Helio Puglielli: A PROVÍNCIA JÁ ERA (BREVÍSSIMO ENFOQUE DO PARANÁ LITERÁRIO)

O CONTEXTO

Não farei referência a “província”. Continuar falando em província numa época de globalização cultural pela internet é ridículo. Falar da literatura do Paraná é falar de uma literatura como a do eixo Rio-S.Paulo, como a do Rio Grande do Sul ou a de Minas Gerais. Só se justificava falar em província ao tempo das comunicações difíceis e das livrarias precárias, que impossibilitavam o desenvolvimento de talentos, enclausurados num ambiente geográfico e cultural hermético, padecendo de falta de estímulos. Mesmo antes da internet, Dalton Trevisan e sua revista “Joaquim” já haviam arejado o clima literário curitibano, ainda que às custas de uma cruel e provavelmente injusta desmistificação do poeta Emiliano Perneta e do escultor João Turin.

Já na década de 90, quando a internet começava a se generalizar aqui, papel semelhante foi desempenhado por Wilson Bueno e o jornal “Nicolau”, da Secretaria estadual da Cultura. Neste século, já com a blogosfera e as redes sociais em expansão, a “ponte” entre Paraná e Brasil vem sendo feita pelo jornal “Rascunho”.

Quem tiver “complexo de província” que se candidate à psicanálise.


AS VERTENTES

As letras contemporâneas paranaenses, no meu ângulo de visão, podem ser divididas em quatro segmentos: um tradicional, mais ligado às academias e sodalícios; outro mais ou menos popular, algumas vezes ligado a manifestações poéticas ao ar livre, na feira dos domingos; outro composto por graduados e pós-graduados em letras, aos quais se somam os formados em oficinas literárias; e um quarto, composto pelos “franco-atiradores” boêmios e notívagos, frequentadores dos bares, sob a égide de musas etílicas.

Esses quatros grupos produzem literatura que, de certa forma, é moldada por suas circunstâncias existenciais: há os mais formais, chegados à literatura “sorriso da sociedade”; os de textos mais ao gosto popular, algumas vezes performáticos; os elaboradores de construções linguísticas e artifícios da palavra, dentro dos cânones da pós-modernidade e, finalmente, os “gênios da madrugada”, da literatura escarninha e não raro demolidora dos valores costumeiramente estabelecidos.


O TODO

Estes quatros grupos de escritores e as quatro categorias em que se dividem não constituem compartimentos estanques. Há os que podem ser vistos como pertencentes a mais de um grupo ou transitando entre eles. Há os que, conjunturalmente, podem produzir em flagrante distonia com os padrões do grupo em que melhor ou habitualmente poderiam ser enquadrados. Distingui-los é função do leitor. Acima de tudo, obviamente, fica a avaliação qualitativa. Textos de qualidade podem ser feitos no interior das academias, em praça pública ou na passagem subterrânea da Nestor de Castro, nos intervalos da redação de uma tese de mestrado ou nas mesas dos bares. Em Curitiba e outras cidades do Paraná, em quaisquer desses grupos e gêneros, há bons valores, além dos nomes de dimensão nacional, como Dalton Trevisan, Cristóvão Tezza, Domingos Pellegrini e outros mais.

A província já era.

Helio de Freitas Puglielli


Hélio de Freitas Puglielli  então estudante universitário, recebeu, em 1960, o Prêmio Bernardo Sayão, de crítica, no Concurso Nacional de Literatura promovido pelo MEC/CAPES e revista "O Cruzeiro". Publicou contos e poesias em coletâneas e, na década de 90 enfeixou em livro artigos literários publicados na "Gazeta do Povo" e outros jornais: "Para Compreender o Paraná", editado pela Secretaria estadual da Cultura. Também pela Secretaria, com o estímulo de Regina Benitez", foi publicado o poema "O Ser de Parmênides Chama-se Brahma", ambos na gestão de René Dotti. Dirigiu o Teatro Guaíra (1971/73) e o Setor de Ciência Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná (1980/83).

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