Vera Albuquerque: Desinspiração e outras poesias

Escultura dedicada aos marinheiros e suas famílias - Kirkland - Estados Unidos
Fotografia de Isabel Furini



Desinspiração

Não! Não me ame.
Não me ame por motivos que te fazem achar que me ama.
As razões desse amor não estão em mim.
E também não sei onde estão.

Não me ame. Eu te imploro

NÃO ME AME.

O amor que sente por mim é um fardo, um peso.
Um muro no meu caminho que me faz parar.
Como qualquer amor, não liberta.
Então não me ame. Seremos dois não amados, mas livres.
Eu prefiro...mil vezes eu prefiro.
As rédeas brilhantes do amor cegam a visão,
enganam os caminhantes e nos tiram a inspiração.
Quero minha inspiração. Ela não vem desse amor. Ela vem do caos, 
das noites insones, ela vem da falta de amor...mas quando ela vem ela é plena,
e me completa.

Então não me ame.

Mas se ainda assim me amar, não explique, nem justifique e 
Por deus – não me culpe.
E por favor não me conte. 
Me ame em silêncio. É sublime e lírico...e me deixe ir.
Porque por amor algum eu ficarei refém de nada, além de mim.
E entenda enfim, que esse amor não existe.
O amor só existe em si mesmo.
Mas, se por desatenção ainda assim, quiser me amar,
não ponha as razões da alma,
não ponha as razões do corpo.

Não fale dos motivos de Deus (estes ninguém explica).
Não fale dos motivos meus (não existem).

Se quiser me amar, me ame sem motivos.
Não existem motivos no amor.

Os motivos querem explicação.
O amor ama.

Os motivos não

Vera Albuquerque


Kirkland - Estados Unidos
Fotografia de Isabel Furini




A sangue frio

Quebrar todas as regras,
desacreditar todos os anexins,
viver sem um laivo de mágoa,
porque quem espera desespera,
e eu vivo todos os dias o fim.

A lâmina que seguro pelo fio
me corta a carne, e rio.
Rio, porque o rio em que navego
vai acabar no mar...e me deixo levar e
meu pensamento, como meu sangue escorre
arrebenta, ferve, queima...
Como uma torturada que se conserva viva,
pra que fale, pra que escreva, pra que grite,
antes que morra.

Antes que morra... se morta já estava,
porque a vida nada mais é do que sedução e miragens,
cogitações, assombros, encantos fugazes.


O sol que ilumina queima, o amor que incendeia
é cinza no fim.

Tudo me escorre pelos dedos como água,

Por isso, nada mais quero possuir, além de mim.

Vera Albuquerque



 Clássico

Porque suas mãos me olham e seus olhos
passeiam em mim...
Quieta, sinto o que elas me dizem e meus olhos 
fechados, escutam seus dedos
de pianista fazendo da minha pele
o número 3 de Rachmaninoff.

Vera Albuquerque




Vera Albuquerque na foto de Larissa Grabowsk
VERA ALBUQUERQUE: Psicóloga, com extensão em filosofia. Especialização em material didático, mestranda em educação com artigo cientifico – O material didático e o ensino da arte no Brasil. Palestrante na área de formação para professores, analise e escrita de material didático e curriculum.
Publicações – Coleção de literatura infantil 4 volumes – Será que é mesmo brincadeira, pseudônimo – Sissina Aurea Brisbin, publicações em revistas O educador, A Nova Escola, Mallarmagens e outros.
Recebeu o título de mestres do ano em 2013 pela BPW – entidade filiada à ONU que promove o trabalho profissional da mulher no Brasil e no mundo. Membro do Centro Paranaense de Letras. Coordenadora e crítica  editorial de projetos didáticos e literatura. Integrante do Coletivo Marianas.
Em 2012 recebeu a homenagem mestres do ano pela BPW Curitiba.
Website: www.bolsalivro.com.br
Editora Bolsa Nacional do Livro




Comentários

  1. É uma felicidade ler uma revista com conteúdos tão bonito. Parabéns a Revista Carlos Zemek e demais participantes pela realização dessa Arte tão benéfica à Cultura.Parabéns a Vera Albuquerque, pelos poemas Desinspiração, que entendi como clamor à liberdade, mas deixando claro a afirmação ao amor que simplesmente ama...A sangue frio, poema impecável e Clássico, enfim um presente dos deuses.

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