Roberto Betusko: Natal

 

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NATAL


No ventre da nova cidade

brincavam os sapos e as serpentes

cujas bocas malpassadas e rotas

lançavam injúrias e chispadas.

Dançavam com olhos de fogo

os sapos e as serpentes,

cuspiam nos olhos do céu

pedaços de fim de ano,

ano longo, ano louco

ano sem estribos, sem tributos,

ano arrastado, puxado a dentes

cortado à navalha sem fio

ano banhado em ácido sulfúrico

sulfetos e brometos de promessas

feitas em cima de um pano vermelho.

Nos braços da nova cidade

dormiam os anjos e os capetas

que foliaram o ano todo

e agora, sem fôlego, sem fígado

dormitam debruçando as cabeças

nos gordos seios da criadora.

De suas bocas respingam os sonhos

de um futuro promissor, sem céu cinza,

sem céu náusea, todo mármore.

Fim de festa, braços dormentes

bocas cansadas de abrir e fechar

em intermináveis trec trec.

Olhos pesados, apitos, pipos ao longe

sanfoninhas e cachoeiras cachentas

cheias de restos de todos os rostos.

Adeus! Adeus! Feliz! Feliz!

Enxurrada de catambas alegres.

Agora a grama está seca

ainda brincam os sapos e as serpentes de petas

ainda dormem os querubins e os duendes

e ainda gritam uns tantos outros:

Feliz! Felino! Um bom! Um nada!

Um tubo de estrelas minguantes

e longas conversas de bar e esquina,

quinas de mesas com longos pecados,

E agora? E agora?

Bem, só nos resta cobiçar o Ano Novo.


Roberto Betusko

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