Nilsa Alves de Melo: Ser e outras poesias




RELICÁRIO

Neste relicário
guardo segredos contados.
Tão adormecidos estão
que jamais serão acordados.
Os das crianças,
embrulho, antes, em carícias de seda.

Acho que é por isso que me contam.
Só ouço.
Não os repito
nem para mim mesma.

Guardo a confiança que tiveram
ao contarem.
Às vezes em meio às lágrimas;
outras, aos sentimentos profundos;
mais outras, para alívio.

Alguns deles já dormiam no relicário
(mas eu guardo a segunda via).

Arte Digital de Isabel Furini
 INCANSÁVEL PROCURA  
         
Eu durmo mas meu coração vela.
Busco meu filho amado e não o acho.
Chamo-o e não me responde.
Abro a porta esperando vê-lo e ele não chega.
Dize, filho amado do meu coração:
Onde estás, onde andas, onde repousas?
Irei aos confins do mundo para buscar-te.
Vagueio, procurando.
Vou à praça, portando cartazes,
mostrando a todos Tua imagem querida.
Junto-me a outras mães que buscam
seus amados, suas amadas.
Minha alma só terá paz
quando eu souber onde estás.
Meu corpo só descansará
quando voltares aos meus braços.
Viverei à tua procura sem desistir, jamais.
Eu durmo e meu coração vela...




SER

Sê, simplesmente, bom,
Sem badalo,
sem ser vassalo,
sem alto som.

Sê, simplesmente, culto.
Esquece os diplomas,
esquece as redomas,
esquece “ser um grande vulto”.

Sê, simplesmente, amigo.
que acolhe,
que socorre
que dá abrigo.

Sê... Simplesmente!





CHEGAMOS

Por esses caminhos de aprender,
por esses caminhos de ensinar,
fui encontrando companheiros. E tantos!
Inúmeros só conheci através dos seus escritos.
Os que andaram comigo e já se foram,
fizeram morada na minha lembrança,
enquanto outros vinham
e continuávamos,
às vezes com passos apressados, impacientes;
outras, com o doce ritmo da compreensão
e da ternura.
São tantos esses companheiros a quem devo gratidão
por haver chegado até aqui!
Espero que na vida deles seja eu
alguém que andou junto, que chamou mais para a frente,
e, mesmo,
parou quando se fez necessário.


Nilsa Alves de Melo


Nilsa Alves de Melo reside em Maringá/PR. professora aposentada.  A leitura foi sua companheira constante, desde a alfabetização. Seus escritos: livros didáticos, crônicas, contos e poesias.

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