Isabel Furini: Viagem ao infinito - e outros poemas



O SATURNO DE GOYA

áridos símbolos do passado
imagens e pensamentos
entrelaçados no silencioso afresco
da casa do pintor espanhol Francisco Goya

Saturno (deus do tempo)
devorando um filho...

Saturno devorava seus filhos
como todos os pais que sentem inveja
de sua prole
e sentem prazer em ofender e humilhar
seus próprios filhos
desejam matá-los
para manter o poder e a importância pessoal
(intactos)
no cruel pantanal da mente.


Isabel Furini
Avipaf - Cadeira 1 
Arte de Isabel Furini
 VIAGEM AO INFINITO

quando os amigos se afastam
e viajam para o infinito
sentimos vírgulas de ausência
e gravamos com reticencias
esse momento de tristeza…

a vida é só um parêntese
de tempo-espaço
na eterna viagem da alma
por isso já falou Heráclito:
“Somos e não somos”.

Isabel Furini
Avipaf - Cadeira 1




ASPEREZA DAS LEMBRANÇAS

É esse vento infame
que faz vergar as árvores
e as lembranças clandestinas
as lembranças que dançam
sobre as poças de lírios e de urina

lembranças que nos deixam confusos
e com culpa e com vergonha
e cercados por pensamentos obtusos
e com gosto de peçonha na boca
e com lagrimas na mãos
e com a visão das ondas do ontem
batendo contra as docas

esse barco sonhado
tem uma bússola apontando
para o território da felicidade
mas nunca atraca neste porto
tal vez  marinheiros amedrontados
apontem um caminho distante
pois neste porto só atraca um barco que navega
pelo profundo oceano do ontem.

Isabel Furini
Avipaf - Cadeira 1




O ESPELHO DO PASSADO

O peso dos erros
estilhaça o espelho do passado
e a imaginação reanima
os velhos personagens
da história da nossa vida

contabilizamos acertos e desacertos
somos a Lua crescente
procurando a plenitude
ou somos como o Sol nascente
que tem zenite e ocaso

o tempo é um eterno rio
em movimento
da nascente até a desembocadura
vivemos momentos de doçura
e momentos de amargura.

Isabel Furini
Avipaf - Cadeira 1

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