Marli Terezinha Andrucho Boldori: Abandono digital (Crônica)


Fotografia de Isabel Furini - Kirkland, USA
 A expressão “orfandade digital” sempre me causou estranheza e espanto, porque é algo que existe,mas está longe da vida de muitas pessoas, que não possuem mais crianças em casa, mas sabemos que ela existe. A negligência parental é o ato de omissão dos pais quando se descuidam da segurança de seus filhos diante do ambiente cibernético, esquecendo-se do risco que correm com os efeitos nocivos da mesma.Pais ausentes ortogam às mídias o poder de cuidar e divertir seus filhos.Iniciei este assunto devido a este acontecimento,eu estava fazendo uma pequena caminhada, percebi à frente um senhor que caminhava devagar, notei que a causa da lentidão era o celular,ele estava focado na telinha,nada seria espantoso se o que presenciei não fosse real,a uns passos atrás dele caminhava um garotinho, que não parecia ter mais que três anos, puxava por um barbante,um carrinho. Diminui meu passo e comecei a observar a cena, incrível,mas o senhor,que parecia ser o avô,sequer olhava para trás para verificar o pequeno.

   Consciente ou inconscientemente comecei a cuidar da criança,ao mesmo tempo indignada com a atitude do homem. Um pouco distante seguia os movimentos do pequeno,que a cada passo parava para arrumar sua preciosa carga de pequenas pedras na carroceria do seu carrinho. Percebi que o suposto avô se distanciava e o pequeno ao querer alcançá-lo perdia as pedras da sua caçamba, porque ao correr ela tombava assim, ele ficava sentadinho no asfalto arrumando tudo novamente. Eu já nem estava caminhando, mas seguindo ao lado do garotinho.

Aproximei-me do menino e perguntei:
- Você quer ajuda para juntar suas pedrinhas?

Ele rapidamente ergueu a cabeça e respondeu:
-Quero sim, pois meu avô foi embora, está longe.
Eu já havia percebido que o avô esquecera de que estava com o netinho. Minha indignação cresceu a tal ponto que não conseguiria mensurá-la.Ajudei-o a arrumar tudo e percebi que se ele fosse caminhar puxando o carrinho, jamais iria se aproximar do avô.

Fiz a ele uma proposta:
-Levo seu carrinho em minhas mãos, assim poderemos caminhar mais rápido e alcançá-lo.
 Ele aceitou e,assim fizemos. Fiquei um tempo apenas pensando,onde estava a responsabilidade daquele avô?

Patrícia Peck Pinheiro, fala em seu artigo:
“Os pais têm responsabilidade civil de vigiar os filhos”, designadamente quando “a internet é a rua da sociedade atual”, implicando reconhecer que quanto maior a interatividade da web e o acesso às novas tecnologias, “maior a necessidade de educação”.

Neste caso há uma inversão a criança sem internet, estava correndo risco.
Voltando ao pequeno, percebi que ele estava cansado e sem condições de continuar a caminhada atrás do desalmado avô. A distância entre nós era razoável, mas para o menino era gigantesca.

Resolvi que precisava carregá-lo, olhei para ele e disse-lhe:
-Quer um colinho?
Ele abriu os bracinhos e sem pestanejar deixou-se erguer nos meus braços, pedi a ele para jogarmos fora a carga de pedras para que ele carregasse o seu caminhão. Tudo certo, seguimos a caminhada.

A conversa foi trivial, me contou sobre o cachorrinho, contou que sempre o avô o levava para passear, eu logo fiquei imaginando os passeios dele com seu avô. Disse-me que seu nome era Caquinho, logo percebi que era o seu apelido, mostrou-me com os dedinhos que tinha quatro aninhos, e assim fomos levando nossa conversa.

A minha surpresa foi muito grande quando distingui ao longe a silhueta do avô voltando, passos tão rápidos que parecia estar correndo. Percebi que ele não identificou seu neto nos meus braços, ele procurava por ele ao longe, ainda bem que estávamos na pista própria para caminhada o que salvou o menino de algum acidente.

Eu parei e fiquei esperando, bem próximo de nós, ele reconheceu o garoto.
Chamou por ele com a voz embargada, a inocência da criança não o deixou reclamar de nada, mas contou com alegria tudo que passamos juntos.
Eu estava preparada para despejar meus impropérios contra aquele cavalheiro.
No entanto, percebi que não mais havia necessidade, pois ele se agarrou ao netinho, e chorando pediu desculpas a ele e a mim.

Frase islâmica:
“O homem apega-se ao transitório e negligencia o eterno”.

Marli Terezinha andurcho Boldori
AVIPAF - Cadeira 11



Marli Terezinha Andrucho Boldori, nasceu em União da Vitória, Paraná, no dia 28 de julho. Filha de Hilário Andrucho e Catarina Mateus Andrucho.
Graduou-se na FAFI/UNESPAR, União da Vitória, em Letras/Inglês e pós graduou-se em Produção de Textos pela FAFI/UNESPAR. É  acadêmica da ALVI, Academia de Letras do Vale do Iguaçu de União da Vitória e acadêmica da AVIPAF (Academia Virtual Internacional de Poesia, Arte e Filosofia). Colunista do Jornal Caiçara da cidade de União da Vitória PR.
Lançou em 2015 o livro,” Pensando a Vida”.
Participou do Livro de Antologia- Coletânea-Faces não Reveladas, organização de Sandra Mara Ferrari Radich, Editora Sol, Rio de Janeiro, 2015; Participou da Antologia de Poesia e Prosa V Prêmio Literário do escritor Marcelo de Oliveira Souza, 2017.
Participou e participa de vários concursos de poesias, contos, crônicas, publicações em jornais, nacionais e internacionais. Fez parte da comissão julgadora do 10º Concurso Internacional Poetizar o Mundo. Curitiba, abril 2015.




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