I
Sob o véu, parada á porta
Apoiada no braço do pai,
Pensou que era a Neblina
A turvar-lhe a Visão.
Ao caminhar pela Nave
Ainda nos braços do pai
Pensou que era seu Rei
O rapaz que lhe sorria.
Foram dois ou três degraus
Até que ela fosse entregue
Pensou que era Rainha
Daquele mundo solene.
Saindo dali sem véu
Pelos braços do marido
Pensou que seria Dona
De algum país colorido
Anos depois, já mais velha
Ao se despedir da vida
Pensou se valeu a pena
Não fugir daquele dia ...
Maria Lorenci
II
Ofélia vestida de noiva
Ali, deitada na sanga
Nem morreu, nem viva estava
Apenas deixava ir
Às vezes pensava ela
Que era só se levantar
Largar pra trás seu amor
Achar um caminho, andar
Mas sabia simplesmente
Que ali estava o Destino
E se ele não a queria
Nada mais podia fazer
Que apenas deitar na sanga
Deixar que corresse a água
Deixar que jorrasse o sangue
De seus dois pulsos cortados
Pois o vestido ainda branco
Quando tudo terminasse
Diria a todos quão pura
Era a dor que a libertara.
Maria Lorenci
III
Meu vestido simplesinho
Nos meus cabelos,
Margaridas campeiras
Como as que me mandaste
No dia em que tudo mudou.
Subimos hoje atrasados
Os três degraus consagrados
Da aprovação das famílias
Nos damos mãos calejadas
Sorrimos sorrisos cansados
Temos sonhos abandonados
E pressa pra retomar.
Temos duas músicas -tema:
Pra mim, dizendo "é preciso
Ter força, manha e graça"
Aquela que tu cantaste
Em antiga serenata
Em um verão esquecido.
A tua , atualizada:
Me diz, depois desse tempo:
"Will you still need me, will you still feed me, when I'm sixty four? "
E digo sim, meu amigo
Bem depois de trinta anos
Quando a vida enfim trouxe
Tua canoa ao meu remanso.
E dizes; "sim, minha amada
Bem pra lá dos doces sonhos
Quando a vida enfim permitiu
Que em teus braços eu repouse"...
Maria Lorenci
Maria Lorenci: nascida em Curitiba, tem 59 anos. Viúva, três filhos, uma neta. Engenheira Civil, funcionária do Banco do Brasil. Escreve desde menina, resolveu mostrar seus escritos há pouco mais de três anos. Participa do Coletivo Marianas desde o seu início. Publicaçoes: participação nas coletâneas "Herdeiras de Lilith", 2014, "Folhetins dos Poetas Malditos ", 2015 . Primeiro livro individual : "Playlist para poemas selvagens" (coleção Marianas - Box 1)- Bolsa Nacional do Livro, 2016. Fanpages: Maria lorenci e Dona Coisa e suas histórias, no Facebook. Tem textos publicados na Revista Carlos Zemek e em Mallarmargens
Sob o véu, parada á porta
Apoiada no braço do pai,
Pensou que era a Neblina
A turvar-lhe a Visão.
Ao caminhar pela Nave
Ainda nos braços do pai
Pensou que era seu Rei
O rapaz que lhe sorria.
Foram dois ou três degraus
Até que ela fosse entregue
Pensou que era Rainha
Daquele mundo solene.
Saindo dali sem véu
Pelos braços do marido
Pensou que seria Dona
De algum país colorido
Anos depois, já mais velha
Ao se despedir da vida
Pensou se valeu a pena
Não fugir daquele dia ...
Maria Lorenci
Arte digital de Isabel Furini |
II
Ofélia vestida de noiva
Ali, deitada na sanga
Nem morreu, nem viva estava
Apenas deixava ir
Às vezes pensava ela
Que era só se levantar
Largar pra trás seu amor
Achar um caminho, andar
Mas sabia simplesmente
Que ali estava o Destino
E se ele não a queria
Nada mais podia fazer
Que apenas deitar na sanga
Deixar que corresse a água
Deixar que jorrasse o sangue
De seus dois pulsos cortados
Pois o vestido ainda branco
Quando tudo terminasse
Diria a todos quão pura
Era a dor que a libertara.
Maria Lorenci
III
Meu vestido simplesinho
Nos meus cabelos,
Margaridas campeiras
Como as que me mandaste
No dia em que tudo mudou.
Subimos hoje atrasados
Os três degraus consagrados
Da aprovação das famílias
Nos damos mãos calejadas
Sorrimos sorrisos cansados
Temos sonhos abandonados
E pressa pra retomar.
Temos duas músicas -tema:
Pra mim, dizendo "é preciso
Ter força, manha e graça"
Aquela que tu cantaste
Em antiga serenata
Em um verão esquecido.
A tua , atualizada:
Me diz, depois desse tempo:
"Will you still need me, will you still feed me, when I'm sixty four? "
E digo sim, meu amigo
Bem depois de trinta anos
Quando a vida enfim trouxe
Tua canoa ao meu remanso.
E dizes; "sim, minha amada
Bem pra lá dos doces sonhos
Quando a vida enfim permitiu
Que em teus braços eu repouse"...
Maria Lorenci
Maria Lorenci: nascida em Curitiba, tem 59 anos. Viúva, três filhos, uma neta. Engenheira Civil, funcionária do Banco do Brasil. Escreve desde menina, resolveu mostrar seus escritos há pouco mais de três anos. Participa do Coletivo Marianas desde o seu início. Publicaçoes: participação nas coletâneas "Herdeiras de Lilith", 2014, "Folhetins dos Poetas Malditos ", 2015 . Primeiro livro individual : "Playlist para poemas selvagens" (coleção Marianas - Box 1)- Bolsa Nacional do Livro, 2016. Fanpages: Maria lorenci e Dona Coisa e suas histórias, no Facebook. Tem textos publicados na Revista Carlos Zemek e em Mallarmargens
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