VIRANDO A PÁGINA
Por Sandra Fayad
Do velho álbum de fotografias
Viraste a página vagarosamente,
No ritmo do pescoço que torcias
E do olhar que circundava cadente.
Do tinto e comprido jornal do dia,
Viraste a página com ambas as mãos.
Braços esticados, em perfeita simetria,
A proteger-te o nariz como dois irmãos.
Do grosso e pesado dicionário,
Viraste a página leve e fina,
Como se fosse um relicário,
Reverenciado pelo que te ensina.
Do romance do consagrado escritor
Viraste a página repleta de ideias,
Usando, de vez em quando, separador,
Para descansar entre as odisseias.
Da relação amorosa finda
Viraste a página com amargor.
Durante a ressaca ácida, ainda,
Sentias arder-te o tesão abrasador.
Mas do amor que nem quiseste começar,
Viraste - de pronto - a página em branco,
Sem rabiscos ou borrões a lhe manchar.
E seguiste acenando - sem solavanco,
Para em outros braços te arriscar.
Sandra Fayad
IRRESISTÍVEL
Quero homenagear-te em versos,
Embora me tenhas maltratado.
Já me lançaste no mais fétido esgoto,
E me resgataste do mesmo poço.
Nascestes junto com o homem,
Ou conheceste Deus ainda moço?
Insisto em cantar-te em versos,
Pois é em ti que se fundam as pregações.
És tema de tantos discursos,
Letra das mais lindas canções,
Música suave que acalma,
Lema das fraternas campanhas,
Deleite indispensável à alma.
Tenho que proclamar-te em versos,
Ou não serei digna do mundo poeta.
Impossível é resistir a ti.
Lindo! Vens chegando sorrateiro,
Surpreendendo até quem não te queria.
Alteras o metabolismo,
Transformas pedras em flores,
Devoras o cérebro com teu fanatismo.
Tornas tudo o mais secundário.
Imbatível é a tua investida;
Às vezes és um sudário,
Noutras a esperança perdida.
De tudo já viste um pouco;
Novidades não há, são reprises.
Do mais equilibrado ao mais louco,
Todos se renderam aos teus pés.
A vida, por breve que seja,
Conheceu um pouco do que és.
A eternidade é tua morada.
És busca incessante e desesperada
Dos que não conseguiram reter
O teu calor, AMOR!
Sandra Fayad
REVIRAVOLTAS
Poema Síntipo(*)
Por Sandra Fayad
Divido meu tempo em partes iguais
Espalho por elas meus “menos” e mais...
Numa concentro alguns mimos e afagos
Noutra guardo livros pagos e “não pagos”.
Canetas sempre aparecem na minha bolsa.
Quero degustar a dor em pequenos tragos
Ser a bússola que guiou os Reis Magos.
Nos recifes, proteger as colônias de corais
Plantar roça nas ruas onde tropeças e cais.
Quem sabe acordas do pesadelo e voltas?
(*)(*) Forma poética criada pelo poeta português Fernando Oliveira, o Ferool: "..o poema síntipo é composto, de: um título, mais duas quadras e um verso para arrematar, que deve rimar com o título, assim como um verso solto que não rime com o tema, mas que lhe siga os contornos. As duas quadras devem rimar: a primeira em decrescendo e, a segunda em crescendo, os versos rimados devem ter a mesma energia fônica, de preferência com rimas ricas. O verso solto sem rima prefigura a base do poema, quando este é escrito numa folha e esta é dobrada em duas partes, verificarão que todos os versos casam perfeitamente em termos de rimaria.”
Sandra Fayad é autora de cinco livros: 2008 - Animais que plantam gente; 2011 - Poemas Síntipos e Cerrado Capital - A vida em duas estações; 2013 - Histórias de Jorge, o Batuta; 2014 - As Viagens de Oliva e em 2016, a versão em espanhol (Los Viajes de Oliva). Escreve em prosa e versos, com foco assuntos ambientais e o cotidiano do Planalto Central do Brasil. De 2005 em diante, participou de cerca de 30 coletâneas e antologias nacionais e internacionais.
De família árabe, nasceu em Catalão (Goiás) e mora em Brasília, onde se formou em Ciências Econômicas, área de sua atuação profissional. Sua vida literária e ambientalista tem sido objeto de dezenas de reportagens na mídia nacional e internacional. Recebeu alguns prêmios e outras formas de reconhecimento no Brasil e no Exterior pelo desenvolvimento de seu trabalho conjugado de Meio Ambiente e Literatura. Administra o seleto Grupo de talentos literários e artísticos no Facebook intitulado Poetas Amigos: https://www.facebook.com/groups/poetasamigos/. Seu site/blog: www.sandra fayad.prosaeverso.net
Por Sandra Fayad
Do velho álbum de fotografias
Viraste a página vagarosamente,
No ritmo do pescoço que torcias
E do olhar que circundava cadente.
