Luiz Walter Furtado: Desflor e outras poesias

Desflor

Cerradas as pálpebras
e as narinas,
resta da flor
apenas o toque leve
de ausência
Veludo já quase
desflor

O mais de certas coisas

é dentro de nós.



Fotografia de Isabel Furini




















Essências

Durante milênios, 
plantas ouvem
e observam
dores, histórias
e viagens

Guardam,
no próprio cerne,
essas essências humanas
capazes de aliviar-nos
ou de perder-nos

Em seus silêncios:
são porta-vozes
das curas e do vento,
dos sãos caminhos
e da loucura.





As mãos na morte

Não ficarão imóveis
as mãos

Pode ser que a 
esquerda
(sendo eu canhoto)
agarre o peito 
na tentativa vã
de conter a dor 
na palma

Talvez,
ao tentar parar 
a bala
ou interceptar o golpe,
essa mesma se eleve
à altura do rosto

Quem sabe ambas, 
inúteis,
(às vezes sou ambidestro)
se projetem 
a amparar a queda

Se tudo for natural,
no leito:
as duas tentarão agarrar-se
em algo ainda sólido,
que nunca houve,
da vida

Ao final,
na morte,
(aqui não há lateralidade)
nada parece 
tão morto.



Luiz Walter Furtado nasceu em Belo Horizonte, em 1957. Médico pediatra na cidade de Ouro Preto, foi descoberto pela poesia há cerca de dois anos.

Tem poemas em várias revistas digitais e um livro de poesias, Revelações (Penalux 2016), publicado em papel.  Está terminando seu segundo livro, também de poemas, a ser publicado em 2017.

Contato: E-mail: lwfsousa@gmail.com

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