltos em ruas sós
manhã de outro planeta e um holograma inteiro

O futuro é do pelintra
roubados olhos que possam aguentar esta merda
imaginam-se ruas de ouvidos postos
visto que faltam dedos à esperança
impossibilitei-me de te esquecer
morri esventrada pelo teu sorriso

Ana Costa



Quadro de Víctor Hugo do Prado

PARIS


Sei que Paris olha para si mesma com
                     amor e desprezo
não há amores onde
                     não há chão para os apanhar


Amo-te, Paris, mas isto é
                     só um caso
não posso ficar contigo, porque
                     a tua dor dura mais do que a alegria
                     e os acordes são mais belos
                     quando o tango dos dias é triste

Infeliz dicotomia, esta
                     de me custar abandonar
                     o que mais me magoa

Paris! A tua personalidade e cultura
                     desiludem-me, a tua Arte e amor
                     não me deixam que sejas totalmente má

Quando vai para Paris, o artista está
                     para além do desespero
perde-se definitivamente, quer deixar a miséria
                     apoderar-se dele, consumi-lo

Não se emigra para Paris para viver
                     mas definhar aos poucos.

Ana Costa


BERLIM

Berlim é tão distópica 
criadora na desolação
talvez o progresso podre desta humanidade
seja o rombo no espírito perfeito da nossa

Ana Costa


Ana Costa

Ana Costa




Nascida no Porto (Portugal), licenciou-se no curso de Ciência da Informação, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. 
Escreveu “Misantropia esclarecida” (2014, Livros de Ontem) e é autora de uma das fotografias constantes na colectânea “Penélope” (2014, Livros de Ontem e The Art Boulevard). Vive a escrita e coexiste com ela, numa relação de mútuo suporte de respiração. Ama tudo o que à Arte diz respeito; é hora vaga num mundo niilista.

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