Sergio Diniz da Costa: Saltimbancos (Crônica)

 

SALTIMBANCOS

O semáforo fechou. Um daqueles que duram em torno de 70 segundos. Uma eternidade para quem está atrasado para algum compromisso. Principalmente quando o dia está tórrido e o carro não tem ar-condicionado!

Imediatamente, três jovens ocupam a frente dos carros. Entretanto, não são pedintes. São artistas de rua e, aparentemente felizes, começam a exibir sua arte. Basicamente, o malabarismo. Sincronizados com o tempo de abertura do sinal, exibem seu talento e, em seguida, passam de carro em carro, esperando receber algum dinheiro. Regra geral, apenas centavos. E recebidos como se fossem pequenas fortunas.

Eu nunca deixo de contribuir com esses jovens, modernos saltimbancos.
E esta palavra, no momento trazida pela memória, me leva a uma brevíssima incursão pela História. A tradição dos saltimbancos e suas apresentações vêm de longa data, sendo encontradas em antigas civilizações no Egito, na Grécia e em Roma.* Mas, a mim, esses artistas me foram apresentados por meio de filmes sobre a Idade Média, assistidos ainda na adolescência. A Idade Média, que teve início na Europa com as invasões germânicas (bárbaras), no século V, sobre o Império Romano do Ocidente. Essa época estende-se até o século XV, com a retomada comercial e o renascimento urbano.**

Os saltimbancos eram trupes de mímicos, ventríloquos, ilusionistas e equilibristas, entre outros, que, com o fim do Império Romano e o início da Idade Média, no século 5, começaram a se apresentar em feiras e praças pela Europa, divertindo as multidões. Deslocavam-se de cidade em cidade, sobrevivendo de contribuições espontâneas.***

Além de proporcionar opções de entretenimento para os camponeses e para a nobreza, os saltimbancos ajudaram a espalhar e modificar a cultura local através da divulgação de novas ideias e crenças. Suas apresentações foram especialmente eficazes em espalhar a fé cristã no continente europeu. O circo, como o conhecemos hoje, tem sua origem nas atividades desses artistas.

Em termos de apresentações teatrais, todavia, sofriam perseguição da Igreja, na época muito poderosa, a ponto de escolher o que as pessoas podiam representar, de preferência textos cristãos. E os saltimbancos não queriam saber desse engessamento cultural, preferindo a disseminação da liberdade criativa. Perseguidos pela Igreja e sendo tratados como fora-da-lei, os saltimbancos começaram a usar máscaras, para não serem reconhecidos.****

Hoje, felizmente, os artistas que mantiveram esse tipo de arte já não sofrem mais o mesmo tipo de perseguição. Por outro lado, sua arte praticamente não se distingue de outras profissões informais, e de baixíssima remuneração, como os ‘guardadores de carro’ e os ‘flanelinhas’.
Nem todos esses artistas têm a oportunidade de estar num ‘Cirque Du Soleil’. Seu picadeiro são as ruas sem glamour, com uma plateia apática e, às vezes, ofensiva.

O semáforo reabriu. E a luz verde me traz de volta ao presente. Um rosto simpático, sorridente ainda está entre os carros e próximo do meu. Rapidamente, entrego-lhe uma nota de dois reais, a qual ostenta a imagem de uma tartaruga. Ele olha para a nota e comenta, agradecido: ‘Eu amo os animais!’ Devolvo-lhe o sorriso, engato a marcha e prossigo meu caminho, com um misto de leveza e peso na alma. Não consigo deixar de pensar que, para aquele talentoso artista de rua, talvez uma tartaruga lhe tenha sido o animal mais precioso daquele dia.

Sergio Diniz da Costa

*eHow Brasil. http://www.ehow.com.br/saltimbancos-idade-media-fatos_214415/>.Acesso em: 14/06/2016.

** Sua Pesquisa.com. http://www.suapesquisa.com/idademedia >. Acesso em: 14/06.2016.

***Mestres da História, com professor Edenilson Morais. http://mestresdahistoria.blogspot.com.br/2009/12/os-saltimbancos-artistas-medievais-que.html>.Acesso em: 14/06/2016.

****História do Teatro. Teatro Mambembe. http://www.canalkids.com.br/arte/teatro/mambembe.htm>. Acesso em: 14/06/2016

Sergio Diniz da Costa
Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros, um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Inter-NET Jornal, Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA - Federação Brasileira dos Acadêmicos das Ciências, Letras e Artes, membro Fundador da ALSPA - Academia de Letras de São Pedro da Aldeia e Membro Correspondente da ACL - Academia Caxambuense de Letras. Autor de 7 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu as seguintes honrarias: Pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; Pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Medalha Mérito Acadêmico, Comenda Láurea Acadêmica Ouro, Comenda Maria Quitéria Heroína da Pátria e Moção de Honra ao Mérito; a Comenda do Mérito Histórico Dom João VI , Honorável Mestre da Literatura Brasileira, Dr. h.c. em Comunicação Social, Medalha Comemorativa Bicentenário de Nascimento de Anita Garibaldi, Diploma Caneta de Ouro e Prêmio Destaque do Ano 2021; Pelo CSAEFH – Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os Títulos de Dr. h. c. em Literatura, Defensor Perpétuo do Patrimônio e da Memória Histórica de Sorocaba e Benemérito Pesquisador em Artes e Literatura, Comenda Mérito Literário Goncalves Dias e Defensor Perpétuo do Patrimônio Histórico e Cultural Brasileiro; Pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; Pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; Pela OMDDH - Organização Mundial dos Defensores dos Direitos Humanos: Destaque Cultural 2020; Destaque Social 2020; Embaixador da Paz, Paladino dos Direitos Humanos, Dr. h. c. em Direitos Humanos e Dr. h. c. em Comunicação Social e a Comenda Internacional Diplomata Ruy Barbosa 'O Águia de Haia', com o título honorífico de Comendador da Justiça de Paz.
 

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