Entrevista com Adélia Maria Woellner

Nossa entrevistada é a escritora e poetisa Adélia Maria Woellner.

Adélia Maria Woellner, nasceu em Curitiba (PR), em 1940. Formou-se em Direito, pela Universidade Federal do Paraná, em 1972. Foi professora (Direito Penal), de 1973 a 1985, na Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Pertence à Academia Parananese de Letras; à Academia Feminina de Letras do Paraná ; ao Centro de Letras do Paraná ; além de a inúmeras outras entidades lítero-culturais do Brasil. Lançou o livro de poemas “Infinito em Mim”, versão bilingüe, português/inglês, no 13th Brazilian Street Festival, New York (1997); em espanhol, na VIII Feria Internacional de Libro de La Habana, Cuba, (1998) e na cidade do México, D.F (outubro, 2000), e em português/francês, em Montréal, Canada (2000).
Sob o título “Tempo e Memória na Lírica de Adélia Maria Woellner”, sua obra foi objeto da dissertação de mestrado pela Profª Clarice Braatz Schmidt Neukirchen, no curso de Pós Graduação Stricto Sensu em Letras, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Cascavel, Paraná, 2006).  Publicou livros de poesias e livros infantis. "A Menina que Morava no Arco-Íris" foi adaptada, por Gil Gabriel, para teatro de bonecos e apresentado por Almazem Teatro de Bonecos (2010).
Recebeu a Distinção Honorífica “Medalha de Mérito Fernando Amaro”, concedida pela Câmara Municipal de Curitiba, e Comenda “Emiliano Perneta”,  pelo Centro de Letras do Paraná, em 2012.


Quando nasceu a sua paixão pelas letras. Existe algum fato marcante?

Existe, sim. Quando aluna (curso ginasial, naquele tempo) do Instituto de Educação, uma colega de turma pediu permissão, ao professor de Latim, para ler um poema de sua autoria. Nos meus 10 ou 11 anos, fiquei absolutamente fascinada. No intervalo das aulas, perguntei a ela, Maria da Luz, se fora ela mesma quem havia escrito. Quando confirmou, perguntei:  e como se faz?, ao que ela, simplesmente balançando os ombros, respondeu: “fazendo, ora...”. Assim, comecei a escrever.


Algum livro influenciou a sua vida, suas decisões, suas atitudes?

Impossível citar um ou outro livro. Seria injusto, pois são tantas as palavras que penetram no coração e na alma, despertando “insights”, trazendo compreensão, estimulando mudanças. Tenho aprendido muito com as leituras, independentemente do estilo.  A poesia de Helena Kolody, por exemplo, sempre provocou, em mim, muitas reflexões; entre os homens, o poeta paranaense Oldemar Justus, igualmente me levou a profundas meditações. Para pensar seriamente, mais uma obra: “O homem medíocre”, de José Ingenieros. Recentemente, recebi uma valiosa indicação, a fábula “O cavaleiro preso na armadura”, de Robert Fisher, já na 13ª edição.

Você acha que o poeta nasce ou ele se faz?

A sensibilidade para a poesia é característica da pessoa; neste caso, o poeta é “despertado”para apreciar e manifestar o encantamento poético, que pode ser aprimorado. Uma atenção, porém, é necessária, pois a habilidade, o traquejo em trabalhar com as palavras pode, porém, fazer com que o poeta, em vez de “criar”, passe a “fabricar” poemas que, desta forma, perdem sua essência, a poesia.


Quais são os elementos que mais importantes para escrever poesia?
Permitir que a emoção aflore, sem bloqueios, creio ser o primeiro elemento. Muitas vezes tenho me deparado com pessoas que refreiam seus sentimentos, pelo medo de se exporem ao “julgamento” dos outros. Abrir a alma, sem receio, é o início. Mas, é claro, a leitura, muita leitura, estimula, provoca voos de inspiração, amplia o vocabulpário e desenvolve e habilidade no uso das palavras, o surgimento de metáforas, a descoberta de figuras de linguagem que dão, digamos, elegância ao poema.


