Lauro Hait Schwab (1918-1953) foi poeta e contista de Ponta Grossa no Paraná, filho do casal de primos Gaspar José Schwab e Catharina Schwab Neta. Nasceu em uma família tradicional e de imigrantes alemães-russos que colonizaram boa parte do Estado do Paraná, fixando-se no município de Ponta Grossa. Herdou bagagem genética de seus avós, alemães oriundos da Rússia, também conhecidos como russos brancos, russos-alemães e alemães do Volga, tornou-se artista da 6ª. arte, ou seja, literatura, que fez parte de sua vida através da palavra contada e escrita desde sua adolescência e por um curto período de sua vida adulta.
Para narrar a vida do Poeta Paranaense, é necessário e imprescindível expor suas origens teuto-russa, pois este fato acresce a história de muitos intelectuais que se consolidaram no Estado do Paraná.
Os Alemães do Volga são um grupo étnico germânico que vivia próximo ao importante Rio Volga, na Rússia. No século XVIII, por volta de 1763, este povo teuto foi convidado pela Czarina Catarina, “a Grande”, para colonizarem o Baixo Volga, próximo ao mar Cáspio, nas regiões de Saratov e Sâmara. O assentamento alemão ao longo do Volga, segundo o Centro de Estudos Germânicos do Volga, da canadense Concórdia University, cataloga que esta chegada alemã em solo russo, gerou várias aldeias étnicas, entre elas encontra-se a de Schwab, obtendo também alguns nomes como (Bujdakow-Bujerak, Schwab, Schwabskij) e foi fundada como uma colônia luterana em 08 de Julho de 1767 com 44 famílias uma população de 158 pessoas, localizada no lado oeste do Volga entre Galka e Shcherbakovka.
Aldeia
Schwab – (шваб em cirílico ao centro da imagem)
Fonte/Imagem:
CVGS-The Center for Volga German Studies
http://cvgs.cu-portland.edu/settlements/mother_colonies/colony_schwab.cfm
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Da Rússia para o Brasil, a saga teutônica destes alemães do Volga continuou, e aqui chegaram as primeiras famílias em 1877, dentre elas, a família Schwab, que mais precisamente se estabeleceram nos Campos Gerais, que vindos de tão longe, buscavam a felicidade e a riqueza que não encontravam em sua Pátria. Porém a colonização mais forte se formou em Ponta Grossa, muitas famílias se estabeleceram em um bairro onde hoje conhecemos como “Nova Rússia”. Com os alemães do Volga a cidade teve seu primeiro jornal (o Diário dos Campos), o primeiro cinema (o Renascença), ambos fundados na década de 1900, sendo atribuído também a estas famílias, a introdução dos grandes carroções de transporte da erva mate, nosso ouro verde, a riqueza inicial do Estado do Paraná. Este grande auxílio destas famílias imigrantes trouxe o progresso ao Estado, contribuindo também para a cultura local, conseguindo manter na nova Rússia, seus hábitos e costumes através de seus descendentes, batizando nomes de ruas, tornando-se industriais, artistas, intelectuais e prosperando em seu novo habitat, a cidade denominada por Getúlio Vargas como Capital Cívica do Paraná em 1930, quando este de lá, comandou a revolução de mesma data, e carinhosamente mais conhecida como “Princesa dos Campos Gerais”, pois seu centro inicial se ergue numa elevação maior em meio às colinas verdejantes que se estendem, como se fossem um mar, muito verdes.
Nesta terra paranaense cresceu o Poeta Lauro Hait Schwab, e sua infância foi marcada por histórias e contos narrados por seus avós, seus pais e familiares que enfatizavam a saga dos alemães do Volga, entre outras histórias de vida e conversas urbanas.
Da infância para adolescência, as histórias ouvidas por Lauro em rodas familiares, tomaram uma boa parte de sua educação e inconscientemente permaneceu com ele, vindo mais tarde surgir entre poemas e contos.
Neste período de formação educacional, o dom literário do Poeta fica adormecido, pois seus pais, visando uma boa formação para obter um próspero futuro em profissões de “valorização comercial”, o matriculam em uma conceituada instituição de prestigio até os dias de hoje, a Sociedade Educacional Professor Altair Mongruel, mais conhecida como Colégio SEPAM e na época como Academia Pontagrossense de Comércio. Lauro ingressa no ensino propedêutico e na primeira turma do curso profissionalizante em contabilidade e três anos depois, forma-se contador. (Fonte: Revista HISTEDBR On-line, Campinas, n.18, p. 156 - 169, jun. 2005 - ISSN: 1676-2584)
Lauro Hait Schwab – Formatura do Curso de Contabilidade
da Academia Pontagrossense de Comércio.
Fonte/Imagem: Iracema Schwab Bertineti (primogênita de Lauro Hait Schwab)
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Durante o período de formação profissional no Colégio SEPAM, Lauro escreve contos para amigos e familiares, transcreve poemas que lê e fica reconhecido por executar uma excelente caligrafia e manuscritos de renomados autores de sua época e desta forma surge em sua essência toda a arte literária que lhe é inata.
