O poema é uma articulação de espaços, como uma sanfona que se expande, tocada em dilúvio. A poesia necessita de um tempo para cada arranjo, cada mínima intenção, deflorada com o sabor de quem se situa numa zona fronteiriça, entre o mal-estar e o bel prazer.
A atenção a sua composição pode ser feita de inúmeras formas. Hegel, filósofo alemão que escreveu os famosos “Cursos de Estética”, nos dizia que, mesmo sem termos um ensinamento filosófico e teórico acerca da obra de arte, podemos, dentro da nossa visão leiga, sentir o potencial de sua ideia, que acaba permeando-nos os sentidos.
A poesia representa o que sabemos e o que não sabemos sobre nós, a emoção materializada na racionalidade da composição ou, o lamento de um bicho ferido, todo sentimento e fúria em uma escrita de desabafo e desolação.
Os versos, partes tão importantes de seu esqueleto, articulam-se ora livres de qualquer movimento, traçando-se simplesmente pela ideia de liberdade evocada pelo eu-lírico, desperto do sono da padronização, ora se apegam a um estilo rígido, angustiados pelo porto ou pelo cais que lhe servem de guia em meio a tormenta que anuncia sua rigidez.
Em meio às tormentas, como sereias, os versos lançam suas lamúrias e enfeitiçam os olhos menos atentos, a esse canto, chamamos rimas, conseqüências da dor que os toma de assalto dentro da tempestade polissêmica.
É seu canto que os torna telepáticos, eles comungam de uma dor tamanha, que se partem e funde-se em compaixão e diálogo, em fúria e gratidão, conectando-se a uma estrutura maior.
O poema exige que deem-se os braços, em uma ciranda cósmica.
O céu do acaso que nos une, é vívido, denso e turvo, metamorfoseia-se ao mínimo espanto que nos expulsa do caos cotidiano. De suas nuvens, papoulas se lançam douradas e tão reluzentes, que resolvemos chamá-las metáforas. Elas pousam no coração de cada verso, disfarçando os seus sofrimentos, aplacando-lhe a vida uniforme, como pousa, nos ombros dos homens, a certeza de um instante salvo ao contato com sua poièsis.
Texto de Ramon Diego Câmara Rocha
Ramon Diego Câmara Rocha – Ramon Diego Câmara Rocha é formado em letras português/francês pela UFS e habita na cidade de Nossa Senhora da Glória, no estado de Sergipe. Por duas vezes consecutivas participou das antologias TOC140 – Poesia no Twitter, organizado pela FLIPORTO e, em 2013, através de orçamento participativo, lançou seu primeiro livro de poesia, intitulado “Viagem Rasa. O primeiro livro de Ramon foi alvo de boas críticas entre leitores do Brasil e da Colômbia. O mesmo também ministra, periodicamente, oficinas de "escrita criativa" na cidade onde mora, onde é membro da AGL (Academia Gloriense de Letras) e da Associação Cultural Sertão na Arte.
A atenção a sua composição pode ser feita de inúmeras formas. Hegel, filósofo alemão que escreveu os famosos “Cursos de Estética”, nos dizia que, mesmo sem termos um ensinamento filosófico e teórico acerca da obra de arte, podemos, dentro da nossa visão leiga, sentir o potencial de sua ideia, que acaba permeando-nos os sentidos.
Quadro de Maria Antonieta Gonzaga Teixeira |
A poesia representa o que sabemos e o que não sabemos sobre nós, a emoção materializada na racionalidade da composição ou, o lamento de um bicho ferido, todo sentimento e fúria em uma escrita de desabafo e desolação.
Os versos, partes tão importantes de seu esqueleto, articulam-se ora livres de qualquer movimento, traçando-se simplesmente pela ideia de liberdade evocada pelo eu-lírico, desperto do sono da padronização, ora se apegam a um estilo rígido, angustiados pelo porto ou pelo cais que lhe servem de guia em meio a tormenta que anuncia sua rigidez.
Em meio às tormentas, como sereias, os versos lançam suas lamúrias e enfeitiçam os olhos menos atentos, a esse canto, chamamos rimas, conseqüências da dor que os toma de assalto dentro da tempestade polissêmica.
É seu canto que os torna telepáticos, eles comungam de uma dor tamanha, que se partem e funde-se em compaixão e diálogo, em fúria e gratidão, conectando-se a uma estrutura maior.
O poema exige que deem-se os braços, em uma ciranda cósmica.
O céu do acaso que nos une, é vívido, denso e turvo, metamorfoseia-se ao mínimo espanto que nos expulsa do caos cotidiano. De suas nuvens, papoulas se lançam douradas e tão reluzentes, que resolvemos chamá-las metáforas. Elas pousam no coração de cada verso, disfarçando os seus sofrimentos, aplacando-lhe a vida uniforme, como pousa, nos ombros dos homens, a certeza de um instante salvo ao contato com sua poièsis.
Texto de Ramon Diego Câmara Rocha
Ramon Diego Câmara Rocha – Ramon Diego Câmara Rocha é formado em letras português/francês pela UFS e habita na cidade de Nossa Senhora da Glória, no estado de Sergipe. Por duas vezes consecutivas participou das antologias TOC140 – Poesia no Twitter, organizado pela FLIPORTO e, em 2013, através de orçamento participativo, lançou seu primeiro livro de poesia, intitulado “Viagem Rasa. O primeiro livro de Ramon foi alvo de boas críticas entre leitores do Brasil e da Colômbia. O mesmo também ministra, periodicamente, oficinas de "escrita criativa" na cidade onde mora, onde é membro da AGL (Academia Gloriense de Letras) e da Associação Cultural Sertão na Arte.
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