Todos os dias
Silêncios
Só ouço silêncios
“A cada 11 minutos, uma mulher é estuprada no Brasil”
Maria virou estatística
Enquanto todos
‘Joga pedra na Geni!
Ela é feita pra apanhar!’
Silêncios
Só ouço silêncios
“A cada 5 minutos uma mulher é agredida no Brasil”
Agora, o silêncio grita
Sou torturada pelo silêncio
Minha carne rasga
Minha face tem feridas
Maldito silêncio
Que colocou uma pedra em minha garganta.
Ontem, um homem abortou
Hoje, os justiceiros lincharam uma mulher
“Uma mulher é morta a cada 2 horas no Brasil”
Silêncios
Só ouço silêncios
Heloá virou notícia
Ficou famosa
Saiu na TV
Nos braços da polícia
Sem vida
Enquanto
Famílias jantavam
Ao som de William Bonner
em silêncio
E essa tortura que não passa
Zunindo em meus ouvidos
Há quanto tempo ela está aí?
Ontem, deram-me flores
Aguardavam sorrisos dóceis.
Olhei pra trás
E contei os anos
De flores misturados
A sangue e silêncios
Havia brasas do que
Já foi fogueiras
Também havia cinzas
E eu comi
Comi, pois estava com fome
Eram as cinzas das Bruxas que foram queimadas
As estatísticas continuam
Aceleradas
Mas eu rompi
O primeiro silêncio.
Na pele
Cicatrizes
Na vida
Gritos de alerta!
Lilian Farias
Entre nós
Não estou interessada em sua vida depois de mim.
Aqui somos nós
depois, tu só-mente.
Lilian Farias
A Origem
O amor acabou. Há mais de trinta anos. No verão de 85. De lá para cá, nos acostumamos com as migalhas. Misérias furtivas. Beijo de boa-noite. Beijo de bom-dia. Como foi seu dia? Palavras transmutadas de paixão seca. Não sabia que essas coisas acabavam. Secavam. Evaporavam. É possível que se transformem.
Ontem, tive um ataque de pânico. Quando me dei conta, a origem. O cerne. Bateu a minha porta. Um jardineiro que cuidou. Por mais de trinta anos. De todas as folhas mortas de uma árvore. Como uma formiga teimosa. Impediu que os ventos de outono levassem as folhas secas. Entre a origem, o ontem e o agora. Esta sou eu, um jardineiro teimoso. Um jardineiro a aguar os mortos.
Lilian Farias
LILIAN FARIAS é formada em Letras/Português pela UPE- Universidade de Pernambuco. Autora dos livros O céu é logo ali e Mulheres que não sabem chorar . Além de blogueira literária. "Amo escrever sobre aquilo que incomoda!" Trabalha no movimento Social. Seus últimos trabalhos foram como consultora UNESCO e Educadora Social, ministrando a disciplina de língua Portuguesa, no programa Petrobras Jovem Aprendiz. Atualmente, além de escritora e blogueira, trabalha com leitura e escrita no MOPS – Movimento Popular em Saúde. http://www.poesianaalma.com.br/
Silêncios
Só ouço silêncios
“A cada 11 minutos, uma mulher é estuprada no Brasil”
Maria virou estatística
Enquanto todos
‘Joga pedra na Geni!
Ela é feita pra apanhar!’
Silêncios
Só ouço silêncios
“A cada 5 minutos uma mulher é agredida no Brasil”
Agora, o silêncio grita
Sou torturada pelo silêncio
Minha carne rasga
Minha face tem feridas
Maldito silêncio
Que colocou uma pedra em minha garganta.
Ontem, um homem abortou
Hoje, os justiceiros lincharam uma mulher
“Uma mulher é morta a cada 2 horas no Brasil”
Silêncios
Só ouço silêncios
Heloá virou notícia
Ficou famosa
Saiu na TV
Nos braços da polícia
Sem vida
Enquanto
Famílias jantavam
Ao som de William Bonner
em silêncio
E essa tortura que não passa
Zunindo em meus ouvidos
Há quanto tempo ela está aí?
Ontem, deram-me flores
Aguardavam sorrisos dóceis.
Olhei pra trás
E contei os anos
De flores misturados
A sangue e silêncios
Havia brasas do que
Já foi fogueiras
Também havia cinzas
E eu comi
Comi, pois estava com fome
Eram as cinzas das Bruxas que foram queimadas
As estatísticas continuam
Aceleradas
Mas eu rompi
O primeiro silêncio.
Na pele
Cicatrizes
Na vida
Gritos de alerta!
Lilian Farias
Quadro "Atrapada no Passado" da artista argentinaClaudia Agustí |
Entre nós
Não estou interessada em sua vida depois de mim.
Aqui somos nós
depois, tu só-mente.
