Arte Digital de Isabel Furini |
Meu sangue circula em Saturno
na exata hora do sonho esquecido.
Hoje os pássaros cantam em vão
no subúrbio do amanhecer atrofiado
e frio.
Um fio de sol
violenta a fresta da janela
(sou obrigado a apertar as pálpebras).
O cheiro da relva
verde
misturado ao cheiro soturno
dos revoltos cabelos do desespero
conduz meu corpo ao medo
, ao desejo
, ao horizonte taciturno dos segredos...
Meu sangue circula em Saturno
quando os girassóis murcham
sob a chuva melancólica da solidão.
Caminhar caminhar caminhar...
Thoreau me acompanha num rumo
sem rumo...
(Road movie! Road movie! Road movie!)
Meu sangue circula em Saturno
quando a saudade ancora
e aguarda a despedida eterna
no cais do olhar obscuro...
Francisco Gomes
BELA É A FACE CRUEL DOS DEUSES
Bela é a face cruel dos deuses
, onde posso me espelhar
e sentir Narciso nos lábios.
Nenhuma alma sai viva
desse inferno
de coleiras alaranjadas e azuis
, pois bela é a face cruel dos deuses.
Olho para o caquético tempo
– rizotomia percutânea –
e mergulho na dor
da origem facetária humana
cheia de mistérios
feito as filhas de Elêusis
, pois bela é a face cruel dos deuses.
Das janelas do acaso
observo o ermitão-mensageiro do apocalipse
, com cordões de sujeira
grudados no pescoço
, ditando o gosto
no paladar dos olhos do eclipse
, pois bela é a face cruel dos deuses.
Ainda
das janelas do acaso
vejo os saqueadores de almas
, viajantes das tormentas...
Percebo o quão é inútil
ser um deles
, pois bela é a face cruel dos deuses...
verde
misturado ao cheiro soturno
dos revoltos cabelos do desespero
conduz meu corpo ao medo
, ao desejo
, ao horizonte taciturno dos segredos...
Meu sangue circula em Saturno
quando os girassóis murcham
sob a chuva melancólica da solidão.
Caminhar caminhar caminhar...
Thoreau me acompanha num rumo
sem rumo...
(Road movie! Road movie! Road movie!)
Meu sangue circula em Saturno
quando a saudade ancora
e aguarda a despedida eterna
no cais do olhar obscuro...
Francisco Gomes
BELA É A FACE CRUEL DOS DEUSES
Bela é a face cruel dos deuses
, onde posso me espelhar
e sentir Narciso nos lábios.
Nenhuma alma sai viva
desse inferno
de coleiras alaranjadas e azuis
, pois bela é a face cruel dos deuses.
Olho para o caquético tempo
– rizotomia percutânea –
e mergulho na dor
da origem facetária humana
cheia de mistérios
feito as filhas de Elêusis
, pois bela é a face cruel dos deuses.
Das janelas do acaso
observo o ermitão-mensageiro do apocalipse
, com cordões de sujeira
grudados no pescoço
, ditando o gosto
no paladar dos olhos do eclipse
, pois bela é a face cruel dos deuses.
Ainda
das janelas do acaso
vejo os saqueadores de almas
, viajantes das tormentas...
Percebo o quão é inútil
ser um deles
, pois bela é a face cruel dos deuses...
Francisco Gomes
MEUS OLHOS ÁCIDOS NÃO MENTEM
Meus olhos ácidos não mentem.
As flores sempre perdem
a força bruta da beleza.
A suavidade agridoce
, nas coisas
, há tempos me abandonou.
Agora sou
fruto da escassez
, ciente dos experimentos ocres
das ilusões.
Meus olhos ácidos não mentem.
Nossas vozes distantes
impregnam o ar de lamurialâminas.
A volúvel geometria
, das coisas
, já não perpassa meu olhar alquímico.
Quadro de Carlos Zemek |
MEUS OLHOS ÁCIDOS NÃO MENTEM
Meus olhos ácidos não mentem.
As flores sempre perdem
a força bruta da beleza.
A suavidade agridoce
, nas coisas
, há tempos me abandonou.
Agora sou
fruto da escassez
, ciente dos experimentos ocres
das ilusões.
Meus olhos ácidos não mentem.
Nossas vozes distantes
impregnam o ar de lamurialâminas.
A volúvel geometria
, das coisas
, já não perpassa meu olhar alquímico.
Agora sou
caçador de mitos
, desfibrando o inaudível dos abismos...
Francisco Gomes
CARREGO COMIGO
Carrego comigo
, além do peso inevitável da morte
, a incoerência de fazer poemas
– não se sabe para quê ou para quem –
entregues à própria sorte.
Carrego comigo
uma tristeza infinda
como quase um abrigo em ruínas
(único lugar disponível para a autoflagelação do íntimo).
Enquanto passeio pelos enganos perecíveis
, as lagartas cumprem o seu papel
independentemente dos inseticidas...
Francisco Gomes
Francisco Gomes (cor)rompeu a existência em 1982 no arcaico município de Campo Maior (PI), mas fixou raízes na provinciana Teresina (PI), onde habita desde os sete anos de idade. Iniciou as faculdades de História e Letras/português, abandonou ambas. Publicou os livros Poemas Cuaze Sobre Poezias (FCMC - 2011), Aos Ossos do Ofício o Ócio (Penalux - 2014) e Face a Face ao Combate de Dentro (Kazuá - 2016). É autor/editor do blog PULSO POESIA (www.franciscogomespoiesis.worpress.com). Tem poemas publicados em revistas, coletâneas nacionais, jornais, blogs, sites, muros etc. Admira a carência orgulhosa dos gatos e a tranquilidade dos jabutis. Adora fígado acebolado.
caçador de mitos
, desfibrando o inaudível dos abismos...
Francisco Gomes
CARREGO COMIGO
Carrego comigo
, além do peso inevitável da morte
, a incoerência de fazer poemas
– não se sabe para quê ou para quem –
entregues à própria sorte.
Carrego comigo
uma tristeza infinda
como quase um abrigo em ruínas
(único lugar disponível para a autoflagelação do íntimo).
Enquanto passeio pelos enganos perecíveis
, as lagartas cumprem o seu papel
independentemente dos inseticidas...
Francisco Gomes
Francisco Gomes (cor)rompeu a existência em 1982 no arcaico município de Campo Maior (PI), mas fixou raízes na provinciana Teresina (PI), onde habita desde os sete anos de idade. Iniciou as faculdades de História e Letras/português, abandonou ambas. Publicou os livros Poemas Cuaze Sobre Poezias (FCMC - 2011), Aos Ossos do Ofício o Ócio (Penalux - 2014) e Face a Face ao Combate de Dentro (Kazuá - 2016). É autor/editor do blog PULSO POESIA (www.franciscogomespoiesis.worpress.com). Tem poemas publicados em revistas, coletâneas nacionais, jornais, blogs, sites, muros etc. Admira a carência orgulhosa dos gatos e a tranquilidade dos jabutis. Adora fígado acebolado.
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