MARTHA MEDEIROS - Entrevistada por Isabel Furini

Martha Medeiros é uma das escritoras mais reconhecidas do Brasil, formada em Comunicação Social e autora de livros de sucesso. Sua paixão é a palavra escrita. Martha é autora de 24 livros, entre eles Divã (adaptado para cinema e teatro), Doidas e Santas, Feliz por Nada e Um lugar na Janela. Seu lançamento mais recente é a coletânea de crônicas Simples Assim. É colunista dos jornais Zero Hora e O Globo, além de colaborar para outras publicações.

Martha, agradecemos a sua receptividade para esta entrevista. Em primeiro lugar gostaríamos de saber como foi o seu início como escritora. 

Foi tudo muito circunstancial, eu era uma redatora publicitária que escrevia poemas nas horas vagas. Em 1985, mandei alguns versos para um editor de São Paulo e acabei lançando meu primeiro livro, Strip-Tease. Passei alguns anos publicando poesia até que comecei a escrever colunas para jornais e me tornei cronista. Não imaginava que iria dar tão certo, até que chegou o dia em que desisti da publicidade e resolvi me dedicar full time à literatura, e aqui estou hoje, ainda meio incrédula com a carreira construída.


Você escreve crônicas, contos, poemas, textos infantis, textos para jornais, mas se fosse preciso escolher só um gênero literário... qual você escolheria? 

Eu optaria pela ficção, que é mais desafiadora pra mim. Adoraria ser uma grande romancista. Acho que nunca serei, me falta a técnica, mas vou morrer tentando (rsrsrs).

Martha, tendo conquistado leitores de todas as categorias sociais e culturais, você se considera uma autora mais amada pelo povo ou mais amada pela “sagrada casta” dos intelectuais? 

Pelos leitores. Sei disso porque viajo pelo Brasil inteiro e o carinho que recebo é comovente. Sou respeitada pelos colegas também, nunca me senti depreciada, mas é inegável que os leitores demonstram com mais espontaneidade a sua alegria em me ler, e não posso imaginar nada mais gratificante do que isso.



Quais são os escritores que mais influenciaram seu estilo literário? 

Tudo que li na adolescência ajudou a me formar, creio eu. Destacaria Luis Fernando Verissimo, Mario Quintana, Fausto Wolff, Marina Colasanti, Paulo Leminsky, Caio Fernando Abreu... Não que minha literatura se assemelhe a deles, mas foram autores que me ajudaram a encontrar minha identidade pessoal, e essa identidade é transportada para tudo o que eu escrevo. Hoje sou grande admiradora de Cristovão Tezza, Daniel Galera, Fabricio Carpinejar e muitos outros escritores – impossível citar todos. E olha que só estou falando de brasileiros. Há outros tantos estrangeiros que foram fundamentais também.



O escritor colombiano García Márquez precisava ver uma flor amarela sobre a escrivaninha para incentivar sua criatividade. Outros escritores só produzem no horário da manhã, como Hemingway, ou no horário noturno. E ouvimos falar de autores que precisam de artifícios como um cigarro, um cachimbo, tomar um café ou um copo de vinho. Você segue algum método? Tem alguma pequena mania para começar a escrever?

Não sigo nenhum ritual, mas não gosto de ouvir música durante a escrita, ela me distrai, preciso do silêncio. E só escrevo no meu escritório em casa, nunca durante viagens e em quartos de hotel. Fora de casa, o máximo que faço são anotações. Escrever mesmo, pra valer, só no meu canto, em Porto Alegre. Estando na cidade, escrevo todos os dias, absolutamente todos, nem que seja um pouquinho só. Pra azeitar a máquina, senão enferruja.


Martha, suas crônicas se caracterizam pela fluência, dinamismo, humor e agudeza de visão. Você sabe colocar o dedo nas feridas da sociedade e dos seres humanos com muita elegância. Como faz para encontrar assuntos interessantes para suas crônicas?

Estou sempre com o radar ligado. A ideia surge de onde menos se espera. Anteontem deixei o carro na oficina e passei 24 horas a pé, e isso rendeu uma coluna. O assunto surge através dessas trivialidades, e também de papos com amigos, de livros que leio, filmes, viagens. Ou puxo de dentro da alma. São 20 anos escrevendo colunas, admito que tem sido difícil manter o padrão – mas continuarei insistindo.


Está começando um novo ano. Quais são seus plano profissionais para 2016?

Diversificação. Além das crônicas, me sinto empolgada para fazer coisas que nunca fiz. Escrever roteiro de cinema, peça de teatro, talvez um programa de tevê. Me vejo a beira do trampolim novamente, pronta para novos mergulhos. 

Muito obrigada pela receptividade, Martha Medeiros. Sucesso!




Comentários

  1. Estou agradavelmente surpreendida com o alto nível das entrevistas, das matérias em geral, das telas com que Carlos Zemek engalana este numero da Carloz ZEMEK ARTE E CULTURA. Confesso que ao tomar conhecimento hoje de sua publicação ainda não consegui percorrer todo o agradável caminho saturado de cultura, de arte e do meu infinito prazer em desfrutá-los. Faço isto aos poucos, como alguém que degusta devagar uma fruta muito saborosa... Muito sucesso. Honra-me estar inserida em suas páginas com a minha poesia!

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  2. Excelente entrevista. Martha Medeiros é um caso raro: é talentosa tanto na prosa quanto na poesia.

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