In “A flor dentro da árvore”
há uma rosa em alguma aldeia
que sabe deste amor em mim
há uma rosa extasiada, alheia
que captou - no ar - a vibração
batuque do alucinado coração
há uma rosa anônima a valsar
ao som da agonia silenciada
e este fio que ata – nosotros –
faz com que eu saiba e sinta
que sabes o que a rosa sabe
Fotografia de Isabel Furini |
“Dentro da minha flor me escondo...”
(Emily Dickinson)
Baile das harpias
Em árvores carbonizadas
Rindo do fim
Fumaça sangra
Nosso jardim
A alma do éden
Adoentada.
Bárbara Lia
Fotografia de Isabel Furini |
E as rosas mínimas almas?
E os espinhos mínimas prisões?
Cada jardim é um mundo
Guardado por metáforas
Chuviscado de poesia
E ainda há os que dizem
Que a vida é fria
Bárbara Lia
O ano da morte de Ricardo Reis
Não cante o desprezo aos deuses, Ricardo
Não colha as flores mortas ao lado do Tejo
Os fardos humanos são apenas isto – Fardos
E os beijos sensuais são apenas isto – Beijos
Sou todo verão na alcova, acesa, à tua espera
Estonteante mulher que levas a ver as flores
Enquanto os pássaros trinam alto – Neera!
Nada nos falta, mas, em ti brotam mil dores
Quando a morte te buscar, aquela que conheces
Voltarei aos prados colhendo as flores vivas
Tocarei a pele do planeta murmurando preces
Banquetearei na relva, as flores como convivas
Dói, Ricardo, saber que todos os campos serão meus
Ainda orvalhados de lágrimas dos belos olhos teus
In Respirar (2014)
Bárbara Lia
Fotografias de Isabel Furini |
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