Manuscrito caligráfico de Lauro Hait Schwab
Fonte/Imagem: Miriam Krüger Schwab de Freitas (2ª. filha de Lauro Hait Schwab)
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A vida adulta do poeta se inicia, e Lauro conhece Leda de Oliveira com quem se casa e desta união nasce sua primogênita em 1943, que com alma de poeta e apreciador do grande José de Alencar, batiza sua primeira filha com o nome de Iracema (Iracema Schwab), em homenagem ao romance do grande mestre. Passados dois anos, Lauro se separa de Leda de Oliveira, que parte para Pelotas-RS e o poeta permanece em Ponta Grossa com sua filha Iracema Schwab. Neste entretempo Lauro escreve mais poemas e contos e em 1949 conhece Eli Krüger de Freitas com quem tem sua segunda filha, Miriam Krüger Schwab em 1951.
O poeta Lauro Hait Schwab, com suas duas filhas em um dia de verão no litoral Paranaense.
(Iracema Schwab em pé e Miriam Krüger Schwab ao colo).
Fonte/Imagem: Iracema Schwab Bertineti
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Como meio de mídia da época, nasce o jornal “Tapejara, entre 1950 e 1976, que circulou em grupos intelectuais do Brasil e exterior; composto por textos literários, antropológicos, históricos, entre outros, o periódico difundiu as principais idéias de seus intelectuais fundadores, nas quais, a preocupação com a definição da brasilidade assumia lugar central, através de uma série de mecanismos de interpretação social e histórica do Brasil. Os intelectuais do Centro assumiram o papel de realizar “o conhecimento e a interpretação dos fatos e acontecimentos de nossa vida”, como parte do exercício da própria brasilidade, e com base na obra de Euclides da Cunha, buscaram definir o Brasil numa totalidade étnica, cultural, racial, histórica e moral. Com uma proposta diferente do Paranismo (ou o culto as coisas do Paraná), que sobressaía no pensamento intelectual paranaense da época, o “Tapejara”, voltava-se a exaltação do Brasil (como um país mestiço por excelência) e ao enquadramento do pensamento, das ações e dos sujeitos brasileiros numa lógica de continuidade de valores e características, desde os tempos coloniais até a sua época, operando um entendimento de sentido histórico”. (Fonte: A BRASILIDADE EM PAUTA: INTELECTUAIS E SENTIDO HISTÓRICO NO PERIÓDICO TAPEJARA. Caroline Aparecida Guebert –Luis Fernando Cerri –UEPG – Campus de Ponta Grossa).
Fonte/Imagem: Centro de Documentação e Pesquisa em História-C. D.P.H. da UEPG-PR |
Nesta década dourada e de nascimento de novas correntes intelectuais, o Poeta Lauro Schwab, ingressa no Centro Cultural Euclides da Cunha, sendo contemporâneo de Faris Michaele (1911-1972), considerado “O Tapejara”, um gigante intelectual de Ponta Grossa.
Lauro então produz obras inéditas e torna-se intelectual da então recém formada Academia de Letras de Ponta Grossa que funcionava em co-irmandade com o Centro Cultural, um apêndice assim dito. Com muito orgulho e entusiasmo por levar o nome de sua cidade pelo mundo, os membros e associados tratavam-se entre si de “euclidianos”.
O Poeta Euclidiano Lauro Hait Schwab |
Já como um “euclidiano”, Lauro Hait Schwab tem seu poema “Quando” publicado no periódico “Tapejara”, com repercussão pelo país, América Latina e países europeus com origem da língua latina. A publicação consta no Tapejara, exemplar no. 3, de Março de 1951 na página 8, há também o registro como euclidiano na página 166 do livro: Faris Michale, o Tapejara, exemplar biográfico de autoria de Eno Theodoro Wanke.
Fonte/Imagem: Centro de Documentação e Pesquisa em História-C. D.P.H. da UEPG-PR |
O jovem poeta dos Campos Gerais falece tragicamente em maio de 1953, aos 35 anos e mais uma vez torna-se nota no Tapejara. Sua obra é imortalizada com um único poema publicado, mas com referência e título de Poeta e Contista que deixou diversos trabalhos inéditos para serem estudados, pesquisados, é uma gênese dos tempos dourados da intelectualidade que Ponta Grossa vivenciou um presente para a nova geração e para os descendentes de Schwab.
Em “Sonho de Rimas”, o poeta Lauro só viu palavras floridas, colhidas, rimadas, agrupadas de um sonho poético, estético que o intransigente subconsciente o confidenciou, que nos ensina em “Quando”, através do suor do rosto, pelas lutas da sobrevivência pessoal e familiar, angústias e moléstias, da dor moral e referencia que o vale de lágrimas é transitório e que a alma é imortal, assim como “Poesia” que é a mais bela das palavras, inspirando sentimentos e emoções, sendo o manancial da sutileza da alma, nasce novamente a sublime poesia sensibilizando corações tornando-se atemporal em impressões datilografadas pelo seu DNA artístico.
Poemas de Lauro Hait Schwab – (Sonho de Rimas e Poesia)
Fonte/Imagem: Miriam Krüger Schwab de Freitas (2ª. filha do Poeta).
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Hoje, toda a documentação histórica do Centro Cultural Euclides da Cunha, exemplares do periódico e internacional Tapejara, encontram-se no Centro de Documentação e Pesquisa em História da Universidade Estadual de Ponta Grossa.
Eloir Jr.
Eloir Jr. é artista Plástico curitibano, pós-graduado pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná e graduado pela Universidade Tuiuti do Paraná, colunista cultural do Sztuka Kuritiba, curador e professor de arte. Há 20 anos é estudioso das etnias europeias no Estado do Paraná, com enfoque principal na cultura eslava da Polônia e Ucrânia, onde expressa seus trabalhos em harmonia com ícones paranistas; araucárias, pinhões e gralha azul.
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