Do tinto e comprido jornal do dia,
Viraste a página com ambas as mãos.
Braços esticados, em perfeita simetria,
A proteger-te o nariz como dois irmãos.
Do grosso e pesado dicionário,
Viraste a página leve e fina,
Como se fosse um relicário,
Reverenciado pelo que te ensina.
Do romance do consagrado escritor
Viraste a página repleta de ideias,
Usando, de vez em quando, separador,
Para descansar entre as odisseias.
Da relação amorosa finda
Viraste a página com amargor.
Durante a ressaca ácida, ainda,
Sentias arder-te o tesão abrasador.
Mas do amor que nem quiseste começar,
Viraste - de pronto - a página em branco,
Sem rabiscos ou borrões a lhe manchar.
E seguiste acenando - sem solavanco,
Para em outros braços te arriscar.
Sandra Fayad
Obra de Van Zimerman |
IRRESISTÍVEL
Quero homenagear-te em versos,
Embora me tenhas maltratado.
Já me lançaste no mais fétido esgoto,
E me resgataste do mesmo poço.
Nascestes junto com o homem,
Ou conheceste Deus ainda moço?
Insisto em cantar-te em versos,
Pois é em ti que se fundam as pregações.
És tema de tantos discursos,
Letra das mais lindas canções,
Música suave que acalma,
Lema das fraternas campanhas,
Deleite indispensável à alma.
Tenho que proclamar-te em versos,
Ou não serei digna do mundo poeta.
Impossível é resistir a ti.
Lindo! Vens chegando sorrateiro,
Surpreendendo até quem não te queria.
Alteras o metabolismo,
Transformas pedras em flores,
Devoras o cérebro com teu fanatismo.
Tornas tudo o mais secundário.
Imbatível é a tua investida;
Às vezes és um sudário,
Noutras a esperança perdida.
De tudo já viste um pouco;
Novidades não há, são reprises.
Do mais equilibrado ao mais louco,
Todos se renderam aos teus pés.
A vida, por breve que seja,
Conheceu um pouco do que és.
A eternidade é tua morada.
És busca incessante e desesperada
Dos que não conseguiram reter
O teu calor, AMOR!
Sandra Fayad
Azul 3 - Obra de Van Zimerman |
REVIRAVOLTAS
Poema Síntipo(*)
Por Sandra Fayad
Divido meu tempo em partes iguais
Espalho por elas meus “menos” e mais...
Numa concentro alguns mimos e afagos
Noutra guardo livros pagos e “não pagos”.
Canetas sempre aparecem na minha bolsa.
Quero degustar a dor em pequenos tragos
Ser a bússola que guiou os Reis Magos.
Nos recifes, proteger as colônias de corais
Plantar roça nas ruas onde tropeças e cais.
Quem sabe acordas do pesadelo e voltas?
(*)(*) Forma poética criada pelo poeta português Fernando Oliveira, o Ferool: "..o poema síntipo é composto, de: um título, mais duas quadras e um verso para arrematar, que deve rimar com o título, assim como um verso solto que não rime com o tema, mas que lhe siga os contornos. As duas quadras devem rimar: a primeira em decrescendo e, a segunda em crescendo, os versos rimados devem ter a mesma energia fônica, de preferência com rimas ricas. O verso solto sem rima prefigura a base do poema, quando este é escrito numa folha e esta é dobrada em duas partes, verificarão que todos os versos casam perfeitamente em termos de rimaria.”
Sandra Fayad é autora de cinco livros: 2008 - Animais que plantam gente; 2011 - Poemas Síntipos e Cerrado Capital - A vida em duas estações; 2013 - Histórias de Jorge, o Batuta; 2014 - As Viagens de Oliva e em 2016, a versão em espanhol (Los Viajes de Oliva). Escreve em prosa e versos, com foco assuntos ambientais e o cotidiano do Planalto Central do Brasil. De 2005 em diante, participou de cerca de 30 coletâneas e antologias nacionais e internacionais.
De família árabe, nasceu em Catalão (Goiás) e mora em Brasília, onde se formou em Ciências Econômicas, área de sua atuação profissional. Sua vida literária e ambientalista tem sido objeto de dezenas de reportagens na mídia nacional e internacional. Recebeu alguns prêmios e outras formas de reconhecimento no Brasil e no Exterior pelo desenvolvimento de seu trabalho conjugado de Meio Ambiente e Literatura. Administra o seleto Grupo de talentos literários e artísticos no Facebook intitulado Poetas Amigos: https://www.facebook.com/groups/poetasamigos/. Seu site/blog: www.sandra fayad.prosaeverso.net
Bom dia, parabéns à Revista Carlos Zemek, parabéns a poetisa Sandra Fayad, lindas poesias, envolvente inspiração!Agradeço, a publicação dos meus trabalhos, abraços, Van Zimerman.
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