Arte digital de Isabel Furini |
A febre verbal
A febre do poema
é o ruído do sonho
na palavra,
o clamor da eternidade
urgente
(como Sócrates
que queria tocar lira
antes de morrer.)
As impressões dão-se
ao risco
de cruzar o fogo
sem perder o jogo:
no céu da boca
o sol da linguagem
tece relâmpagos.
E disto é o reino da voz
sobre as sombras.
A febre do poema
é o tálamo
que dá língua
à pedra.
Um rito à borda do delito.
Labor árduo
Meus olhos exilaram-me
na planície das palavras.
E luto com elas no breu
como um louco
que adestrasse nuvens;
_ como o outono a depenar-se.
Óleo sobre tela de Carlos Zemek |
ante as coisas que pedem silêncio.
Em face do mistério
Minha sina é uma canção
de amor no temporal.
desliza sobre mares
rola sob viadutos
ruínas e paixões.
meu coração quasar rasante
(vale-transporte para a via láctea)
brota sob o carpete,
Sobre os algados
e as cinzas do não.
(ó sina que me arremessa
na canção do temporal!)
do acervo do não ser
a essência das coisas range
pedindo para nascer.
José Salgado Filho
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