Há 43 anos, em 30 de Agosto de 1972, a estátua da mulher nua foi ao encontro de seu “cônjuge” o homem nu na Praça 19 de Dezembro, formando o cenário que hoje conhecemos como um dos cartões postais da cidade de Curitiba, a Praça do Homem Nu.
Fotos e Edição de Eloir Jr. |
A 19 de Dezembro, localizada próxima ao Passeio Público, onde a Rua Barão do Serro Azul cruza com a Riachuelo, recebeu seu nome e conjunto artístico escultural para representar a data da Emancipação Política do Paraná ocorrida em 19 de dezembro de 1853.
Inaugurada um século depois, durante o governo de Bento Munhoz da Rocha Netto, o qual proveu uma agenda de eventos para o centenário da emancipação estadual, que entre as obras públicas estavam o obelisco, “Monumento do Centenário”, erguido em pedra com pouco mais de 40 metros de altura, encimado por um escudo do Paraná em baixo relevo, o homem nu, com oito metros esculpidos em granito provindo de Petrópolis-RJ, que representa o Paraná emancipado, um Paraná dando os primeiros passos, um Paraná a caminho e sem medo do futuro, vestido de todas as culturas, mas ainda não vestido de sua própria identidade, ambas de autoria do artista escultor Erbo Stenzel (1911-1980) parnanguara radicado em Curitiba e do também artista mosaicista Humberto Cozzo (1900-1981) paulistano radicado no Rio de Janeiro.
Além do monumental obelisco e do colosso em pedra, obras a frente do tempo para a década dourada, fora também projetado um painel em forma de biombo, em baixo-relevo, em granito, retratando várias cenas alusivas aos ciclos econômicos do Estado na época (extrativismo, colonização, ciclo da erva mate, do café), e destacando o processo de ocupação do Estado por índios, bandeirantes, trabalhadores em geral. Na última cena do painel, vê-se a imagem do símbolo de toda a riqueza que então se contemplava, sacas de café empilhadas indicando a abundância do produto. No verso do baixo-relevo foi confeccionado outro painel, de autoria de Poty Lazzarotto (1924-1998), em azulejaria branca e azul, representando sumariamente a evolução política do Paraná.
Dessa forma, a tríade simbológica do centenário da emancipação se completava com os painéis retratando a história e evolução do Estado, os diversos ciclos econômicos que fizeram a terra das Araucárias prosperar, o obelisco fazendo alusão ao moderno, a estátua do homem nu a caminho do progresso, um Paraná independente da Província de São Paulo, dando um passo à frente e, simbolicamente voltado para o oeste, considerado o Eldorado paranaense.
Passados dois anos das comemorações do centenário da Emancipação Política do Estado, Stenzel e Cozzo, criam a escultura da mulher nua, para representar a justiça, como a deusa Artemis, outra peça em granito, sem armas, sem balanças, sem vendas, projetada para ficar na frente do Tribunal do Júri, conjunto de prédios que formam a região cívica da capital dos Pinheirais. Os monumentos arquitetônicos foram inaugurados em 15 de junho de 1955 e a Justiça desnuda esculpida em pedra nobre não foi aceita por conta do conservadorismo de uma sociedade de época preocupada com moralismos e preconceitos e não com o modernismo que a carga artística vanguardista visionava.
Vale contar que o homem nu também sofreu muitos manifestos em que o público que por ali passavam, fechavam os olhos, outros contestavam seu fenótipo, indagando que o homem paranaense é belo e loiro, enquanto que os traços do homem de pedra se assemelha aos afro-descendentes, outros se preocupavam que a obra não fora feita somente por mãos paranaenses, no caso, as de Cozzo.
Fotografia de Isabel Furini |
“Tanto Erbo Stenzel quanto Bento Munhoz da Rocha Netto não concordaram com a remoção. Bento, em entrevista a jornais, considerou o ato como uma burrice enciclopédica e provincianismo vesgo acionado pelo oposicionismo desesperado da época. Stenzel explicou sua contrariedade devido às razões estéticas, pois a mulher nua de três metros se mostra inferior ao homem nu de oito metros. Em entrevista ao jornal Diário da Tarde, de 4 de setembro de 1972, Erbo Stenzel, aos 60 anos, com pernas imobilizadas, longa barba grisalha, cabelos brancos e lendo a Bíblia Sagrada e alguns livros alemães, expressou sua opinião sobre suas obras: O homem que a princípio eu projetara inclinado para frente, dando a impressão que estava correndo, e a mulher, que representaria Justiça, fugindo aos padrões normais, isto é, sem venda nos olhos, balança ou longo vestido”.
Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/colunistas/nostalgia/cidadao-alerta-ddw4yndo5l7gtnri9t6ll9d1q
Foto de Isabel Furini |
Eloir Jr.
Eloir Jr. é artista Plástico curitibano, pós-graduado pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná e graduado pela Universidade Tuiuti do Paraná, colunista cultural do Sztuka Kuritiba, curador e professor de arte. Há 20 anos é estudioso das etnias europeias no Estado do Paraná, com enfoque principal na cultura eslava da Polônia e Ucrânia, onde expressa seus trabalhos em harmonia com ícones paranistas; araucárias, pinhões e gralha azul.
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