Entrevista com o poeta Adel José Silva Alves

Adel José Silva Alves na foto de Ana Cristina
Nosso entrevistado é o poeta Adel José Silva Alves

Quando despertou o seu interesse pela literatura?
Eu sou filho de nordestino, nasci em Guarulhos, Taboão da Serra/Cabuçu, no ano de 1970, e minha família fez migração inversa para Petrolina (PE) quando eu tinha cinco anos. Em PE ficamos dois anos e depois fomos morar no Ceará, Juazeiro do Norte. Essas duas cidades estão na origem do meu gosto por literatura. Fiz a primeira série primária na escola Pio. XI, na qual tive muita dificuldade em minha alfabetização. Minha mãe ficou muito preocupada, pois a freira responsável garantia a minha família que eu era problemático, ou a coisa que o valha, então travei, repetir a primeira série com o signo familiar de louco analfabeto. Foi um horror, meus pais eram analfabetos, e para meu pai tudo estava bem, eu iria trabalhar na roça com meus avós, mas minha mãe ficou profundamente triste, quase deprimida, minhas irmãs, que já eram alfabetizadas, faziam piadas, os primos e tudo mais. Eu por outro lado, nutri um profundo ódio pela escola, e contrabalancei o caldo, me afundando na vagabundagem. O mês dezembro foi liberdade, era recesso, eu achei que seria assim para sempre, pescarias no Rio São Francisco, pipas, arruaças, e tudo que um menino nordestino tem direito. Adorava entrar nos bares, e escutar os cantadores de repente, de participar do reisado, da capoeira que lá agente chamava de jogo do areia, enfim, o mês dezembro, foi toda liberdade. Para mim estava resolvido, eu seria como meu pai, um Cabra macho e analfabeto, qual problema, se fosse para ir para roça, que fosse, tudo, menos a escola das freiras. Eu tava cansado de levar palmatória e ser ridicularizada. Daí veio a noticia, eu teria que passar por uma recuperação, morreu de dor e de raiva. Mas fui obrigado, e fui. No primeiro dia a Professora Rosangela, que era uma substitua de férias, me viram quieto e zangado no canto. Eu estava desenhando. Quando ela se aproximou, me armei com todo fel disponível. Mas ela, ao contrário de todos os professores que eu conhecia, elogiou meu desenho, e me desafio a ler e desenhar um livro, que ela me deu de presente, era a obra “Fábulas de Esopo”. Aceitei o desafio. Levei o livro e passei o fim de semana tentando decodificar a obra. Como se fosse por mágica, no meio de minha labuta com as letras, lembro como se fosse hoje, elas começaram dançar na minha cabeça e fazer sentido, li todas as historias e as desenhei. A professora ficou tão feliz com isso, que fez uma exposição com meus desenhos e ainda, me fez contar toda a história para classe. Nesse dia, me tornei ilustrador, desenhista, contador de história, e principalmente um leitor amante de todo o verbo possível. E claro, a escola passei se algo necessário acabou, no futuro, virando também professor. (RS) 


Quais são os seus autores preferidos?
Bem, isso é difícil, Eu não diria que eu tenha algum autor preferido, tenho livros que amo como a terra ama chuva, nesse sentido, os autores, é claro, estão incluso nesse me amor. Começo falando de poetas, dois de alta estatura, Joao Cabral de Melo Neto e Adélia Prado, obra: “A educação pela Pedra”. Fico sem palavras e sem fôlego, essa obra me Poe de joelhos. Claro que a Morte e Vida e toda obra do Cabral me fascina, mas destaco essa como um metro de respeito, e ainda incluo a obra Oráculos de Maio, sensacional. Não ouso comentar, para mim é uma obra prima. Na prosa, a lista é gigante, Grande Sertão Veredas, de João Guimarães Rosa, já chorei em pelo menos duas relidas, bem, m essa dispensa comentários, Machado de Assis, Memória Póstumas, Clarice com sua Paixão Segundo G.H; e ai vai por ai. Amo literatura nacional, amo os românticos, principalmente a sua poesia, Gonçalves dias, o grande Fagundes Varella, Álvares de Azevedo e Claro o baiano Castro Alves, lei os como trabalho, mas os incluo em minhas leituras de lazer. Gosto muito de ler os Simbolistas também, e enfim, como disse, não tenho um autor, amo ler  obras de autores estrangeiros, como Robert Frost,Walt Wltiman,  etc 



Cite cinco escritores que, em sua opinião, merecem o Prêmio Nobel de Literatura. 
Fica difícil responder essa pergunta, nunca pensei nisso, falo sério, não tenho a menor ideia dos critérios para essa seleção, e não sei mesmo se ganhar um Nobel é uma benção ou o contrario, então fico com medo de mandar gente que eu gosto muito pro lugar errado, mas entrando no jogo, sobre os vivos, que eu li e respeito, conheço aqui no Brasil, a obra de Vanessa Barbara, essa menina é fantástica, gosto do humor negro de Daniel Pellizzari,e amo com muito gosto, a obra de Silas correia Leite, ler o Goto, o barqueiro de Itararé  foi uma experiência extra sensorial, fora do comum, Silas é dos grandes. Se dependesse de mim eles estariam na lista, claro incluiria na lista o incrível e fantástico Raduan Nassar, e tem também o africano Pepetela, esses camaradas tem muito mérito. 


