Lucas Alvim: Led - e outras poesias



Fotografia de Faisal Iskandar


Led

“Quidquid luce fuit, tenebris agit.“

Deixe me esparzi refletindo
a sombra do chumbo
o colar de nuvens pratas
o meu peito de lã
no bronze sol da terra morena
em que se põe o leite
diluído nas piscinas desumanas.
Até ficar sem óleo dos olhos
a máquina voadora da noite
erguida pipa na linha
que se arranca de pintas de sangue
para a solidão de uma geladeira.

Agora só há minha bobina.
Meu vidro oco em queda.
Céu de quarto fechado
e piso de Lete suburbano.

Entre o indicador
e o polegar.
Entre a cabeça
e o sapato,
as árvores e as cigarras.
Girar do tambor do revolver
sob a sombra do céu de gaveta.

Fotografia de Isabel Furini


A maré, alto mar
sai da garrafa.
Que passo de costas
onde a areia se molha.

A luz escorre entre as asas
de besouros dissecados,
a luz não se pega.

Na maçaneta
a bolha da superfície
olha por suas lupas sem sexo.
O botão de um controle remoto
veste a luva de um café frio.
Tudo tocado com essas galhas mãos.
Por me esparzi.
De toda luz e seus relógios:
religiosos velocímetros

Lucas Alvim



Faculdade

Sai mais cedo com minha testa de couro,
eram 14 horas à borbulha solar
andava pacato e arvoredo
socavando entre as aquarelas cítricas da cidade,
meio dormentes e dispersas por inteiras,
suas insônias famintas nos pulsos
a procura de folhas verdes para cortar.

Aquele pedinte de novo.

Andei, velha esquina,
os carros morcegos
passavam com seus olhos vidrados
estavam hipnotizados
feitos insetos
refletindo os transeuntes retos
sem jamais dizer seus destinos.

Já eu, murmurava,
um gargarejo de asas de insetos,
um canto de minha rouquidão
isqueiro guardado
sobrevoando sem algum consentimento
das vívidas rochas de óculos escuros.

Bocejo, devo estar cansado,
as janelas já não mais olham para mim
com sua lingerie de madeira ou ferro pintados.

Falta-me seguir, para casa, derrotado,
com rastros nas palmas
de um pano sujo jogado,
que se limpou de dia, seus pecados
para estar cheiroso o suficiente aos lençóis.

Chego então, a mais profunda rispidez,
de minhas paredes azuis secas.
Meu liquido estava ralo,
minhas crinas faciais sobressaiam da superfície.
Havia algum alvejante neste coral
nesta noite que pipoqueia lumens
em meus olhos dedos.

Olho para cima
de dentro de minhas faculdades,
o cansaço pisa seu calcanhar,
enquanto a lua permanece feia
com seu grande maxilar,
não me dando nenhum final
a não ser um teto de veias estouradas
debaixo de suas botas
dentro dos limites de minha consistência.

Lucas Alvim



Gota

Levante a tampa
balde de tinta vazia
veja meu corpo
músculo ao orvalho
de um sol remelento
vibro, ovo de víbora,
para me ascender
esparramado
aos relâmpagos escuros
na pia de minha vã filosofia
e labirinto profético,
enquanto ainda
amanteigo com couro
esta cidade que se cala
para mastigar,
em seu horário de almoço
dente após dente
circundado para
o engolir da foz
explorando seu intestino
empírico, overdose,
espontâneo,
diminuto até tocar
sem pés
a bolha de seu DNA
que deu no dedão
do pé de seu poste
por estar encurralado
a onipresença dos corpo
inquilinos de uma dona de casa,
para adentrarem nela
Terra e nada menos.

Lucas Alvim




Lucas Alvim, nascido em oito de abril de 1990 em Areado-MG, é um típico e pacato mineiro fã de Rock Progressivo que escreve poemas. Publicou Maço de Março em 2013, finalista no Prêmio Gloria de Sant’ana 2014, e em 2014 publicou Exergia, segundo lugar no Prêmio LiteraCidade jovem 2014 categoria poesia, ambos pela Editora LiteraCidade. Também possui participação em Antologias. E foi menção honrosa com o Livro das Evaporações no Prêmio LiteraCidade 2015, categoria poesia. Em 2016 lançou Contorcionismos pela Penalux.









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