Na sua opinião, por que é tão difícil ter projeção como poeta?
Esta é uma questão que causa estranheza. Todos dizem gostar de poesia, vibram com os poemas, mas a produção poética não é comercialmente valorizada. Se não há maior divulgação, a consequência é a dificuldade na projeção do poeta.


O panorama poético parece confuso. Em sua opinião, qual é o futuro da poesia?

É isso mesmo. Você colocou bem: o panorama poético parece confuso. Apesar disso, a poesia sobrevive e se insinua, se impõe, até, como elemento que suaviza as agruras da vida agitada. Os momentos de enlevo, com a leitura de poemas, oferecem lenitivo. Então, o futuro da poesia está assegurado. A poesia é imprescindível à vida.


Como poetisa, qual é a sua expectativa? Espera alguma reação específica dos leitores?
Sempre escrevi, primeiro, para mim, pela minha necessidade de escrever, conversar comigo, com meu ser interior, com as minhas verdades.
Dos leitores, eu apenas espero que possam encontrar prazer estético, a liberação de emoções ao  lerem o que escrevo.


Sua obra já foi analisada por literatos ou por professores da área de Letras? Você recebeu e-mail de leitores? Como foi a resposta do público e da crítica?

Sim. Já tive minha obra analisada, o que foi uma grande surpresa e alegria maior ainda:
- sob o título Tempo e Memória na Lírica de Adélia Maria Woellner, minha obra poética foi objeto da dissertação de mestrado pela Profª Clarice Braatz Schmidt Neukirchen, no curso de Pós Graduação Stricto Sensu em Letras, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Cascavel, Paraná, 2006;
- sob o tema Escrita de Mulheres e a (Des)construção do Cânone Literário na Pós-modernidade: Cenas Paranaenses, a professora Níncia Cecília Ribas Borges Teixeira, da Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO, de Guarapuava, Paraná, incluiu a análise do livro Luzes no Espelho, na pesquisa de pós-doutorado, apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciência da Literatura, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2007;
- a produção poética também foi objeto de análise pela Profª Neumar Carta Winter, publicada no livro “Estudos Literários”, Juruá Editora, Curitiba, 2011.

Quanto aos leitores e à crítica, tenho recebido agradáveis retornos. Isso, claro, é bastante agradável.


Alguns de seus livros foram levados ao teatro. Qual foi a sua experiência como autora? O que sentiu ao ver seus personagens de livros transformados em personagens de teatro?

É indescritível a sensação de ver personagens adquirirem vida, movimento, fora das páginas do livro. Quando a história “A Menina que Morava no Arco-Íris” foi adaptada, por Gil Gabriel, para teatro de bonecos, me senti como uma criança que recebe seu primeiro e surpreendente presente. Foi um prêmio, uma homenagem incomensurável. Abrir as páginas de um livro e acompanhar o desenrolar da história, já é uma experiência agradável; ver cada personagem existir “em três dimensões”, nos transporta para dentro do enredo, como algo palpável, em todos os seus detalhes.
Depois dessa experiência, Gil Gabriel me convidou para acompanhar a estreia de “O Jardim das Virtudes”, com roteiro criado, por ele, também para teatro de bonecos. Adorei a história e, desta feita, eu é que fiz a adaptação para outro livro de história, com o mesmo título.




Adélia, poderia dar alguma orientação para os poetas iniciantes?

Acho que a melhor orientação é repetir o que disse no início: não ter medo de expor sua “identidade” interior, exteriorizando as emoções, sentimentos, percepções, experiências, vivendo, intensamente, cada momento de sensibilidade e, também, usufruir as criações de outros autores, lendo, sempre, com grande atenção, ousando penetrar na alma do criador de cada obra, poética ou em prosa.


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