Neyd Montingelli: Cavalo solto (Conto)



Era um dia normal na Hípica. Tarde quente e ensolarada, vários cavaleiros e amazonas conversam montados nos seus cavalos no paddock, aguardando a hora de entrar na pista para o campeonato.
Cavalos saltando, tratadores ocupados em selar, entregar para o próximo concorrente, aguardar a volta depois da pista, dar banho e acomodar os animais em suas baias.

O corredor dos fundos é comprido com dez baias de cada lado. Dois tratadores tomam conta da maioria dos cavalos daquele setor e o trabalho é grande.

Stela foi a terceira a saltar e fez questão de levar o seu cavalo até lá. Quando abriu a portinhola da baia seu enorme garanhão ficou nervoso e não queria entrar.

- O que foi Toufic? Por que não quer entrar?

O cavalo fica agitado e funga. A moça pequena e delicada tem dificuldade em contê-lo. Stela não sabe o que o cavalo está vendo vai olhar dentro da baia:  “será que tem algum gato aí?”.
Levou o maior susto!

Dentro da baia estavam três cavalos calmamente deliciando-se com o feno fresquinho que o tratador havia abastecido o coxo do Toufic.

Stela tratou de fechar a portinhola e sair dali, muito brava por sinal. Foi atrás do tratador.  “Como o Alcides fez isso? Por que ele prendeu esses três cavalos na baia do Toufic? Que horror! Ah, mas eu pego o Alcides”. Ela pensava com seus botões, mas na verdade queria gritar com alguém.
Lá estava o Alcides chegando com um cavalo e levou a maior bronca da patroa. Ele também não sabia como aqueles cavalos foram parar lá. Aliás, ninguém sabia. Nenhum dos tratadores foi o responsável pela proeza.

Cavalos nas suas baias, Toufic no seu lugar, assunto esquecido.
No final de semana seguinte outro episódio misterioso.

Rafaella - Modelo Cleveland

Uma das amazonas chega à tarde e encontra cinco cavalos passeando pelo meio do corredor das baias, bem faceiros. Foi o maior sacrifício prender os fujões.Quem abriu a portinhola das baias? E o pior, quem fechou de volta? Porque algumas estavam bem fechadas com o trinco.
Renan, outro cavaleiro que costuma pegar seu cavalo naquele corredor, chamou os amigos no bar da hípica. Estava com o notebook aberto.

- Ei, descobri quem abriu as portinholas e soltou os cavalos! Vejam!

Todos se juntaram em volta do rapaz e depois de ver as imagens da câmera de vigilância do corredor, desatam a rir. Um dos cavalos, um baio pequeno, mas com o pescoço comprido e belos dentes estica a cabeça para fora da janela e abre a sua portinhola. Sai, fecha a sua e depois abre a baia de mais quatro amigos e todos ficam andando pelos corredores.

Sabe-se lá o que iriam aprontar, pois foram pegos pela moça que entra no corredor e chama o tratador.
                                                                Fim



Conto integrante do livro “Cavalos e contos”, premiado em Ouro Preto pela Literarte e Secretaria de Cultura como Melhor Livro de Contos 2015/2016.

Neyd Montingelli nasceu em Curitiba é casada e tem 4 filhas.  Tem Formação em Psicologia, Nutrição e Laticínios.

Comentários

  1. Agradeço à Revista Carlos Zemek pela publicação do meu conto e por divulgar o trabalho dos escritores curitibanos. Seu trabalho é nobre na cultura.

    ResponderExcluir

Postar um comentário