ELOIR JR.: Didi Caillet - A Vênus Curitibana e Hostess Paranista

Didi nasceu Marie Delphine Caillet (1907-1982), no berço da aristocracia ervateira curitibana, filha de mãe italiana e pai francês, era moça de fino trato, bem educada, falava vários idiomas, tinha talentos artísticos e muito politizada.

Enquanto as moças de uma Curitiba Art déco se preocupavam em prover boas famílias, Didi, a bela jovem então com 19 anos largou seu noivo e foi para o Rio de Janeiro com o passaporte da beleza paranaense para disputar o primeiro concurso de Rainha da Beleza Brasileira.

“É a Paraná! É a Paraná! É a Paraná!”. Era o que se ouvia do histérico coro com mais de 40 mil pessoas que lotaram o estádio das Laranjeiras (sede do Fluminense), em terras cariocas, para a grande final do primeiro concurso Miss Brasil, em 1929.


A Miss Paraná em questão era Marie Delphine Caillet, carinhosamente conhecida como “Didi Caillet", que, apesar de ser a menina dos olhos dos jornalistas e do público, acabou com a faixa de segundo lugar, como conta o livro Didi Caillet – A Musa dos Paranistas, organizada pelo psicanalista, fotógrafo e professor aposentado da UFPR Paulo Koehler.

Eleita “Miss Inteligência” pelos diários fluminenses, os dois meses em terras cariocas, se tornaram três anos de performance e desenvoltura cultural, saraus poéticos e entrevistas.  Tão bela, intelectualizada e dona de uma simpatia simbiótica, Didi agregava uma legião de fãs por onde passava, tornando-se em termos contemporâneos uma “Hostess do Paraná”, pois não só divulgou a cultura da terra das araucárias, como também contribuiu para o reconhecimento da mesma como um Estado emergente da União e não mais como uma extensão de São Paulo.

Divulgava imagens, produtos e a cultura arraigada por imigrantes europeus, assim como o ciclo aristocrático da riqueza dos produtos gerados pela erva mate.

De volta a capital dos Pinheirais, Didi foi recebida com banda, festa e mais de trinta mil pessoas que se amontoaram na atual Praça Eufrásio Correia, em frente à estação Ferroviária para recebê-la, o que valeu um filme na época.

Em Curitiba, Didi era a personalidade ideal para promover artigos de luxo, fossem carros, perfumes ou tecidos finos e sabia alimentar sua imagem na mídia, tornando-se atemporal, participava de eventos da alta-sociedade ou lançando argumentos sobre assuntos polêmicos, como o voto feminino. Na moda, também teve papel significativo, vestia-se à francesa e o cumprimento médio de seu cabelo serviu de modelo para muitas jovens.

Além de frequentar rodas de conversas masculinas sobre política e economia, a “Miss Inteligência” destacava-se por desfilar pelos logradouros em sua “baratinha”, um carro importado da Nash que havia ganhado de seu pai, numa época em que era incomum mulheres dirigirem, tornando-se a primeira paranaense a dirigir um automóvel.

Diva de muitos dotes artísticos lançou-se a literatura, sendo também a primeira dama a gravar pela Odeon, um disco de poesias no Brasil e ao mesmo tempo não se tem registros de quantas músicas foram compostas em sua homenagem.

Sua solteirice foi uma elegante crônica de semana modernista aos passos de um belo Fox trote, que se finda com seu primeiro matrimônio em 1933 em que a garota propaganda do Leite de Rosas se une a Luíz Abreu de Leão.

Viúva de Luís Leão, a Sra. Miss Paraná casa-se em 1953 com o banqueiro e empresário José Gonçalves de Sá e reside por 22 anos na capital fluminense, retornando a sua terra natal quando seu segundo marido faleceu.  Já em Curitiba, passou seus últimos anos e escreveu três livros.

No Centro Cívico da capital, a antiga praça da nogueira, ali, onde a Rua Heitor Stockler de França cruza com a Barão de Antonina, é rebatizada em 1995 com o nome Didi Caillet e recebe a escultura “Vênus Curitibana” da artista Maria Inês Di Bella e continua sob a sombra da intocável nogueira relembrando a grandeza desta ilustre filha paranaense.

“No meu caminho eu só quero e só vejo flores, pássaros, estrelas, alegria e risos… Eu sou assim!…” (Trecho do livro Eu Sou Assim, escrito por Didi Caillet em 1981).

Eloir Jr.


Eloir Jr. é artista Plástico curitibano, pós-graduado pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná e graduado pela Universidade Tuiuti do Paraná, colunista cultural do Sztuka Kuritiba, curador e professor de arte. Há 20 anos é estudioso das etnias europeias no Estado do Paraná, com enfoque principal na cultura eslava da Polônia e Ucrânia, onde expressa seus trabalhos em harmonia com ícones paranistas; araucárias, pinhões e gralha azul.


Comentários

  1. Que delicia de cronica, Eloir Amaro Junior, adorei a história da Miss Paraná do primeiro concurso de Miss Brasil, em 1929!
    Saudações cariocas, deste Rio de Janeiro, cenário de tanta proeza,
    Sonia Madruga

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  2. "Vênus Curitibana" - Muito boa a sua matéria sobre a "garota propaganda do Leite de Rosas"! Não conhecia a história dessa beleza paranaense, mulher de tantos atributos e à frente do seu tempo!
    Mirna Fracalossi

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  3. ELOIR: ADOREI SEU COMENTÁRIO. VOCÊ FEZ MUITO BEM EM PRESERVAR ESTA PÉROLA DA CULTURA PARANAENSE. PARABÉNS

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  4. Parece ter sido uma oessoa sensacional, a frente de sua época.

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