Rosa Maria Mano: Rosas e Manjericão Miúdo


Fotografia de Van Zimerman



















ROSAS E MANJERICÃO MIÚDO

Quando a minha alegria te contemple;
quando eu possa te ver dentro dos olhos,
perder-me neles e encantar teu horizonte.
Quando eu possa deslizar pelos teus pelos,
água-de-cheiro de rosa e manjericão miúdo.
Quando eu possa te prender num abraço,
corpo inteiro, pernas, músculos, veias e mistérios;
quando eu possa te sorver, abduzir, macerar a língua,
almofariz de marfim e açucena.
Quando eu possa te amar sem que me limites,
sem que tentes conter o que não nasceu contido.
Quando me queiras tanto que ardam teus pés
e criem vida tuas asas;
quando olhes pra mim e não te detenhas;
quando for urgente e implacável,
me rendo, me ajeito no teu fogo. Ardo.




ORIGAMI

E se eu fosse de papel? Suave dobradura
vincando o rosto, alma, coração?
Sorriso abotoado, marfim?
E se fosse crepom, seda, colagem?
E se eu guardasse outra alma que não fosse a minha?
E se eu fosse papel?

Fotografia de Faisal Iskandar




















O IMAGINÁRIO

Não acredite no que diz uma poeta.
Ela não é o que parece.
Não porque esteja mentindo,
mas porque sua verdade não combina com a verdade do mundo.
Ela é o que sonhou ser, um dia. O que julga ser.
Ela é um ideal, uma fantasia que perdeu o último bloco
depois do penúltimo porre.
Uma poeta de verdade, dessas que não rimam amor com dor
e que enxergam borboletas nas dobradiças das janelas
(lembrei de Apoena),
não aceita as coisas do mundo como são.
Acaba por imaginar o que não é.
Transforma-se em verdadeiro ser imaginário,
auto-imaginado, auto-criação desconectada.
Se for olhada atentamente, uma poeta é uma lua rasa refletida.
Apenas reflexo da cheia verdadeira.
E uma poeta pode ainda, descalçar as chinelinhas,
calçar saltos agulha e dizer, diante da realidade
que dilacera seu coração, alto e enfaticamente
- foda-se a realidade. E foda-se a delicadeza.




REVOADA

Esta noite, fecha teus olhos. Deixa que eu me deite sobre tuas vestes de pele e suor. Deixa que eu corra em ti, uma algazarra de amor, um cardume de febres.
Deixa que eu desmanche a madrugada.
Me deixa ser revoada, nos braços teus, meu amor.




Rosa Maria Mano, nascida em São Paulo, capital, num frio e ensolarado setembro, perfumado por jasmins-do-Cabo. Faculdade de Letras interrompida. Estudando História na Universidade Estácio de Sá. Autora de Xamã, 1º livro de poemas pela Litográfica Editora – São Paulo (1984), enriquecido pela capa de Elifas Andreato, Três Marias e um Cometa, infanto-juvenil pela Companhia Editora Nacional (1986). Fruto Mulher, Coletânea de poesia pela Editora Semente – São Paulo (1983). Também contista, tendo publicado O Gato pelo D.O. Leitura, Suplemento Cultural do D.O de São Paulo – São Paulo (1987), Clara Morte de Clarice, no site Recanto das Letras, O Tigre, na Fan Page Rosa Maria Mano – Poesia. Publicando diariamente na Fan Page e na página Rosa Maria Mano – Facebook. Prêmio SESC de Poesia – 1999 – 1º lugar na edição municipal – Teresópolis, com o poema A Lua Negra. 2º lugar, na mesma edição, com o poema Recendência. Prêmio SESC de poesia – 1999 – 2º lugar na edição estadual – RJ, com o poema A Lua Negra. Próximos lançamentos : Vento na Saia – eBook – poesia e Somos Marias – com Maria Lorenci – eBook – contos e poesia.


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