Nilsa Alves de Melo: Sou negra e formosa



SOU NEGRA E FORMOSA
                                                                             NIGRA SUM ET FORMOSA
                                                                            (Cântico dos Cânticos, 1:5)
 No livro sagrado eu li
o maior poema de amor
entre um rei poderoso e uma negra.

Negra de irradiante beleza
veio de longes terras para conhecer
o rei sábio e famoso.

Veio com seu séquito
e com presentes valiosos
para ofertar.

O rei se encantou com sua beleza.
E despertou inveja
de mulheres de clara tez
que murmuraram:
- Como um rei poderoso
caiu de amores por ela?

E a negra, com altivez,
levanta a voz
e diz às suas rivais:
- Sou negra e formosa, filhas de Jerusalém.
Por isso o rei se encantou de mim.
Sou a Rosa de Saron.
Sou o lírio dos vales.

A Rainha de Sabá
externa sua beleza,
Sua inteligência
sua identidade,
sua cor.

O que disse essa negra mulher
ficou registrado no Livro Sagrado,
no Cântico dos Cânticos,
o mais belo poema de amor:

- Nigra sum et formosa!

Nilsa Alves de Melo

Arte digital de Isabel Furini
A BENZEDEIRA

E ela me disse assim: - Arruda é boa,
tira todo e qualquer maldoso olhado
que por acaso alguém, vagando à toa,
põe em ti por inveja ou desagrado.

Ah, minha caridosa benzedeira,
quantas receitas, quantas simples ervas
perfumadas, do campo e estrada à beira
como a simplicidade que conservas!

Ao benzer o raminho no meu rosto
como carícia de anjo, quanto gosto
aquele santo rito me fizera!

Um dia um anjo bom. cheiroso e lindo,
recendendo a alecrim, buscou, sorrindo,
a doce benzedeira já na espera.

Nilsa Alves de Melo






Nilsa Alves de Melo: Nasceu no interior paulista. Professora universitária. Autora do livro "Temas, Versos e Trovas". Reside em Maringá/PR.
  

Comentários