Wanderlino Teixeira: Poemas

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Certos guardados

Numa prateleira, abrigo a compoteira

que minha mãe ganhou em suas núpcias.

Tem cores múltiplas e uns motivos chineses.

Guardo nela um chumaço de saudade, cacos de vida,

um certo abraço, uma foto esmaecida, guloseimas.

Algumas vezes, pequenas teimas

e uma pálida esperança, que trago comigo da mais tenra idade.

Também um sonho que persigo desde antigamente.

Afora uma lembrança impertinente que não vai embora.

Wanderlino Teixeira


*

Pimentas e caramelos


Carrego comigo um pote de lembranças

que às vezes se derramam sobre a mesa.


Essas coisas todas que já foram antes,

nos bons momentos e nas crises,

têm dois matizes:

ora lembram crianças brincantes,

ora mostram cicatrizes.

São desse jeito: leveza e nó no peito.


*

Chiaroscuro

Na casa dos avós,

réstias de sol nas frestas das treliças

anunciavam o nascer dos dias.

Broa de milho em fatias,

leite gordo dos currais

espantavam as preguiças matinais.


Na casa dos avós,

a luz bruxuleante das lamparinas

projetava nas paredes

equilibristas sem redes

e esguias bailarinas.


Na casa dos avós,

aprendi que vida é ambiguidade:

penumbra e claridade.


Wanderlino Teixeira

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