Franccis Yoshi Kawa: Por uma mulher (Conto)

 

 



Por uma mulher 

Franccis Yoshi Kawa


Havia vestígio de lágrimas em seu rosto e por um momento ficou pensando naquela história de amor abruptamente interrompida. A claridade da manhã inundava o ambiente dissipando qualquer dúvida de que restou apenas a árida realidade. A poesia havia dissipado no ar, naquele início de outono. O amor que parecia ser de alma se revelou ser de coisa nenhuma. Esse engano tinha se transformado em drama. Ainda perguntava a si mesmo, se teria sido sonho ou pesadelo, sem poder acreditar no que sentia. Mas, ao olhar ao seu redor, restou apenas a calma realidade. Tudo mudou, nada parecia como antes. Paredes brancas sem janela, tudo muito limpo. Parecia ter acordado dentro de um laboratório de uma universidade. Fechou os olhos apertando as pálpebras, desejando retornar ao ponto de partida. Talvez pudesse retornar e consertar o enredo da história. Não podia admitir que um amor tão sublime pudesse ter acabado assim. Não podia se conformar que um sonho ardentemente desejado se extinguisse volátil como fumaça. Com os olhos de sua mente, revê o último momento. Tinha a determinação de retornar e consertar o que estava errado. Mas, caindo na real, tem a consciência de que nada mais pode ser refeito. Era necessário enxergar a si mesmo e conformar, mas não conseguia. Sobretudo entender que não é possível perder um amor que nunca foi seu. Admitir que naquela relação, foi o único que amou. Estava transtornado em meio a ruína daquela paixão. Seu erro foi amar uma mulher que a seu ver, era a mais bela do mundo. Naquele sonho de amor, havia mergulhado imprudentemente, acreditando na felicidade que era uma farsa. Lágrimas desavergonhadas brotaram de seus olhos. Seu coração fragilizado se fechou para o mundo. Sua alma congelou em um casulo. Era apenas um simples mortal e se sentiu livre para mergulhar em seu calmo pesadelo.

                 Ouviu vozes se aproximando. Parou de chorar. Não queria que vissem suas lágrimas. Duas pessoas vestidas de branco passaram por ele. Uma dizia para outra:
    -Parece que esse robot humanoide está chorando!

   -Sacanagem do pessoal do turno da noite. Inseriu nessa lata velha, memória de alguém que morreu de amor, “kkkkk”.

 

Franccis Yoshi Kawa é romancista e contista




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