Entrevista com Olga Defavari e André Castro

 


Nossos entrevistados são Olga Defavari e André Castro, criadores do Projeto literário "Um poema para..." 

Olga Defavari

Olga Defavari nasceu em Santo André (SP) em 1983, cidade onde reside. É formada em jornalismo e em Letras. Atua como repórter na Tribuna Metalúrgica. Já lecionou na rede estadual de SP e trabalhou na Rádio ABC. Como pesquisadora, publicou o livro ‘Imprensa Alternativa no ABC – a história contada pelos independentes’. É amante de literatura e teatro. 

André Castro

André Castro, 35 anos, aquariano raiz. Publicitário de formação e pós-graduado em comunicação integrada, é também estudante de ballet clássico e amante de viagens. Especialista em direção artística e audiovisual corporativo. Atua como apresentador para TV, internet e rádio, comanda um programa de entretenimento e cultura na Rádio Capital-SP.  

 

Como surgiu a ideia do Projeto “Um poema para...?

R. Vez outra, quando eu, Olga, lia algum poema que gostava, gravava e mandava por áudio para alguns amigos e familiares, eles gostavam. No início do ano passado, durante meu descanso no horário de almoço, pensei com seria agradável colocar os fones de ouvido e escutar uma poesia. Aí veio a ideia, eu mesma poderia gravar esses poemas para que outras pessoas ouvissem. Decidi que era necessário inserir também um breve comentário sobre o autor para deixar o programa mais informativo. Convidei o André para embarcar comigo nessa empreitada poética, ele topou de cara. Assim surgiu o podcast, com a proposta de ser “Um poema para Despertar, um poema para Aquietar”. Durante os primeiros meses levávamos ao ar dois episódios por dia, eu fazia as gravações e o André editava, inseria as músicas e postava os episódios. Com o passar do tempo, percebemos que algumas mudanças eram necessárias, decidimos diminuir a quantidades de episódios por semana e passamos a dividir a locução, o que deixou a programação mais solta e descontraída. 

 

O podcast surgiu em 2004, e há poucos anos que é utilizado popularmente na área literária. Qual é a reação dos ouvintes? Eles criam o hábito de ouvir podcasts?

R. Temos visto muitos podcasts literários surgindo e a cada dia mais ouvintes novos chegam. Há um universo infinito a ser explorado nesse campo e pessoas interessadas não faltam.
E principalmente neste momento que o mundo tem enfrentado, o nosso podcast tem se tornado uma fonte de inspiração, um momento para silenciar, buscar algum tipo de reflexão, etc.
Com o passar do tempo estamos percebendo um movimento crescente de audiência, o que nos mostra que novos ouvintes têm descoberto o podcast diariamente.
E os hábitos de consumo do nosso programa são totalmente variados: há relatos de ouvintes que já começam seu dia ouvindo uma poesia como companhia para o café da manhã; outros preferem ouvir um episódio para encerrar o dia na tranquilidade; ou ainda os ouvintes que preferem maratonar todos os episódios durante o final de semana. 


Recebem muitas mensagens ou e-mails solicitando um determinado poema?

R. Essa interação com os ouvintes é um dos principais diferenciais do nosso programa, é à moda do rádio pra onde ouvintes podiam ligar e pedir música, oferecer a alguém. Esse recurso é interessante porque também nos ajuda a diversificar a programação e trazer, além dos poetas mais conhecidos, também os ouvintes que são poetas. No começo, Manoel de Barros, Fernando Pessoa e Cecília Meireles eram os mais pedidos, hoje já está bem mais diversificado.

 
Quais poemas tem mais ouvintes: poemas de amor, de humor, poemas metalinguísticos, com mensagens positivas?

R. O nosso campeão de audiência é Charles Bukowski, com o poema, ´Pássaro Azul’, um poema sobre uma certa angústia existencial “há um pássaro azul em meu peito que/ quer sair/mas sou duro demais com ele”, diz um trecho. Na sequência vem “Poema em linha reta” de Fernando Pessoa, escrito por seu heterônimo Álvaro de Campos. Poema que carrega certa ironia e traz à tona a sensação de que as outras pessoas parecem perfeitas, enquanto o eu lírico é um poço de defeitos. “Nunca conheci quem tivesse levado porrada/Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil.
O poema Negro Drama dos Racionais, segue em 3º lugar, com grande audiência, além dos sempre amados, Manoel de Barros, Hilda Hilst, Clarice Lispector, Pablo Neruda, Cecília Meireles e Paulo Leminski, entre outros autores.



