Eloir Jr.: A Arte Sacra de ANTONIO PETREK



Antonio Petrek (1929-2011), paranaense de Rio Azul, era filho de pai ucraniano e mãe descendente de ucranianos, iniciou seus trabalhos artísticos aos 14 anos e viveu boa parte de sua juventude entre andaimes nas igrejas eslavas do centro sul do Paraná, tendo efetuado também trabalhos sacros no Estado de Santa Catarina.

Sua história de vida nos conta que desde criança havia o interesse por pinturas, mas foi aos 14 anos que Petrek conheceu João Kuroski, um mestre da pintura formado nas Belas Artes da Rússia, que chegou a Rio Azul no Paraná, fugindo da revolução bolchevique de 1917. O artista então acompanhou Kuroski, com quem aprendeu a desenvolver seu dom, e a primeira igreja que o ajudou a pintar foi em Marumbi dos Elias.  Kuroski era admirado por Petrek, fora ele quem iniciou o então menino de 14 anos, nas habilidades dos pincéis e na alquimia das cores.

Ainda na adolescência e juventude, Petrek tinha o hábito de freqüentar o antigo cinema de sua cidade e a plataforma da RFFSA, uma espécie de ponto de encontro, onde num vagão especial, alimentava seu ávido sabor para leitura fazendo compras de revistas, gibis e jornais, tendo como seu livro preferido “O Conde de Monte Cristo”, de Alexandre Dumas.  Petrek era assim, assim, um leitor, se não inveterado, eventual, por interesse, como também por necessidade. Quanto aos livros religiosos, em especial uma Bíblia em língua ucraniana.
Até a chegada do ápice em sua carreira como artista sacro, Petrek trabalhou como pintor de paredes internas e pequenas reformas em residências de famílias ucranianas e polonesas, pinturas estas com motivos de cenas bíblicas, estampas e bordados multicoloridos.
Pintou também algumas telas ao mesmo tempo em que residia nas comunidades. Foram poucas as encomendas, sem um número preciso, mas a única que se tem notícia e que foi assinada por Petrek é de propriedade de Teobaldo Mesquita, com motivo da cena da Ultima Ceia. Como artista receoso, negava-se a assinar seus trabalhos.


Antonio Petrek em sua juventude.
Fotografia: Acervo famíliar


Depois de assimilar conhecimentos pictóricos com João Kuroski, o artista foi desenvolvendo técnicas próprias e começou a trabalhar sozinho, fazendo telas e pintando cartazes para o antigo cinema de Rio Azul. Recebeu vários convites para pintar em diversos locais do país, porém como estava envolvido em outros trabalhos não conseguiu realizar nenhum desses pedidos.
Detalhista em suas obras e com hábito notívago, Antonio Petrek era solitário, introspectivo e dono de uma personalidade forte e fazia questão absoluta de deixar tudo muito bem acabado.
Como um mestre alquímico, Antonio tinha como peculiaridade a produção de seu próprio material de pintura e arremate de suas obras. Utilizava o leite fervido com zinco puro para que a finalização ficasse perfeita e uma espécie de planta nativa com pigmentos, e também o alvaiade, um derivado do chumbo, que se potencializava em um cozimento artístico.  Mas a maioria de suas obras tinham como último plano, pinceladas em tintas a óleo.

Marca das tintas com mistura de couro de vacum fervido, e ainda leite sobre as paredes 
da Capela  da Cachoeira dos Paulistas.
Fotografia: Acervo Municipal de Rio Azul



A Capela Senhor Bom Jesus, localizada na comunidade da Cachoeira dos Paulistas, a 7 km do centro de Rio Azul, foi fundada em 1958, com a colaboração das famílias dos descendentes de poloneses e ucranianos que moravam na comunidade e doaram madeira, participando da construção da igreja. Hoje, é considerada pela prefeitura como um ponto turístico de Rio Azul.

