Isabel Furini: Da fama ao álcool, do álcool à fama - autobiografia de Chavela Vargas

Você não acha estranho as voltas que dá a estrada da vida? Aqueles que gostam de cinema e lembram dos anos 80, guardam a imagem de Macaulay Culkin no filme Esqueceram de mim. Macaulay era uma criança linda, sadia, inteligente, e ainda ator triunfante. Um verdadeiro ídolo para as crianças. Cadê o triunfante? Converteu-se nesse jovem flagrado magro e doente pelos paparazzi.

Um fato que, ao contrário, proporciona alegria é a tranquila morte da cantora Chavela Vargas, acontecida em 05 de agosto de 2012, aos 93 anos, de pneumonia. Tudo bem, sabemos que o ciclo de vida na Terra é nascer, crescer, reproduzir-se e morrer, o que impressiona é a leveza da morte da cantora.

Lemos nos jornais o comentário de seu Nuñez, seu médico: "Ela estava muito consciente até o último momento, expressou seu amor pelo México e disse que leva as melhores lembranças e os aplausos de seu público".



No ano 2002, a cantora e atriz Chavela Vargas publicou sua autobiografia intitulada Y si quieres saber de mi pasado. E em dezembro de 2009, em coautoria com María Cortina, lançou o livro Las verdades de Chavela, estruturado como entrevista, a obra narra os acontecimentos mais significativos da vida de Chavela Vargas.



A vida dessa mulher não foi fácil. Nasceu em Costa Rica, seu nome era Isabel Vargas Lizano (o apelido de Isabel é Chavela no México e outros países de Centro América). Emigrou para  México com 15 anos de idade. Apaixonou-se por esse país.  Foi cozinheira, motorista, costureira e vendedora de roupa. Iniciou a carreira de cantora aos 32 anos. Foi amiga da famosa artista plástica Frida Kahlo (alguns acham que eram amantes).


No livro "Las Verdades de Chavela", ela fala de sua depressão ao começo dos anos 70, quando se torna alcoólatra. Sua vida foi vertiginosa. Criticada, difamada e esquecida, nunca perdeu a esperança e foi redescoberta em 1992, pelo grande cineasta espanhol, Pedro Almodóvar. Foi ele quem a resgatou do esquecimento com quase 80 anos, levando-a ao cinema. Seu reencontro com sua voz, e seu público foi como uma segunda vida para Chavela. Nesse livro fala também do sucesso na Espanha da mão de Manuel Arroyo e Pedro Almodóvar. Ela foi capaz de renovar-se de encantar o público.
Chavela Vargas escreveu a letra de Maria Tepozteca. Vejamos o início:

*Maria Tepozteca

Tepozteca linda, de pezón erecto, de zapote prieto.
Ojos de obsidiana, te parió tu madre Tepalcate eterno.

Luna Tepozteca, te pintó tu cuerpo con deseos nuevos;
y en las madrugadas te mojas los muslos con el agua mansa de tus arroyuelos.

(...)
Letra de Chavela Vargas (Isabel Vargas Lizano)


Depois de essas idas e voltas, subidas e descidas, Chavela Vargas deixou o mundo de alma limpa, sem rancores. Levou a imagem de suas apresentações, do sucesso e do aplauso de seu público.

Seu falecimento aconteceu em 2012, e eu não escrevi nada nesse ano. Mas se tivesse que escrever um epitáfio para Chavela Vargas, escreveria: Da fama ao álcool, do álcool à fama - viveu intensamente e morreu em paz.

Diferente da maioria das pessoas que escrevem nas Redes Sociais, onde estão sempre bonitos, e aparecem como nobres, maravilhosos e com vidas perfeitas; a honestidade de Chavela Vargas merece aplausos. Por isso, com este texto quero registrar minha admiração. Aplausos para Chavela Vargas!


*Letra completa da canção Maria Maria Tepozteca no site:

Comentários

  1. Isabel me entusiasma a forma como você se reinventa. Parabéns bom natal e ano novo prospero e com muita saúde para você e os teus.
    Sonia Cardoso

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, querida Sonia. Muito obrigada pelo comentário. Um ótimo Natal para você também e um maravilhoso 2016.

      Excluir

Postar um comentário