Fale um pouco sobre o Projeto. Explique como acontece a gravação dos poemas.

R. André e eu somos comunicadores de profissão. Eu jornalista e professora de língua portuguesa e ele publicitário e diretor artístico de eventos e audiovisual, ambos com passagens pelo rádio e pelos palcos. Pra nós é sempre um grande prazer o momento da gravação. Eu, Olga, faço a seleção dos poemas e os roteiros dos episódios, após a leitura, gravamos em um sistema virtual cada um na sua casa com seu microfone. Tentamos sempre imprimir um diálogo descontraído, uma espécie de bate papo entre amigos, que é o que somos. Depois de gravados, o André faz a edição, a seleção das trilhas sonoras, a equalização do som e publica nas plataformas de áudios. 


Na sua avaliação, quais são os pontos fortes desse projeto?

R. São vários...Primeiro tornar a poesia mais acessível. Temos relatos de muitos ouvintes que não eram acostumados a ler poesia, mas que aprenderam a gostar ouvindo a gente. Acreditamos que esse formato descontraído e leve atrai a audiência, mesmo quando o poema é mais pesado, sempre há um papo antes que cativa o ouvinte. Outro diferencial é a interação com os ouvintes que podem sugerir e enviar poemas, o que torna nosso acervo poético bastante eclético. Vamos do clássico ao contemporâneo, do Brasil à Polônia na mesma semana. Um ponto que é só nosso, é o destaque dado aos poetas do ABC Paulista. Somos de Santo André e procuramos sempre divulgar os trabalhos feitos na nossa região, que, como costumamos dizer, é muito frutífera neste campo. 



Os poetas gostam de podcasts. É um sistema prático, pois os amantes da poesia podem ouvir seus poemas preferidos andando na rua ou dirigindo um carro. Qual é a reação dos poetas quando são informados que seus poemas foram escolhidos para o projeto​? 

Essa parte do retorno dos poetas é sempre muito gostosa, eles compartilham os episódios e logo recebemos contato de amigos daquele poeta que também quer ter seu poema divulgado no nosso podcast, o que pra nós é sempre um prazer. É importante lembrar que criamos o quadro “Eu poeta” dedicado àqueles que não são poetas, mas que já rabiscaram alguns versos e desejam tirá-los da gaveta. Então não há uma seleção rigorosa, o espaço está sempre aberto a novidades. 



Já receberam e-mails dos ouvintes?

R. Sim vários e de várias partes do Brasil e do mundo, e é muito interessante notar o alcance dessas plataformas de áudio. A maioria escreve pedindo poemas, alguns também escrevem para nos elogiar. Nós sempre adoramos e incentivamos essa interação, pois de alguma forma é o nosso termômetro sobre o programa.
E recebemos também muitas interações através das redes sociais, pois sempre divulgamos os novos episódios em nossos perfis nas redes mais populares (facebook, instagram e twitter), e assim abrimos um canal de comunicação instantâneo e descontraído com nossa audiência.

 

Com a pandemia, em 2020 muitos sonhos ficaram estagnados, como foi a trajetória do projeto “Um poema para...” no ano passado?

R. Nosso podcast surgiu justamente em meio à pandemia, a ideia veio antes de todo esse caos, mas acabou indo ao ar no começo de abril. Acreditamos que o “Um poema para...” acabou fazendo companhia para muita gente durante o isolamento. 


O ano está iniciando. Fale dos projetos para 2021.

R. Estamos sempre inovando. O projeto começou com dois episódios diários, Despertar e Aquietar, com o tempo, passou a ser 3 por semana, às segundas, quartas e sextas. Ano passado teve especial Fernando Pessoal e semana Vidas Negras Importam. Já começamos 2021 com novidades, estamos com uma nova identidade visual criada pelo nosso amigo e parceiro, o designer Gabriel Ambrozio. Essa nova temporada traz também episódios que contam com a participação do próprio poeta comentando seu poema. Outra novidade é que contamos agora com uma espécie de comentarista poético, o poeta e doutor em literatura Danilo Bueno que entrará na programação com indicação de poemas e comentários sobre as obras. Enfim, certamente ao longo de 2021 colocaremos no ar novos episódios especiais, ações de interação com o público e sempre muita poesia para mexer com as nossas emoções e de quem gentilmente no acompanha.

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