Jaime Vieira: Poemas de Natal



Natal

É Natal...
Palpita o clarão das esperanças
há um ligeiro abrir de janelas
e o penetrar vivo de paz e luz
no coração escuro da humanidade.

É Natal...
A tristeza se emoldura
aos contornos convidativos da fantasia.
A noite se veste de um estranho brilho.
São estrelas e estrelas assíduas neste dia.

É Natal...
Há um anseio terno e humano
de sujar a roupa, como crianças.
Misturar-se com todos os brinquedos
e esquecer o porquê das indiferenças.

É Natal...
os sorrisos são largos e gratuitos.
Tudo cintila, tudo é fantasia.

Hoje é Natal, amanhã é outro dia
Comprimem-se os risos
e toda alegria
e o que restou
foi mais uma noite fria...


Jaime Vieira in “Desencontros”
1974
Quadro de Neiva Passuello

Outro Natal

Na janela tonta
das minhas ilusões
boto os sapatos
de muitas tardes,
mais vazias ainda.

Outra vez
uma decepção em alarde.

Outra vez
um dezembro me invade.

Outra vez chega o Natal
e parece que chegou tarde.


Jaime Vieira in “Contra-espelho”
(inédito)







O Natal

Amparados em meras fantasias
longe do sentido verdadeiro do natal
os adultos sem querer ou querendo
vão tomando o natal das crianças.

Lojas infestadas de enfeites e luzes
ordenam: comprem! comprem!
crianças de olhares compridos
arredondam seus olhos carentes
e cumprem o que determinam
os seus sonhos inocentes.

Uma nuvem escura
que restou do final da tarde
abotoa uma lua clara
no casaco azul-escuro
do firmamento.

Estrelas menores se agrupam
e sorridentes anunciam
a véspera do natal
e ansiosas esperam
o dia vinte e cinco chegar.

E o menino salvador do mundo
que está para nascer
se mexe no útero
da terra mãe desde o amanhecer
e a humanidade parece que sente
lá no fundo as dores do parto
que não param de doer.

Nos cabelos brancos
do velho Papai Noel
equilibra-se a certeza
de mais um ano vivido
de mais um plano falido
e de mais um dever cumprido.
No entanto no brilho dos olhos
do mesmo Papai Noel
permanece escondida
a profundidade dos grandes enganos:
o natal não é o mesmo, este ano,
o natal já não é mais das crianças

Enfim é natal.
As pessoas apressadas
que viviam agitadas
se acalmam – se unem
e se perdoam, por nada.

Agora confiantes esperam
uma vida melhor
no ano novo que se aproxima
sem diferenças – sem indiferenças
sem mágoas – sem lágrimas.

E quando o manto da noite
cravejado de estrelas cobre a terra
a criança debruçada na janela
olha para a rua e no alto vê
a lua, imagina e sente
nessa noite envolvente
uma doce esperança
que lhe convida docemente
a colocar os seus sapatos
nas janelas das ilusões
e esperar como presente
um natal diferente, um natal
no seu verdadeiro sentido
se possível urgentemente
no coração da criança que somos

no coração de toda gente!


Jaime  Vieira é professor de línguas e literaturas portuguesa e inglesa, é autor   dos   livros:   “Desencontros”,   “Ecos   e   Gritos”,   “Reencontro”,   “Outonos”,“Reencanto”, e “Asas”. Tem 36 prêmios literários, alguns deles são internacionais. Escreveu   durante   anos   a   coluna   literária   “Sinal   Verde”,   para   vários   jornais   de Maringá,   também   apresentou   o   programa   “Jaime   Viera”   pela   rádio   cultura   de Maringá.  É   membro  da  UBE  (União Brasileira  dos   Escritores   São- Paulo/SP)  e membro fundador da Academia De Letras de Maringá. Atualmente é vice-presidenteda Unijore – União dos jornalistas e escritores de Maringá.

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