Lilian Farias
A Origem
O amor acabou. Há mais de trinta anos. No verão de 85. De lá para cá, nos acostumamos com as migalhas. Misérias furtivas. Beijo de boa-noite. Beijo de bom-dia. Como foi seu dia? Palavras transmutadas de paixão seca. Não sabia que essas coisas acabavam. Secavam. Evaporavam. É possível que se transformem.
Ontem, tive um ataque de pânico. Quando me dei conta, a origem. O cerne. Bateu a minha porta. Um jardineiro que cuidou. Por mais de trinta anos. De todas as folhas mortas de uma árvore. Como uma formiga teimosa. Impediu que os ventos de outono levassem as folhas secas. Entre a origem, o ontem e o agora. Esta sou eu, um jardineiro teimoso. Um jardineiro a aguar os mortos.
Lilian Farias
LILIAN FARIAS é formada em Letras/Português pela UPE- Universidade de Pernambuco. Autora dos livros O céu é logo ali e Mulheres que não sabem chorar . Além de blogueira literária. "Amo escrever sobre aquilo que incomoda!" Trabalha no movimento Social. Seus últimos trabalhos foram como consultora UNESCO e Educadora Social, ministrando a disciplina de língua Portuguesa, no programa Petrobras Jovem Aprendiz. Atualmente, além de escritora e blogueira, trabalha com leitura e escrita no MOPS – Movimento Popular em Saúde. http://www.poesianaalma.com.br/
Lindo trabalho Lilian! Amo demais tua escrita e teu compromisso com a sociedade! Saudações!!!! :*
ResponderExcluirLindo trabalho Lilian, a cada dia você me cativa mais e sempre deixa uma mensagem importantíssima diante da sociedade em que vivemos, muito sucesso amada!
ResponderExcluirBeijinhos
Olá Carlos;
ResponderExcluirApesar da triste base do poema Todos os Dias ele é lindo, muito bem escrito e com referências perfeitas para o contexto.
Não conhecia a autora, mas o que é indiscutível é seu talento para a escrota, parabéns pra ela.
Beijos.
https://cabinedeleitura0.blogspot.com.br/2017/09/4-x-4.html
Parabéns!! Lindo o seu trabalho.
ResponderExcluirhttps://livrosediversasideias.blogspot.com.br/
Oi tudo bem?
ResponderExcluirNão leio muitos poemas por isso não conhecia a autora mas achei lindo seu trabalho e desejo muito sucesso a Lilian.
Beijos
Olá, tudo bem? Adorei os poemas que você trouxe, lindos! Adoro ler poemas, quem os escreve tem um dom muito bonito.
ResponderExcluirBeijos,
Duas Livreiras / Sorteio "O gnomo Elias"
Parabéns pelo seu trabalho,contnui assim com conteudos muito bom!!
ResponderExcluirParabéns pelo seu trabalho,contnui assim com conteudos muito bom!!
ResponderExcluirBoa noite, muito sucesso, essas mensagens são alertas para todos nós, a nossa sociedade precisa se conscientizar.
ResponderExcluirAdorei os poemas, "Todos os dias" possui uma mensagem bem forte. Não conhecia o trabalho da autora mas gostei bastante, parabéns pelo seu trabalho e desejo muito sucesso!
ResponderExcluirOlá!
ResponderExcluirQue poema intenso Lilian. Uma crítica social hein em Todos os dias que fica impossível parar para refletir sobre cada linha lida.
Parabéns pelo seu trabalho!
Beijos!
Camila de Moraes
Adorei ver estes belos e fortes poemas da Lilian na revista Carlos Semek, principalmente o primeiro, bem pertinente diante dura que estamos enfrentando. Ainda mais nestes dias onde vimos a triste sentença dado por um infeliz que atende como juiz. Que se quebre o silêncio!
ResponderExcluirBjs, Rose
Cada vez que leio sua poesia, sua prosa fico mais apaixonada. Sua arte é um grito, traz a voz das mulheres que não se deixam amordaçar.
ResponderExcluirParabéns!
Beijos
Embora seja um assunto pesado, gostei muito da maneira como o texto da Lilian toca e emociona o leitor.
ResponderExcluirBeijos
Mari
Pequenos Retalhos
Oiii!!
ResponderExcluirAcho que é a primeira vez que leio algo da autora e gostei bastante! Bem tocante, parabéns!
Beijinhos
Olá...adorei o texto da autora. Super atual e reflexivo, um tapa na cara da sociedade.
ResponderExcluirAbraços
oie, adorei os trechos muito reflexivos e verdadeiros, e realmente, as mulheres a cada dia enfrentam mais essas dores.
ResponderExcluirOlá!
ResponderExcluirAmei o poema, super atual sem deixar de ser verdadeiro e cruel. Parabéns à autora.