Gabriel Cortilho: Esperança e outras poesias

ESPERANÇA

é tempo de definições
o vento soletra o futuro,
incerto, porém doce
se o olho for

atento

incansáveis,
as mãos procuram
novos ventos
as sendas

ocultas

o horizonte, enfim,
nos convida ao arrebol:

ainda há tempo de sorrir
e derrubar as velhas pedras

Gabriel Cortilho



Fotografia de Isabel Furini
COSMOS

no túmulo
sinto a calma
das almas mortas

inutilmente decoradas
com flores secas
de plástico

tortas

sonhos,
beijos, ossos
enfim se dissipam
fica tudo sob a terra
esquecido

porém,
não clamo
aos deuses:

sou pequeno
pra ser ouvido

Gabriel Cortilho

Fotografia de Isabel Furini

ALTERIDADE


os corpos
que me atraem
verdadeiramente

carregam perguntas de pedra
ao invés de prontas respostas

não colonizam cabeças
com suas velhas
certezas

nem cagam regras
de como o outro
deveria

ser

pois eles ardem
com o mistério da vida
a multiplicidade das almas:

sem exigir que nasça o mundo
feito a sua imagem e semelhança

Gabriel Cortilho



METAFÍSICA II

do cotidiano ao cosmos,
o amor é feito mistérios

partículas subatômicas
não apreensíveis
pela linguagem

desafia
os corpos frios
a física newtoniana
a matemática euclidiana

está em todo canto,
não cansa de se reinventar
e quando morre, se desintegra,

no sólo úmido da esperança

Gabriel Cortilho






Gabriel Cortilho (1992- ) é poeta, músico e professor de História no cursinho popular do IFSP, em Araraquara, no interior de São Paulo. Possui como referência a poesia de Manoel de Barros e Fernando Pessoa. Tem poemas divulgados pelas revistas O Poema do Poeta; Mallarmargens e Escrita 47 (Guatá- Cultura em Movimento). Organiza seus escritos no formato de livretos Atemporal/Cronológico (2014), Transitório (2015), A Transa dos Besouros Verdes (2016), O Poema e a Cachaça (2017), Javali Radioativo (2017) e A Carne e o Licor de Moscas (2017).

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