Adel, você esteve na FLIP, como foi a sua experiência nessa Feira Literária Internacional de Paraty?
Minha Experiência na feira Literária foi muito interessante, que posso definir em duas direções,uma primeira de alegria e felicidade por estar convivendo e relançando minha obra na feira, no qual fizemos uma festa danada, com direito a noite de autógrafos, muito samba, alegria, e comemoração , filas de leitores querendo conversar perguntar sobre a obra, e isso tudo , não tem jeito, mima o a  ego doa autor e também fornece o testemunho e conforto que buscamos ao escrever. Eu escrevo para estancar minha sede compartilhar meu olhar sobre o mundo,  e isso de compartilhar o cérebro, de dividir  ideias, é fantástico. O leitor entra como testemunha por esse  anglo foi muito bom. O outro anglo, foi perceber uma clara redução da FLIP em relação a outros momentos que tive lá, ( não como autor) , o que aponta para crise brasileira, chegando devastadoramente no mercado editorial. Isso é uma coisa que dar um dó, entendo que literatura fica desimportante diante da falta do feijão e do arroz, mas temos muito problemas estruturais e educacionais, e vejo essa redução apontando para lago muito negativo. 



Fale um pouco de seus livros. Como surgem na sua cabeça?
Meu primeiro livro de poemas é uma coletânea feita no bojo da crise brasileira. “O Desassossego
“, creio que fala muito por si. Eu fiz um apanhado de poemas e queria publicar, percebi que muitos poemas foram gestados nos séculos passado, antes de 20000, e outros, eram novos, nascidos do caldo e da fervura dos fatos históricos dos anos 2012.2013, 2014 e 2015..etc , então , reli um poema que , na minha opinião, não é o melhor do livro, mas que tinha  titulo de “ Desassossego”, então, a, minha namorada, percebendo o sentido de toda a obra, me indicou, por que o teu poema não batiza todo o livro. E daí ficou Desassossego, que de alguma forma é um claro e despretensioso entristeço com Pessoa, afinal, o obra dele, também é uma obra de início de século, mas essa é  única ponte entra as obras. (RS)

Fotografia de Ana Cristina


Alguns autores falam que escrever é, na realidade, reescrever. Você está de acordo com essa ideia de aprimorar os textos?
Sim, claro, estou, e seria tolo se discordasse. Mas penso que algo vem mudando, eu tenho poemas que demorei 10 anos para escrever, e tenho poemas que demorei dez minutos. Daí nasceu, revisei, revisei, e ficou com saiu do primeiro momento.  ÀS vezes demoro seis meses para escrever um conto, às vezes ele me toma e o escrevo em uma noite. Isso para mim não –é uma –padrão. Não vivo de escrever, mas vivo para e escrevendo, escrevo compulsivamente,. Eu diria que o caos e o meu ritual, então não tenho essa pretensão de ser tão puristas, sei que estou sendo meio herético ao dizer isso,conheço colegas que demoram 5 anos para escrever um livro e respeito isso, mas Macunaíma foi escrito em uma semana, penso que não deve haver uma regra para isso. 



Você escreve diariamente?  Segue algum “ritual”? Por exemplo, García Márquez gostava de uma rosa no vaso de flores. Sentia que a flor estimulava sua criatividade.
Como já, disse, eu simplesmente escrevo, deixo fluir, , vou engavetando tudo, em arquivos, pastas, cadernos, email, FACE, enfim.. Depois entro numa fase de revisar algumas coisas, fase de colheita e a sempre surge algo, não sou muito de me punir ou de exagerar me autocritica, meus objetivos se enquadram na vida presente, por isso vou escrevendo conforme e de acordo com minha vida vai se desenhando. 


Segundo a sua experiência: Qual é o melhor horário para escrever?
Prefiro a noite, mas  escrevo com meu corpo inteiro, eu sinto pensando, e penso sentindo, e  escrevo nessa toada, quando sinto algo, o defino ou que sinto, dai vem   uma ideia, a escrita ocorre, e vem a inspiração, e dia escrevo, Todavia isso não quer dizer que não haja trabalho, depois que você pare a  ideia, você tem que lapidar, tem que educa-la,  e  essa e ‘a parte do fazer  e refazer, do cortar,  e do compor e recompor, assim eu não tenho um horário especifico, sem bem que acabo escrevendo muito  a noite, mas isso é por falta de escolha, se na parte da manha não estivesse em sala de aula, estaria escrevendo. 

Na sua opinião é possível dissociar as vivências pessoais do processo criativo? Ou o autor está sempre revelando o seu mundo interior nas suas obras?
Quanto isso minha resposta é simples, sim, e ‘assim que entendo o fazer poético de um escritor, o único material que temos é olhar sobre o mundo e sobre si, e há que o olhar sobre o mundo esta filtrado pelo olhar sobre si, sim, todo escrito é sempre, em algum grau, biografia. Claro, você  pode ler Machado e discordar radicalmente, pode ler Rosa e dizer que você não o vê em Grandes Sertões, contudo, há , se autor não surge biograficamente na semântica, no significado, ele surge no significante ,  na linguagem, não se pode negar que Machado esta ao lado e Bentinho, em sua linguagem, assim como Diadorim, exala o Rosa, em seu construto linguístico, sim, em última analise, o ato de escrever é biográfico. 

Fale de seus planos para 2018.
Tem coisa nova vindo ai,  sim, agora em novembro estarei participando de uma coletânea de poetas com dez poemas meus, como uma galera lã do Rio de Janeiro. Em breve estarei divulgando. No não que vem meu primeiro Livro infantil cera lançado pela editora Viseu, vê tenho projetos de lançar um livro solo e outro com Silas Correa leite, nome do livro será Dose Dupla, praticamente já este escrito e se encontra em fase e revisão. Por enquanto esses soa gatilhos para 2018, que será uma no do balaco baco aqui no Brasil, vamos ver o que rola, ando otimista do ponto de vista pessoal. 

Entrevista realizada por Isabel Furini

Comentários