PQP
todo o curitibano
nasce poeta
só poeta ama o silêncio criador
que cala e consente em um elevador
só poeta faz do cinza
permanente paisagem na janela
e em qualquer ruela
na madrugada fria
sua
companheira de boemia
só curitibano
se eu não me engano
quando a neve cobriu a capital
elaborou um plano genial
com discreta arrogância
e perneta ironia
de um único dia
fez da neve
perene poesia
todo o curitibano
nasce poeta
mas o que me inquieta
é que a certa idade
que nunca é certa
por devassidão, púrpura falta de
vaidade
de tanto ouvir que Curitiba
é uma província
e não uma cidade
de tanto ouvir que curitibano
é um povo frio
de tanto ouvir que Curitiba
não é São Paulo, Tókio, Nova Iorque
ou Rio
o curitibano deixa a poesia
vai esquecendo o verso urbano
até que o esquece de uma vez
assim como um dia o fez
a poeta que o pariu
LIMA, Robson. Wintervalo. Curitiba: Blanche, 2014, p.112.
nada mais conservador
que seu hímen imerso
em verso
e dor
LIMA, Robson. Wintervalo. Curitiba: Blanche, 2014, p.65.
Antropofazia
Machado tinha tesão por braços
Alencar tinha tesão por senhoras
viúvas e pés descalços
Azevedo tinha tesão por virgens
Castro Alves tinha tesão por seios
suspiros e vertigens
Guimarães tinha tesão por prosa
Graciliano tinha tesão por tudo
o que não fosse rosa
Drummond tinha tesão por José
que não tinha tesão por ninguém
Leminski tinha tesão por poesia
comia Curitiba e bebia também
Dalton tinha tesão por mulher torta
Byron tinha tesão por mulher morta
Tarados?
Não importa
comi todos esses caras
tenho tesão por taras.
LIMA, Robson. Wintervalo. Curitiba: Blanche, 2014, p119.
*O livro de poemas Wintervalo está à venda no Café Livraria do Solar do Rosário e na lojinha do Bar do Alemão.
O Professor Robson Lima é curitibano, professor de Língua Portuguesa, Literatura, Leitura de Múltiplas Linguagens e um estudioso da poesia paranaense. Autor de livros didáticos, também é Crítico Literário, Consultor Educacional e Assessor Pedagógico nas áreas de Linguagens e Comunicação, ministrando palestras em todo o território nacional. Poeta, músico, declamador, ator e transador de palavras, Robson Lima é um amante dos versos, artes e artemanhas. Autor dos livros Wintervalo (poesia) e Leitura em Movimento: da letra ao letramento. (livro que versa a respeito do aprofundamento da leitura).
todo o curitibano
nasce poeta
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| Largo da Ordem - Fotografia e edição de Isabel Furini |
que cala e consente em um elevador
só poeta faz do cinza
permanente paisagem na janela
e em qualquer ruela
na madrugada fria
sua
companheira de boemia
só curitibano
se eu não me engano
quando a neve cobriu a capital
elaborou um plano genial
com discreta arrogância
e perneta ironia
de um único dia
fez da neve
perene poesia
todo o curitibano
nasce poeta
mas o que me inquieta
é que a certa idade
que nunca é certa
por devassidão, púrpura falta de
vaidade
de tanto ouvir que Curitiba
é uma província
e não uma cidade
de tanto ouvir que curitibano
é um povo frio
de tanto ouvir que Curitiba
não é São Paulo, Tókio, Nova Iorque
ou Rio
o curitibano deixa a poesia
vai esquecendo o verso urbano
até que o esquece de uma vez
assim como um dia o fez
a poeta que o pariu
LIMA, Robson. Wintervalo. Curitiba: Blanche, 2014, p.112.
nada mais conservador
que seu hímen imerso
em verso
e dor
LIMA, Robson. Wintervalo. Curitiba: Blanche, 2014, p.65.
Antropofazia
Machado tinha tesão por braços
Alencar tinha tesão por senhoras
viúvas e pés descalços
Azevedo tinha tesão por virgens
Castro Alves tinha tesão por seios
suspiros e vertigens
Guimarães tinha tesão por prosa
Graciliano tinha tesão por tudo
o que não fosse rosa
Drummond tinha tesão por José
que não tinha tesão por ninguém
Leminski tinha tesão por poesia
comia Curitiba e bebia também
Dalton tinha tesão por mulher torta
Byron tinha tesão por mulher morta
Tarados?
Não importa
comi todos esses caras
tenho tesão por taras.
LIMA, Robson. Wintervalo. Curitiba: Blanche, 2014, p119.
*O livro de poemas Wintervalo está à venda no Café Livraria do Solar do Rosário e na lojinha do Bar do Alemão.
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