Carmo Vasconcellos: O CRISTO (facto verídico)

O CRISTO (facto verídico)
(Excerto do meu romance “O Vértice Luminoso da Pirâmide ”)
(Escritora de Portugal)

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Foi o que aconteceu uma noite quando Jorge resolve alvejá-la com uma lindíssima peça de arte indígena, frágil, porque feita de um tipo de massa semelhante ao barro. Tinha-lhe sido oferecida pelo irmão Vitor, que a trouxera do Brasil, e Carmen gostava imenso dela. Era um crucifixo, grande, pintado à mão, onde pendia curvado o Cristo agonizante.

Carmen desviou-se, e a peça espalhou-se pelo chão, feita em pedaços.

Cega, pela brutalidade do marido, o desrespeito por seu irmão e por ela própria, o sacrilégio e a heresia contra a imagem sagrada… ela perdeu as estribeiras. E, enquanto houve fragmentos palpáveis da peça - símbolo do sacrifício de Cristo - a sua mão, como que movida pela mão Divina ultrajada, fez deles projécteis e, com uma fúria que desconhecia possuir, uma fúria feita de muitas fúrias contidas, foi arremessando a esmo, contra a cabeça, o corpo, as pernas, daquele homem que a apunhalava nos sentimentos mais profundos. Como se pretendesse assim destruir de vez o seu carácter aberrante.

E só parou quando naquele chão não havia senão migalhas de barro e pó. Com elas se misturava, volátil, invisível, uma outra poeira de argila esboroada – massa de mulher doce, pacífica e paciente, a desfazer-se aos poucos, para dar lugar a uma mulher agressiva, descontrolada e vingativa.

Mas Carmen ouviu a voz dessas poeiras invisíveis. Elas falaram-lhe:

– Cuidado, mulher! Teu homem não há-de melhorar nunca, tu é que sem dares conta te vais degradando, te igualando a ele.

Os indícios eram claros!

Carmen tomou consciência disso e jurou a si própria não mais se deixar arrastar, cegar ao ponto de vir a dar por si moldada de barro sujo e lamacento!

Curiosamente, passadas semanas, aquando de limpezas maiores, Carmen descobriu num canto, atrás de um móvel, qual relicário oculto, a cabeça intacta do seu Cristo, que parecia dizer-lhe: “Como vês, Carmen, continuo aqui!...”



Carmo Vasoncelos mora em Lisboa/Portugal. É membro Vitalício da International Writers and Artists Association - IWA, Toledo, Ohio/USA; Embaixadora Internacional do Movimento de União Cultural - Taubaté, Brasil; Medalha da Paz/CONINTER; Comenda Conde de Figueiró/Embaixada da Poesia; Membro Universal Circle of Ambassadors of Peace - France & Suisse; Mulher do Ano 2015/Embaixada da Poesia; Embaixadora Internacional e Imortal/AVLAC; medalha de Mérito Cultural/Curitiba - Brasil 2015; Prémio "Cultivo da Paz - Hiroshima 70 Anos", do Movimento União Cultural; Comenda da Embaixada da Poesia/ AVLAC;Honra ao Mérito "Carlos Drummond de Andrade" (AVLAC); PrémioS ZAP 2009/2010/2012/ 2015 - pela Presidente do Projeto "ZAP", Elizabeth Misciasci; Académico Correspondente e Membro Honorário da Academia Pan-Americana de Letras e Artes-Rj-Brasil; Académica Imortal da Academia da Cultura Internacional da União Cultural, titular da cadeira número 7;Académica Imortal e Consulesa representante de Portugal da Virtual Academia Poética Brasileira. 
http://www.carmovasconcelos-fenix.org

Comentários

  1. Obrigada Carlos Zemek. Honra-me participar da sua excelsa Revista Cultural. Carinhosamente com votos de continuado Sucesso!

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