    Interior da igreja de Cachoeira dos Paulistas em Rio Azul Pr.
                               Fotografia: Acervo do Município


As pinturas internas da capela, realizadas em 1966 por Antonio Petrek, mantêm até hoje o brilho sem precisarem de retoques. A igreja da Cachoeira é uma capela de madeira, que tem pinturas famosas da Itália, da época do Renascimento, como por exemplo, da Sagrada Família, Anjos e São José Marceneiro, que foram reproduzidas em tamanho grande, nas paredes e no teto da igreja.

Interior da igreja de Cachoeira dos Paulistas em Rio Azul Pr.
Fotografia: Acervo do Município



No auge de seu dom, produziu o que mais impressiona que são seus trabalhos nas Igrejas Ucranianas de Mallet e Paulo Frontin no Paraná.



Interior da Igreja de São João Batista em Paulo Frontin-PR
Fotografia: Acervo do Município


Cúpula da Igreja ucraniana de Mallet-PR
Fotografia: Acervo do Município


O ultimo trabalho de Petrek em 2008 foi na Igreja Sta Terezinha, do Rito Ucraniano de Rio Azul. 
Debilitado não pode terminar. Algumas pinturas foram acabadas pela artista Madalena Ianoski.
Fotografia: Acervo Familiar

O artista sorumbático que teve a pintura por vocação, fez da mesma, sua manifestação da fé em Deus, passando as noites entre pincéis e tintas, criando obras que se encaixavam em diversas tendências, como arte cristã e bizantina, e também estilo barroco, essencialmente pela grande quantidade de cores.

Para ele, não eram necessárias grandes quantias como pagamento, mas sim, somente um teto para morar enquanto durasse o trabalho, comida e um pouco de dinheiro. Não formou uma família, tampouco teve filhos. Terminava um trabalho e seguia em direção a outra localidade.

“Ao longo dos anos, o pintor foi tema de muitas reportagens em toda a região. Além disso, foi tema do extinto programa de televisão “Bicho do Paraná”, transmitido pela Rede Globo e que mostrava as personalidades paranaenses. Por duas vezes as igrejas pintadas por Petrek foram ao ar no quadro “Me Leva Brasil”, apresentado por Maurício Kubrusly, no Fantástico.
Em 2008, Petrek recebeu o título de Cidadão Benemérito de Rio Azul e era patrono da cadeira número 17 da Academia de Letras, Artes e Ciências do Centro-Sul do Paraná (Alacs).
Sua última entrevista ao Jornal Hoje Centro Sul foi concedida em dezembro de 2010, quando o Projeto “Revelando os Brasis” escolheu sua história para virar tema de um filme curta-metragem. Na ocasião, Petrek estava no Lar dos Velhinhos em Rio Azul e afirmou que voltaria a pintar, pois muitas telas ainda estavam inacabadas. “Ainda confessou que o segredo da sua arte é a emoção”.

Fonte: http://noticiascentrosul.blogspot.com.br/2011/02/para-nos-fica-o-legado-do-pintor.html

Lançado em junho de 2011, com roteiro e direção de Regina Pegoraro, o curta metragem “Dom de Deus”, retrata a vida e obra do pintor paranaense Antonio Petrek e a Igreja de Cachoeira dos Paulistas, baseado em um texto da diretora. “O curta procura mostrar, mesmo no trato com as tintas e pincéis, a personalidade taciturna, deste que é até hoje, o maior artista plástico de Rio Azul”, comenta Pegoraro.

O importante conjunto de obras sacras de Antonio Petrek forma um sítio de patrimônio histórico, cultural, religioso e étnico eslavo no Estado do Paraná, clamemos pelo seu tombamento e sejamos nós os guardiões dessa beleza ímpar, uma jóia da terra dos Pinheirais.


VÍDEOS:
Meu Paraná - Antônio Petrek um artista iluminado (parte 1)
https://youtu.be/gWuCwnE5x0Q

Meu Paraná - Antônio Petrek um artista iluminado (parte 2)
https://youtu.be/oEzdvmNzs3w

Curta Metragem ”Dom de Deus” de Regina Pegoraro.
https://youtu.be/WKDBA0-9nGw

Texto e fotografias de Eloir Jr.



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