Isabel Furini: Cinema no Domingo (Conto juvenil)

Querido diário, eu sei que essa não era a roupa ideal para ir ao shopping, mas a camiseta cor salmão com o pequeno bordado no ombro esquerdo ficava melhor do que a verde. Fui até a sala, minha mãe e minha avó estavam sentadas nas poltronas, mas ao ver-me, imediatamente se levantaram. Minha avó se levantou tão rápido que perdeu um pouco o equilíbrio e se apoiou na antiga arca de madeira escura.
– É a labirintite de novo. – disse com tristeza.

– Filha, o que acha de um perfume? – perguntou mamãe enquanto chaveava a porta.
– Temos outra opção? – perguntei enquanto descíamos a escada da garagem do prédio, porque o elevador estava com problemas e só descia até o térreo. A garagem ficava no subsolo e era preciso descer pela escada.
– Hummm... – mamãe descia os degraus lentamente, ajudando minha avó.
– Talvez um livro de cozinha. Você sabe que Claudinha gosta de cozinhar.
– Além de livro de cozinha?
– Escutei Paola dizer que a presenteará com uma pulseira de prata. Podemos ver um anel ou brincos.
O que acha? – perguntou girando a chave.

Eu ajudei a avó a entrar no carro. Ela se sentou, eu fechei a porta da frente, imediatamente abri a porta de trás e entrei.
– Claudinha tem muitos brincos, talvez o anel seja melhor.

O carro de minha mãe era o modelo de limpeza. Ela não deixava nem jogar um papelzinho no chão, não. Eu abri minha bolsa, peguei uma bala de chocolate e coloquei-a na boca. Minha mãe olhou com ar severo. E, como eu conheço esse olhar, coloquei o papel da bala na bolsa pensando em jogá-lo em algum cesto de lixo do shopping.

Minha mãe estacionou em uma vaga bem perto do elevador, na vaga de idosos. Eu acho que é por isso que ela sempre insiste em levar minha avó ao shopping e ao mercado! Entramos no shopping e a avó caminhou um pouco olhando vitrines, mas rapidamente reclamou porque já estava cansada.

Mamãe disse que ela poderia ficar sentada na praça de alimentação. Vó Ernestina pediu um suco de abacaxi. Mamãe foi comprar e eu fiquei com minha avó. Ela reclamava de dor nos joelhos. Quando minha mãe chegou com o suco, disse que eu e ela iríamos conseguir o presente.

Fotografia de Isabel Furini


No primeiro andar tinha uma loja muito chique. Fomos para lá. A vendedora gentilmente estendeu um pano preto sobre a vitrine de vidro e mostrou uma coleção de anéis maravilhosos. Eu estava ficando vesga de tanto olhar! Eu gostei do anel com uma cabeça de cobra com um pequeno olho de esmeralda, mas mamãe não gostou.



De repente, o celular dela tocou aquela musiquinha infantil (só minha mãe para gostar dessa musiquinha). Era a tia Paula. Ela disse que a tia Claudinha queria mesmo esse novo livro de cozinha que mostram na televisão. Esse, em que uma mulher de avental branco com um chapéu desses que usam os cozinheiros, mas tão grande que fica ridículo, grita: Compre o melhor livro de cozinha do Brasil!

Havíamos escolhido um anel lindo! Mas fazer o quê? A tia queria um livro de cozinha. Sábado ia festejar o seu 32º aniversário. Já estava envelhecendo. Eu lembro quando Claudinha era jovem, gostava de vestir roupa de cor turquesa e pintava os lábios de vermelho, mas agora ela tinha dois filhos e estava gordinha. O marido era representante comercial e viajava muito. Ela ficava sozinha com os filhos inventando pratos novos. Só gostava de cozinhar e de comer. Acho que gostava mais de comer do que de cozinhar. Ela estava obesa. “Eu nunca vou engordar. Viverei sempre como a tia Paola, com um olho na comida e outro na balança”.

Fomos até uma livraria do shopping. O livro estava exposto na gôndola, bem ao lado da porta com o cartaz: Mais vendidos. Minha mãe foi ao caixa e eu fiquei olhando os livros. Com o desejo de ser escritora, precisava saber das novidades literárias. Depois tivemos que fazer fila para pagar o estacionamento. Por fim, fomos até o carro. Minha mãe desligou o alarme e abriu a porta. O segurança do shopping se aproximou.

– A senhora estacionou na vaga de idosos!

Minha mãe abriu os olhos e a boca, tentou dizer algo, mas pareceu ficar sem palavras. Havíamos esquecido minha avó na praça de alimentação. Mamãe ficou no carro e eu corri buscá-la. O segurança estava esperando, pois não havia acreditado. Achava que estávamos fazendo teatro, mas quando me aproximei com minha avó no braço, ele foi muito gentil e abriu a porta do carro. O trânsito estava tranquilo, não pegamos nenhum engarrafamento. Aos domingos é mais fácil andar de carro pela cidade.

Mamãe abriu a porta de casa e minha avó pareceu recuperar a sua energia, correu à cozinha para fazer um bolo. Eu pensei em escrever alguma coisa, mas fiquei deitada no sofá marrom da sala assistindo a um programa na televisão. Bem legal!

*

Mais tarde, ligou minha tia Paola e minha mãe disse que iríamos ao cinema. Minha tia linda chegou. Minha avó, mamãe, tia Paola e eu fomos ao cinema. Entrei na sessão pensando em como é chato ver filmes para velhos quando o vi... Ele estava lá e com a família. João sentiu vergonha de estar com os pais, os avós e outros velhos, que não conheço. Coitado! Senti pena do João! Olhou-me quase com medo e levantou os ombros como dizendo: fazer o quê. Eu mordi os lábios para não rir e também levantei os ombros para que ele entendesse que estava na mesma situação. Ele sorriu só para mim. Não foi como na escola, que às vezes eu o imaginava sorrindo para mim, mas na realidade ele sorria para Renata. Ele sorriu. Sorriu para mim, só para mim. Seu sorriso era lindo!

Ao sair do cinema, fomos à praça de alimentação do shopping, João e sua família também foram. Eu nem conseguia comer a pizza, pois sabia que da mesa que ficava perto da escada rolante, ele estava olhando para meu lado. Olhando-me! Antes de dormir, vi que ele me adicionou no Facebook e estivemos falando. Foi ótimo! Ele disse que odiou o filme, eu também o achei chato. Pareceu que tínhamos os mesmos gostos. Isso foi um grande começo, e estou feliz, querido diário, muito feliz.

Isabel Furini:




Esse conto faz parte do livro "Garotas, Amores e Fantasias", publicado pela editora Instituto Memória de Curitiba/PR, em 2014.

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