Eloir Jr: IRMÃOS ITIBERÊ DA CUNHA Diplomacia, Sacerdócio e “A Sertaneja”.



Paranaguá, que em tupi-guarani se traduz em “Grande Mar Redondo”, é o berço da civilização paranaense. Um município histórico e turístico, e também o mais antigo do Estado do Paraná.
Essa cidade litorânea é a gênese de grandes artistas, intelectuais e pensadores de época, que colaboraram para o crescimento da “Terra de Guairacá”.

Ali, nesta baía, fronte as águas do atlântico sul, se estabeleceu a família de Maria Lourenço Munhoz da Cunha e João Manuel da Cunha, cujo, acrescentou “Itiberê” ao nome de seus filhos em função da paixão que tinha por Paranaguá. Itiberê (sentinela da serra) batiza nome do rio que banha as margens dos centenários casarios parnanguaras.

O que hoje conhecemos como a casa da Cultura de Paranaguá, há quase 170 anos atrás recebia o nascimento dos irmãos Brasílio Itiberê da Cunha (1846-1913) e Celso Itiberê da Cunha (1849-1930).

A música, musa das artes e a primeira das sete, crescia ali, junto com a diplomacia de Cunha e regozijava-se ao sacerdócio de seu irmão, o Monsenhor Celso.

Sim, Paranaguá teve inúmeros filhos ilustres, o que rendeu a Brasílio, um convite da Princesa Isabel para ser diplomata do Império, tornando-o embaixador do Brasil e ao mesmo tempo sendo contemporâneo de Franz Lizt e Carlos Gomes.

De características nacionalistas e com a necessidade empírica de incorporar canções populares e do folclore tropeiro, como “Balaio, Meu Bem, Balaio”, Itiberê ainda estudante, cria “A Sertaneja”, uma peça de pouco mais de seis minutos, tornando-o pioneiro, visionário e garantindo seu verdadeiro lugar na história musical do país, enquanto que todos os outros ainda compunham ao estilo europeu. Foi reconhecido pelos musicólogos em 1930, como Pai da música brasileira.

Pianista de alto nível sofreu influência de compositores como Chopin e Franz Liszt, este último, amigo do paranaense. Mas é provável que a convivência intelectual com colegas de faculdade como Ruy Barbosa, Castro Alves e Rodrigues Alves, e o próprio contato com idéias nacionalistas tenham moldado a influência musical de Itiberê.

Em contrapartida, a casa da família Cunha se contemplava com a benção do Monsenhor Celso (Celso Itiberê da Cunha), que recebera o título eclesiástico de honra conferido aos sacerdotes da Igreja Católica pelo Papa. Monsenhor, foi padre e exerceu sua função deixando marcas de bondade e caridade nas cidades por onde passou, sempre abriu mão de cargos importantes para poder ficar próximo de sua família. Um verdadeiro sacerdote, que dignificou sua terra e todo o Paraná.

Paranaguá presta várias homenagens aos seus nobres filhos. Em 17 de setembro de 1945 foi inaugurada a Casa “Monsenhor Celso” a antiga residência da família, que a partir daquele dia passou a ser de responsabilidade do poder público. Na ocasião foi erguido o busto do Monsenhor na Praça Fernando Amaro, que permanece no local até os dias de hoje, mantendo viva a memória daquele que tanto honrou o sacerdócio e destacou o nome da sua terra natal.

Assim, as paredes desta antiga propriedade contam a história da cidade e perpetuam Paranaguá com a Casa da Cultura “Monsenhor Celso”, ali no largo de mesmo nome e que tem geminada a Casa da Música Brasílio Itiberê, ambas no centro histórico, defronte a matriz.

Em Curitiba os irmãos são referências em nomes de Ruas, Centros Culturais, Auditórios entre outros importantes espaços.

Reinvente Paranaguá, visite os casarios nos passos do “Fandango do Litoral” (dança típica) aprecie a culinária que oferece o barreado, jóia de nossa gastronomia, receba as bênçãos do Monsenhor e não deixe de ouvir “A Sertaneja” (https://youtu.be/BaslJMaMXkA), afinal são quase quatrocentos anos de cultura a beira mar e identidade paranaense.

Eloir Jr.


Eloir Jr. é artista Plástico curitibano, pós-graduado pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná e graduado pela Universidade Tuiuti do Paraná, colunista cultural do Sztuka Kuritiba, curador e professor de arte. Há 20 anos é estudioso das etnias europeias no Estado do Paraná, com enfoque principal na cultura eslava da Polônia e Ucrânia, onde expressa seus trabalhos em harmonia com ícones paranistas; araucárias, pinhões e gralha azul

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