PAPÉIS VELHOS
(a João Cândido Filho)
De novo as velhas páginas tu fitas,
Vagas, sem ritmo e luz, nem florescência,
Louváveis só por terem sido escritas
Na quadra sideral da adolescência.
E lês e a cada frase vã meditas,
Sentindo aquela doce e grata essência
Das lembranças de um século infinitas...
Que brinquedo foi pois esta existência?!
Nada contam-te os versos, no entretanto
Lendo-os, um choque súbito te prende
E te transporta para antigas eras...
Doiram-te sóis, e aos teus ouvidos canto
Longo vem do passado que recende
O olor ideal de velhas primaveras.
Emiliano Perneta
AO CAIR DA TARDE
Agora nada mais. Tudo silêncio. Tudo,
Esses claros jardins com flores de giesta,
Esse parque real, esse palácio em festa,
Dormindo à sombra de um silêncio surdo e mudo...
Nem rosas, nem luar, nem damas... Não me iludo,
A mocidade aí vem, que ruge e que protesta,
Invasora brutal. E a nós que mais nos resta,
Senão ceder-lhe a espada e o manto de veludo?
Sim, que nos resta mais? Já não fulge e não arde
O sol! E no coril negro deste abandono,
Eu sinto o coração tremer como um covarde!
Para que mais viver, folhas tristes do outono?
Cerra-me os olhos, pois, Senhor. É muito tarde.
São horas de dormir o derradeiro sono.
Emiliano Perneta
EMILIANO PERNETA (1866-1921) Poeta simbolista, entre suas obras citamos: Músicas (1888) Ilusão (1911), Pena de Talião (1914) e Setembro (1934 - póstuma). Também escreveu o libreto para ópera Papilio Innocentia (1913); e o libreto para ópera infantil A Vovozinha (1917).
(a João Cândido Filho)
De novo as velhas páginas tu fitas,
Vagas, sem ritmo e luz, nem florescência,
Louváveis só por terem sido escritas
Na quadra sideral da adolescência.
E lês e a cada frase vã meditas,
Sentindo aquela doce e grata essência
Das lembranças de um século infinitas...
Que brinquedo foi pois esta existência?!
Nada contam-te os versos, no entretanto
Lendo-os, um choque súbito te prende
E te transporta para antigas eras...
Doiram-te sóis, e aos teus ouvidos canto
Longo vem do passado que recende
O olor ideal de velhas primaveras.
Emiliano Perneta
AO CAIR DA TARDE
Agora nada mais. Tudo silêncio. Tudo,
Esses claros jardins com flores de giesta,
Esse parque real, esse palácio em festa,
Dormindo à sombra de um silêncio surdo e mudo...
Nem rosas, nem luar, nem damas... Não me iludo,
A mocidade aí vem, que ruge e que protesta,
Invasora brutal. E a nós que mais nos resta,
Senão ceder-lhe a espada e o manto de veludo?
Sim, que nos resta mais? Já não fulge e não arde
O sol! E no coril negro deste abandono,
Eu sinto o coração tremer como um covarde!
Para que mais viver, folhas tristes do outono?
Cerra-me os olhos, pois, Senhor. É muito tarde.
São horas de dormir o derradeiro sono.
Emiliano Perneta
EMILIANO PERNETA (1866-1921) Poeta simbolista, entre suas obras citamos: Músicas (1888) Ilusão (1911), Pena de Talião (1914) e Setembro (1934 - póstuma). Também escreveu o libreto para ópera Papilio Innocentia (1913); e o libreto para ópera infantil A Vovozinha (1917).
Comentários
Postar um comentário