Jandira Zanchi: Poemas do livro Luas de Maçã

Poemas inéditos de Jandira Zanchi que farão parte do livro Luas de Maçã, da editora Singularidade



COSTUME/CARDUME


nascendo pelas bordas e frestas do passado
centenas de ventarolas caiadas
 fazem seu ângulo de vazante
nesse reinado de cânticos e hóstias aonde, macerado no solo,
o sol, menino de semânticas fluentes,
elabora  escapatórias desse inferno em funis e fuzis

são ligeiras as luzes de fundo e seus cristais nas bordas da noite
       – saltimbanco dos mares navegados-
esperança no cruzamento, ainda,  espelhos do jogo no lago,
                    - de repente a entropia-
madames e ritos do costume/cardume

havia um anjo navegando a avenida
era certo o certeiro fim em planícies planas
declive
            declarado
                            desnível

mares de antanho
formosuras fáceis enleadas no espaço
mistificavam o argumento nesse círculo clemente
em que derivo o fervor da mente e as águas das rendas do tempo.







SUÁSTICA


santificado círculo semáforo sinalizado no eixo
sul da santificada e desonesta vontade
de perecer entre os lagos celestiais de bens  e benefícios

estremecendo de minhas odaliscas azuis de desesperança
na formosa faceirice dos vinténs trocados trocadilhos

amargos percalços personalizados
a cada moldagem (mumificada) da sina (suástica)

essa vertente de deuses bacantes
besuntados da lei e da ordem

fina vontade de estremecer.




MÁQUINA


alucinações que se derramam líquidas e lerdas
miúdas nas contas dos segundos amarrados
- fel dos dias, doce sândalo dessa encosta –

quase com misericórdia manejo essas franjas
- restantes de espetáculos específicos -
coloridas dos vermelhos e brancos dos assentimentos

entre as  entressafras de espumas  são lisas essas calçadas
agarradas ao meio fio ao meio ao fim aos fatos

desconexa atividade desvinculada da dor e da oferenda
aonde já não cabem estribilhos de julgamentos e juras

jurássicos os diamantes, as coroas, as manias enviesadas
de cultivo e arado de um solo sem sais e perfumes –

é o estribilho, doce, de um silêncio longo e langoroso
- ainda crível aos pés da máquina.



Jandira Zanchi é poeta e ficcionista. Dirige a editora Singularidade, em Curitiba. Atuou no magistério no ensino de matemática e física em faculdades, colégios e cursos. No final dos anos 80 foi professora cooperante na Universidade Agostinho Neto - Faculdade de Ciências, Luanda - Angola. Em Curitiba, por cerca de dez anos, esteve na FAE - Bussiness School. Como poeta publicou Área de Corte (Editora Patuá, 2016), Gume de Gueixa (Editora Patuá, 2013), Balão de Ensaio (Editora Protexto, 2007). Entre outras antologias participa deSaciedade dos Poetas Vivos vol 1, Poesia para mudar o mundo vols. I e II do site Blocos Online, organizadas por Leila Míccolis,  e 101 Poetas Paranaenses-antologia de escritas poéticas do século XIX ao XXI, (Selo Biblioteca Paraná, 2014), organizada por Ademir Demarchi. Integra o conselho editorial de mallarmargens revista de poesia e arte contemporânea.

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