Marli Terezinha Andrucho Boldori: O Natal de Lizzie

 
 

Lizzie estava atenta ao calendário, pois sabia distinguir bem os números, com seus cinco aninhos era muito esperta, inteligente e cheia de vida.

Tinha dois irmãos mais velhos, os quais sabiam a verdade sobre o bom velhinho, o Papai Noel, e que para os desvalidos, e mais necessitados, o Natal era apenas um dia qualquer, pois não havia árvore de Natal, nem presentes e muito menos uma ceia.

A pequena vivia no mundo da fantasia e, era muito feliz, mesmo que seus irmãos tentassem de todas as formas destruírem a imagem boa, que ela guardava em sua memória do Natal, que conheceu pela TV.
 

Seu pai havia falecido em um acidente de trabalho, a mina desabou matando-o, juntamente com mais dois trabalhadores, sua mãe recebia uma pequena pensão, que mal dava para pagar as principais despesas, e ainda trabalhava em casa lavando roupas, as quais entregava passadas, tinha poucos fregueses, pois era difícil cuidar dos filhos, da casa, lavar e passar muita roupa.
 

Os filhos maiores ajudavam na entrega das roupas, e sempre ganhavam um mimo dos fregueses da mãe.
 

Certo dia, Lizzie pediu à mãe para ir com os irmãos na entrega das roupas, era quase Natal. Os três foram carregados de pacotes muito bem distribuídos para que nada ficasse amassado. Em cada vitrine que passavam, a pequena queria parar para ver o Papai Noel, os brinquedos, as pessoas alegres, com suas sacolas cheias, porém neste Natal havia algo diferente, pois  todos estavam usando máscaras, devido à pandemia. Ela já estava informada sobre tudo, e principalmente sobre os cuidados que deveria ter para se proteger e assim, proteger os outros também.

  Ao chegarem à casa da primeira freguesa, a porta se abriu e ela ficou extasiada com tanta beleza na sala de jantar, nunca vira igual. Uma árvore gigante enfeitada com belas bolas vermelhas, sob ela muitos pacotes de presentes, os olhinhos dela brilhavam. A dona da casa viu o encantamento da menina e disse:

  -Qual é o seu nome? -Lizzie, ela respondeu rapidamente.

  -Lizzie, venha admirar a árvore de perto. Ela ficou um pouco arredia, mas sentiu a aprovação no olhar dos irmãos, foi pisando  mansinho para não acordar o Menino Jesus, que dormia no presépio. Ficou um longo tempo olhando tudo com muito cuidado e amor.


Arte de Isabel Furini

Lágrimas escorreram dos seus lindos olhinhos, nunca tiveram uma árvore de Natal em casa. Tudo eram promessas de sua mãe, que não podia cumpri-las.

Foram à casa de todos os fregueses para entregar as roupas, a menina não falou mais nada, seu silêncio mostrava-lhes o quanto estava triste e desiludida, os irmãos não quiseram falar nada também, e assim seguiram para casa.
 

Nem a presença do Papai Noel em frente às lojas a animaram, os irmãos perguntaram se ela queria ir ao shopping para conversar com o Papai Noel, explicaram a ela que lá ele ficava em uma grande cadeira, apenas ouvindo os pedidos das crianças, mas ela apenas meneou um não, com a cabeça.

Em casa, a mãe notou a tristeza da pequena, que não quis falar nada, e sequer quis comer. Ela sabia que o motivo da tristeza era o que ela viu, pois seus olhinhos jamais haviam visto algo diferente do que conhecia em seu bairro, a beleza do Natal, tanto brilho, tanta luz.
 

Lizzie em sua humilde cama não conseguia dormir, pensando nos acontecimentos, mas não estava triste por ela, mas sim por todas as pessoas que jamais teriam um Natal, como ela presenciara nos preparativos por onde passou. Em sua tenra idade pode mensurar o quanto as pessoas eram diferentes, o quanto padeciam e o quanto não percebiam além do seu mundo precário.

Levantou-se muito cedo e correu no quarto dos irmãos, sacudindo o braço de cada um.

 - Acordem, por favor, acordem!

 - O que aconteceu, Lizzie?

 - Quero que me levem ao shopping, vou fazer meu pedido ao Papai Noel.

Sem saber o que fazer e dizer, pois seria mais uma decepção para a irmãzinha, que vivia no mundo da fantasia.

Ao chegarem ao shopping ela correu pegou as mãos do velho Noel e disse:

 - Querido, Papai Noel, sei que você está mais perto de Jesus e com certeza, ele o atenderá. O bom velhinho arregalou os olhos e ficou ouvindo o pedido da pequena.

 - Peça a Jesus para que todas as pessoas, que vivem como minha família, possam ter um Natal com pinheirinhos enfeitados com bolas cobertas de esperança, que haja muita alegria ao festejar o nascimento Dele, que Ele nasça e permaneça no coração dos humildes, que haja muito amor para ser  fatiado, e que todos possam ganhar uma boa fatia deste amor para completar a sua ceia.
 

Feliz Natal a todos!

Marli Terezinha Andrucho Boldori

Marli Terezinha A. Boldori


Comentários

  1. Bom dia, agradeço ao Carlos Zemek e Isabel Furini por publicar meu conto na
    Valiosa Revistacazemek. Gratidão!

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