Luiz Walter Furtado Sousa: Labirinto - e outras poesias

A casa vazia


A casa te aguarda em silêncio
sozinha no canto da rua
No chão da sala, teus passos
te esperam a um palmo de altura

Na cuba do lavatório
um fio d'água já sonha
lavar, do teu rosto, o cansaço
desta viagem tristonha

No escuro, no quarto, na cama
o som do prazer abafado
Contido, entre dentes cerrado,
espalha no vento o alarde
que tua volta não tarda

E a casa espera sozinha
por tua vida, que é minha.

Luiz Walter Furtado Sousa


Fotografia de Isabel Furini



Sinais de mudança
Para minha mãe.
Inspirado em “Visão do Pátio”, de Adriano Menezes.

Na casa, sinais de mudança
As velhas paredes pintadas
No piso de taco, a bonança
Das coisas recém-renovadas

Tentando apagar os pesares
Que nela deixou tua ausência
Forjei uma nova aparência
Com móveis em outros lugares

Mas quando, na noite, sozinho
Eu ando do quarto ao banheiro
Teu rastro me corta o caminho

De nada serviu tanto zelo
Se sempre tropeço em teus passos
Por todos caminhos que traço.

Luiz Walter Furtado Sousa



Labirinto

Com sua ausência:
a vida
nos vãos da casa

Caminhar,
pela vertigem do espaço
vazio,
correndo o risco
de me perder na matéria
de cada objeto

Entre os abismos
concretos:
o solo movediço
de todos os versos.

Luiz Walter Furtado Sousa





Luiz Walter Furtado Sousa nasceu em Belo Horizonte em 1957. Médico pediatra na cidade de Ouro Preto, passou a escrever poesias há cerca de dois anos. Tem poemas publicados no número 12 do Caderno-revista 7faces, na revista Mallarmargens e dois livros de poesias prontos, aguardando que alguma editora se interesse pelas obras.





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