Laura Monte Serrat: Novos Tempos

Quadro de Neiva Passuello

Hoje em dia crianças possuem uma infância diferente, com desejos atendidos, antes mesmos de desejarem. Com a facilidade do crediário, do dinheiro de plástico, pais se desdobram para os filhos terem os objetos do momento. Antigamente, diríamos: o celular que só falta falar, mas hoje ele já fala, ouve e escreve o que você fala; o tablete que contém milhares de filmes para se assistir; centenas e mais centenas das cartas do jogo preferido; a televisão tela plana de muitas polegadas; o boné de aba reta com detalhes em ouro; a boneca que fala, faz suas necessidades e precisa ser trocada; o bebê prateado que custa mais do que uma prestação do seguro saúde e mais e mais e mais...
É a infância do ter e do assistir!

O celular e o tablete servem para se comunicar com os colegas, em tempo real. No dia seguinte as novidades não são mais novidades; servem também para assistir, em um canal da internet, jovens jogando jogos eletrônicos que elas ainda não possuem, mas que se satisfazem vendo o outro jogar; servem para assistir séries que são para idades mais avançadas, mas os pais já perderam o controle do que seus filhos fazem com seus celulares que os acompanham o dia todo, todos os dias.

As cartas trazem um novo formato de lúdico que muitos adultos não entendem, a não ser aqueles, que na sua adolescência, curtiram também os animes, mangás e os desenhos animados japoneses.
A tecnologia da internet trouxe para nós uma nova forma de fazer, de se relacionar, de pensar que estão nos afastando de muitas coisas que ainda existem neste mundo e que necessitam do compromisso, do esforço, do trabalho, da conquista.

É preciso prestar atenção em nós, antes de querermos que nossos filhos vivam, como nós vivemos, nossa infância. Qual é a nossa relação com o celular? Interessamo-nos pelos jogos que nossos filhos estão jogando? Acompanhamos as séries que eles estão assistindo? Temos tempo para conversar com eles, ou trabalhamos, trabalhamos para poder dar-lhes o celular último tipo que irá afastá-lo, cada vez mais, do convívio presencial com as pessoas?

Estamos perdendo a noção dos limites e esta nova geração está perdendo sua capacidade de ter iniciativas, de resolver problemas, de realizar seus compromissos de viver experiências além da experiência de assistir e de ter notícias em tempo real, sem espaço para o exercício da espera, da surpresa, da curiosidade.

Estamos nós, adultos, preparados para estes novos seres que surgem nestes novos tempos?

Laura Monte Serrat





Laura Monte Serrat Barbosa é poetisa, artista plástica e Pedagoga; Membro do Centro de Letras do Paraná; Membro do Coletivo Marianas; e membro do Grupo Escritibas na Rua.
Especialista em Psicologia Escolar e da Aprendizagem; Formação em Curso Livre: Psicopedagogia e Coordenação de Grupos Operativos ; e Mestre em Educação. Atuação na Síntese - Centro de Estudos da Aprendizagem como Psicopedagoga; Professora convidada em Cursos de Pós-Graduação na PUC-Pr; Faculdade Bahiana de Medicina - BA ; Faculdade Integrado de Campo Mourão-PR. Palestrante sobre  temas ligados à Educação e Aprendizagem. Escritora nas áreas de estudo, atuação e, também poesia. Conselheira e Diretora da Associação Brasileira de ABPp); Conselheira nata da ABPp - seção Paraná.

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