SOBRE O SILÊNCIO
Não diga nada diante do fim.
Toda palavra pode vazar,
Toda palavra será mágoa,
Cada palavra será resto.
Qualquer palavra seca há de afogar-nos,
Toda palavra sobra,
Toda palavra sangra,
Cada palavra ferve.
Não diga nada.
Eu pairo em silêncio e cada palavra será chumbo.
MAIAKOVSKI
Uma vez, entrei no quarto do poeta.
Aqui dormiu um homem, pensei.
Aqui viveu um homem.
Aqui morreu um homem.
Aqui matou-se um homem.
Um grande homem.
“Todos os homens são do mesmo tamanho”,
Me disse, sorrindo, o fantasma do poeta.
É a vida, essa que nos mata?
“É”, ele me respondeu,
“A vida nos mata”.
E ninguém sabe de quem era o dedo no gatilho.
Claudia Barral
NOITE
A poesia há de cantar a noite,
As suas esquinas escuras e frias,
Que guardam o amor e a morte,
Entre outras escuridões.
A poesia é esse mistério necessário
Que nos assusta, que nos encanta.
É também uma promessa de luzes vindouras,
Uma esperança.
A poesia é irmã da noite.
E todo poeta escreve no escuro,
Escreve ouvindo rugido de leões,
Todo poeta tem medo,
Está atormentado,
Todo poeta tem vergonha de si mesmo.
Todo poeta tem a estranha pretensão
De,com sua luz pequena,
Iluminar o mundo.
Claudia Barral
APRENDIZADO
É preciso morrer diariamente
Assim como se dorme, noturnamente.
É preciso cumprir a jornada
Da qual o homem entra e sai sem levar nada.
O tempo é o seu tesouro.
Escolhe bem onde vai deixá-lo:
Um pouco no trânsito da cidade,
Um pouco nos braços de uma mulher,
Um pouco nos bolsos dos amigos.
E se cada minuto fosse uma semente,
Quantas florestas teríamos perdido,através do desperdício?
Não venha com a desculpa de que é preciso ganhar a vida.
Sua vida já está ganha,lhe foi dada,por motivos que nunca saberemos.
Não venha dizer que é preciso ser alguém.
Você já é alguém,acaso não há espelhos na sua casa,na sua alma?
Então olha e vê.
É preciso aprender com a morte rapidamente
Para que se possa viver plenamente o que se passa, enquanto passa.
Claudia Barral
Claudia Barral (Salvador, 1978) é escritora e psicanalista. Atua em diversos campos da produção literária como dramaturga,roteirista e poetisa.Suas peças de teatro contam com montagens no Brasil e em países como Alemanha,Itália,Portugal e Peru, com destaque para O Cego e o Louco (Versão roteirizada para a TV Cultura em 2007), Cordel do Amor sem Fim (Prêmio Funarte 2004) e Hotel Jasmim (Prêmio Feminina Dramaturgia Heleny Guariba, 2014). Publicações em poesia incluem poemas selecionados pela Revista Poesia Sempre (Rio de Janeiro, FBN,2008) e os livros O Coração da Baleia (Ed. P55, 2011) e Primavera em Vão (Ed. Penalux, 2015). Outras publicações incluem O Cego e o Louco e outros textos (Ed. Cidade da Bahia,1998) e Cordel do Amor sem Fim (Ed.Funarte,2003).
Não diga nada diante do fim.
Toda palavra pode vazar,
Toda palavra será mágoa,
Cada palavra será resto.
Qualquer palavra seca há de afogar-nos,
Toda palavra sobra,
Toda palavra sangra,
Cada palavra ferve.
Não diga nada.
Eu pairo em silêncio e cada palavra será chumbo.
Fotografia de Isabel Furini Escultura de exposta no Kirkland Arts Center (Estados Unidos) |
MAIAKOVSKI
Uma vez, entrei no quarto do poeta.
Aqui dormiu um homem, pensei.
Aqui viveu um homem.
Aqui morreu um homem.
Aqui matou-se um homem.
Um grande homem.
“Todos os homens são do mesmo tamanho”,
Me disse, sorrindo, o fantasma do poeta.
É a vida, essa que nos mata?
“É”, ele me respondeu,
“A vida nos mata”.
E ninguém sabe de quem era o dedo no gatilho.
Claudia Barral
NOITE
A poesia há de cantar a noite,
As suas esquinas escuras e frias,
Que guardam o amor e a morte,
Entre outras escuridões.
A poesia é esse mistério necessário
Que nos assusta, que nos encanta.
É também uma promessa de luzes vindouras,
Uma esperança.
A poesia é irmã da noite.
E todo poeta escreve no escuro,
Escreve ouvindo rugido de leões,
Todo poeta tem medo,
Está atormentado,
Todo poeta tem vergonha de si mesmo.
Todo poeta tem a estranha pretensão
De,com sua luz pequena,
Iluminar o mundo.
Claudia Barral
APRENDIZADO
É preciso morrer diariamente
Assim como se dorme, noturnamente.
É preciso cumprir a jornada
Da qual o homem entra e sai sem levar nada.
O tempo é o seu tesouro.
Escolhe bem onde vai deixá-lo:
Um pouco no trânsito da cidade,
Um pouco nos braços de uma mulher,
Um pouco nos bolsos dos amigos.
E se cada minuto fosse uma semente,
Quantas florestas teríamos perdido,através do desperdício?
Fotografia de Isabel Furini |
Sua vida já está ganha,lhe foi dada,por motivos que nunca saberemos.
Não venha dizer que é preciso ser alguém.
Você já é alguém,acaso não há espelhos na sua casa,na sua alma?
Então olha e vê.
É preciso aprender com a morte rapidamente
Para que se possa viver plenamente o que se passa, enquanto passa.
Claudia Barral
Claudia Barral (Salvador, 1978) é escritora e psicanalista. Atua em diversos campos da produção literária como dramaturga,roteirista e poetisa.Suas peças de teatro contam com montagens no Brasil e em países como Alemanha,Itália,Portugal e Peru, com destaque para O Cego e o Louco (Versão roteirizada para a TV Cultura em 2007), Cordel do Amor sem Fim (Prêmio Funarte 2004) e Hotel Jasmim (Prêmio Feminina Dramaturgia Heleny Guariba, 2014). Publicações em poesia incluem poemas selecionados pela Revista Poesia Sempre (Rio de Janeiro, FBN,2008) e os livros O Coração da Baleia (Ed. P55, 2011) e Primavera em Vão (Ed. Penalux, 2015). Outras publicações incluem O Cego e o Louco e outros textos (Ed. Cidade da Bahia,1998) e Cordel do Amor sem Fim (Ed.Funarte,2003).
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