Eloir Jr.: IDA - de Curitiba... HANNEMANN DE CAMPOS



Fotografia de Dalio Zippin - Acervo do Solar do Rosário
A grande alma feminina Paranaense esbanja talentos. Dona Ida, mulher, mãe, avó e muitos adjetivos que são sinônimos de simpatia e dedicação, surgem entre o seu grande “dom” como pintora, desenhista, ilustradora, tapeceira, gravadora, muralista, escultora e poeta, o que a tornam uma artista multimídia no século XXI, fazendo o Estado do Paraná mais rico culturalmente e colorindo a atmosfera cinza curitibana em que o clima insiste em se manifestar nestas nuanças.

Esta nobre senhora, “monstro” das artes plásticas da Terra de Guairacá, nasceu Ida Emília Hannemann, numa família de boas tradições germânicas e italianas, fruto das grandes correntes imigratórias européias ao Estado. Contemporânea dos grandes nomes das artes paranaense Ida carrega uma bagagem cultural de mais de 70 anos de produção artística que ilustram o Estado e estão narradas no livro biográfico e artístico “Entre o pincel e a pena”, com texto de Fernando Bini, professor, curador e crítico de arte e Heloisa Campos sua filha, editado em 2015.

Com mais de 10 exposições individuais, dezenas de mostras coletivas no Brasil e no exterior e 32 salões oficiais, Ida Hannemann de Campos é dona da medalha de bronze do 1º. Salão Paranaense de Belas Artes em 1944, sendo a primeira mulher a adquirir tal premiação no Estado do Paraná com a tela “O Bêbado”, cujo retratado era funcionário de seu pai (Henrique Hannemann) e a artista romanticamente define sua obra como perfeita, tendo comentado que nem sabe como ficou tão bom. Num paradoxo, quando realmente não gosta de uma obra, queima o trabalho sem dó, excentricidades de uma alma artística!   Ainda bastante relevantes, possui aquisição nos Salões Paranaenses de 1960 e 1962 e aquisição no 6º. Salão de Arte Religiosa Brasileira.



Gênese artística
Apesar de nunca ter planejado uma carreira de artista, os momentos foram acontecendo, e uma religiosa alemã do Colégio Divina Providência onde estudava, a ensinou os primeiros passos nos traços de pequenas figurações como gatinhos e santinhos, o que Ida desenhava e pintava para sua mãe dar de presente à amigas.

A mãe, Luiza Balin Hannemann, percebendo o gosto da filha, a matriculou para tomar aulas com outro grande nome da arte Paranaense, o amigo de sua família, o pintor Theodoro de Bona, que tão logo a indicou para o grande Guido Viaro, onde permaneceu entre 1941 a 1943.

Segundo Fernando Bini, a artista foi aluna de Guido Viaro e “se mantém até hoje ligada a uma figuração lírica chegando algumas vezes próxima da abstração, quando os elementos vegetais de suas paisagens se fundem com outros ou com figuras humanas”. Fonte deste parágrafo: http://www.acpr.com.br/site/2012/11/acp-homenageia-70-anos-de-arte-de-ida-hanemann-de-campos/
Fernando Bini, uma visitante, Ida Hannemann e Regina Casillo
na exposição Entre o Pincel e a Pena, no Solar do Rosário
Fotografia de Dalio Zippin

Assim como crianças que tiveram a sorte de desenhar uma amarelinha, aquele jogo antigo em que o participante tem de pisar no quadrado riscado no chão, a artista plástica curitibana Ida Hannemann de Campos percebeu que gostava de desenhar quando fez a figura de um homem baixinho e barrigudo na calçada, enquanto brincava”
Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/caderno-g/trajetoria-entre-telas-e-tintas-2t2ziql6bsv8yens6cfni5k5q

Nesta gênese artística, Ida também foi docente em artes, sendo professora de pintura no Centro Paranaense Feminino de Cultura e na Associação Cultural Solar do Rosário, neste último, teve uma turma batizada com seu nome, a qual gentilmente convidou e concedeu aos artistas plásticos Carla Schwab e Eloir Jr. para juntamente com ela ministrarem aulas de pinturas.

Ida é artista ativa e trabalha diariamente em seu atelier, onde vez ou outra encontra bilhetes de Guido Viaro, o que em um deles ainda descreve as palavras de Guido: “precisa de fermento”. Isso nunca ficou esquecido para ela, pois ele sempre dizia que não era para fazer as coisas tão reais, que tinha de ter criatividade como inspiração.


Luzes Inspiradoras 




Mudanças de cores de uma bolha de sabão, uma súbita luz que entra em seu ateliê, um bom livro, principalmente de Dante Alighieri, pois é grande fã, ou um simples dente-de-leão (memórias de uma viagem para a Grécia) são fenômenos da natureza que servem de catarses inspiradoras para suas séries artísticas, surgindo obras de uma sensibilidade incomensurável.

Como vestígios de seus mentores artísticos, Ida também gosta de pintar ao ar livre, onde observa a rica natureza que a cerca, conseguindo captar a essência através de suas vibrantes cores.  Casada que foi com Dr. André de Campos (in memoriam), Professor e Cirurgião Dentista, Ida se tornou Hannemann de Campos, assinatura em que hoje a conhecemos. Quando do falecimento de seu esposo, fatos como sua internação em São Paulo há mais de duas décadas, também se tornou inspirador para os desenhos de sua série São Paulo em Dia de Chuva.


Reconhecida trajetória e carreira
Com obras no mais importante Museu da América Latina, O MON- Museu Oscar Niemeyer, no Museu Paranaense e em galerias da França, Alemanha, China, Estados Unidos, Espanha entre outros, a importante artista que também se torna paranista, sempre produziu muito sem o interesse de que as obras fossem comercializadas, porém ocorrem esporadicamente algumas aquisições entre colecionadores e apreciadores da bela arte vanguardista do Paraná.



Seus trabalhos ilustram e embelezam ao ar livre a Capital das Araucárias, bem como o Estado, estão em livros culturais, murais e trabalhos de conclusões de cursos onde é sempre mencionada.
“Pintora das paisagens, dos personagens comuns, de naturezas mortas e principalmente dos elementos paranistas, alegra-se ao ser denominada paranista, declarando inclusive ser apaixonada pelo tema. Desde pequena, a gralha sempre esteve presente na vida de Ida. Quando criança, com oito ou nove anos de idade, tinha uma gralha presa em uma grande gaiola, me fascinava olhar a maneira como aquela ave se esforçava em enterrar objetos na areia que continha na caixa da gaiola”.
Fonte do parágrafo: http://ppgav.ceart.udesc.br/turma3_2007/dissertacoes/luciana_barone.pdf

Ida de Curitiba, que também é Hannemann de Campos, pode ser apreciada em murais como o hall da Biblioteca Central da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (1994) e na Praça do Asilo São Vicente de Paula (1996). Ida é altiva como a araucária que alcança a luz, e se torna uma efeméride da pintura no Paraná.

Eloir Jr.




Eloir Jr. é artista Plástico curitibano, pós-graduado pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná e graduado pela Universidade Tuiuti do Paraná, colunista cultural do Sztuka Kuritiba, curador e professor de arte. Há 20 anos é estudioso das etnias europeias no Estado do Paraná, com enfoque principal na cultura eslava da Polônia e Ucrânia, onde expressa seus trabalhos em harmonia com ícones paranistas; araucárias, pinhões e gralha azul.

Comentários

  1. Maravilhosa arte de Ida. Tão próxima ao sagrado quanto seu olhar - que se sente - sobre o mundo.

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