Fotografia de Isabel Furini |
O que seria da civilização se não existissem os livros? A cultura? As informações são passadas de geração em geração através dos livros. Os livros são os propulsores da cultura. O hábito da leitura é fundamental. O livro cultiva a mente e o espírito. É um amigo que está sempre de nosso lado. Diminui a sensação de solidão. Pode mostrar caminhos insuspeitos. Proporciona informações e também momentos de lazer. Ler é fundamental. A capacidade do homem, seu dom, é a utilização do pensamento e, o livro é um dos guias para que o pensamento possa se expandir. Novos horizontes podem ser descobertos com a leitura.
A existência do livro pressupõe a existência da escrita. Os primeiros que representaram a língua através de símbolos foram os sumérios e os assírios. Com esses povos nasceu a escrita.
Já no terceiro milênio a.C. os egípcios escreviam e desenhavam em folhas de papiro coladas em faixas largas. Estes rolos tinham uma altura máxima de 37 cm. Para escrever usavam uma tinta escura, feita à base de carvão vegetal.
O chamado “Livro dos Mortos do Antigo Egito”, eram orações, invocações e fórmulas religiosas escritas em papiros e nos próprios sarcófagos. Além desses registros foram encontrados papiros com contos e com orientações de ordem moral. Por exemplo, os textos do Império Médio foram divididos em três gêneros literários: Os ensinamentos, as profecias e os contos.
Os ensinamentos – tradução literal do título egípcio, são coleções de preceitos morais e também políticos. Esses ensinamentos eram colocados na boca de um rei ou de um personagem importante e geralmente, os conselhos eram dedicados ao filho. Por exemplo, o Faraó Amenemhat I, teve que suportar uma rebelião no palácio, triste com a ingratidão do ser humano ele escreve “Os ensinamentos de Amenemhat I”. Na realidade tudo faz acreditar que Amenemhat I foi assassinado nessa rebelião, então os ensinamentos que ele deixou para seu filho, ou foram escritos antes da rebelião, ou é um texto apócrifo. Aparentemente foi escrito depois da morte do faraó por motivos políticos. Mas as orientações morais são válidas e revelam um conhecimento profundo da alma humana.
Outro dos ensinamentos faz referência à função do escriba e dos sacrifícios que essa e outras funções impõem. Outro texto que se aproxima da filosofia moral é chamado “Advertências de um sábio egípcio”.
Mas o papiro que se destaca pela sua tendência filosófica é chamado “O diálogo de um homem cansado da vida, com sua alma”. Os historiadores estão de acordo ao dizer que esse relato, caracterizado pelo pessimismo, pertence à literatura do Império Médio. O assunto é um homem desiludido ao perceber que a vida não vale a pena. Diante da morte é exposta a luta entre a parte racional do homem e sua parte sensível.
Também é digno de menção o chamado “Conto do Camponês”, sobre a arte da eloquência, escrito em papiros muito séculos antes da “Retórica” de Aristóteles.
No Egito a religião dominava as ações dos homens, e encontramos uma teoria escatológica muito rica, muito bem elaborada. Da filosofia, ao contrário, só encontramos esboços, mas sem a análise detalhada de diversos assuntos como acontece na filosofia grega.
O povo grego foi o primeiro que, afastando-se da religião, procurou a origem do universo. O período Cosmogônico que iniciou com Tales de Mileto, caracterizou-se pela elaboração de teorias que se afastavam dos deuses como criadores do universo. Tales pensou que o universo havia surgido da água, Anaximandro do Ápeiron, que é o infinito e/ou indefinido, e Anaxímenes considerou que o ar era o elemento que deu origem ao universo.
Pitágoras, filósofo e matemático, viveu ao redor do ano 580 a. C., e fundou uma Escola em Crotona, na Magna Grécia. Ele e outros filósofos escreveram livros dos quais só ficaram fragmentos. Pitágoras afirmava que o universo era constituído de um sistema de relações e proporções matemáticas. Do número um e do ponto (como figura geométrica), surgiram os números pares e ímpares, as linhas, as figuras e os sólidos. Depois dos sólidos surge a natureza, que obedece às relações matemáticas.
Pitágoras, sua esposa, e alguns dos discípulos pitagóricos, escreveram livros. Alguns se perderam, mas, de outros foram salvos fragmentos. O pensamento dos filósofos do período Cosmogônico também é estudado nas citações dos livros de Platão, Aristóteles e outros filósofos.
Conseguir cópia dos livros era difícil naquela época. Diógenes de Laercio, conta que Platão pagou um preço muito alto por um texto de Pitágoras.
Os romanos, práticos e objetivos, com um senso comercial muito agudo, perceberam que os nobres queriam adquirir livros. Os romanos foram os primeiros a treinar escravos para que copiassem livros. Alguns consideram que esse é o começo das editoras. Em geral, de cada original os escravos tinham que fazer 200 copias para venda.
A filosofia que representou o caráter romano, é a filosofia estoica, uma filosofia moral. Na Roma antiga essa filosofia era seguida pelos nobres e pelos escravos. O estoicismo também nasceu na Grécia, foi uma escola fundada por Zenão de Cítio, mas foi em Roma onde alcançou maior popularidade. E graças a esse espírito prático romano, que decidiu treinar escravos para copiar os livros, podemos estudar as obras dos filósofos do Império Romano, como Epicteto, Marco Aurélio e outros.
Da escrita nos rolos de papiros à escrita na janela do computador, passaram-se muitos séculos. A história da filosofia é como um rio que avança e faz parte da paisagem. A filosofia encontra novos assuntos e novos pontos de vista. Em seu livro “Cibercultura”, lançado pela Editora 34, em 2010, o filósofo Pierre Levy chama a atenção para o fato de que hoje, no ciberespaço, dezenas de milhares de comunidades virtuais trocam informações. Estamos vivendo na Era da Cibercultura, compartilhando um novo espaço mundial. A filosofia é influenciada pelas mudanças da sociedade, e estuda esse novo fenômeno, porque a filosofia é o olhar do ser humano sobre o mundo e sobre si mesmo. Um olhar que permite analisar, entender e questionar, não só de onde viemos, mas, para onde vamos.
Isabel Furini é escritora, autora da coleção “Corujinha e os Filósofos” da editora Bolsa Nacional do Livro.
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