ASPIRINAS
Me levem em
surdina e sem gritos
o leito perfumado
de aspirinas
PONTÍFICES
sou vazada e diurna
escorrego na ponte
pontífices e pedras
GUME DE GUEIXA
Sou uma única mulher
quando a trombeta anuncia
um inverno sem tropeços.
Os legionários da palavra
espiam sua falta de dados
como me fiz por nenhum motivo
conheço o luxo de ser nua e insofismável
inquestionável é a questão
e o próximo dia.
Também invoco nas santas armações
da luta contínua por porto algum
as desculpas estilhaçadas em farpas
dos ausentes cansados em dentes de ogro.
Mas me canso descanso de meu fel.
Ardia na boca do estômago a fúria da pretensão
– esqueci-a retaliada no sofá branco e bagunçado –
deve haver algo melhor do que essa faca
gume de gueixa
a ponta de prata que rebola a qualquer ultraje
para dentro através da margem.
e porém... como dizia tenho azia
dor de baço e um cansaço...
aí retomei a pena e o pó dos livros
a lide das pernas e a busca do pão
pensei no amor como um condimento vespertino
dos enfeites adiei o aprumo
e por três ou quatro minutos
dos restantes sorri e adormeci
ali ao pé do carvalho planto, morena,
serena e de orvalho em pé e sombra
afogada e deslumbrada
– o nome daquele é o mesmo deste?
Estes os problemas e sua função.
MASSACRE
verme vomitado
no ventre
a mulher esvai
no sangue
o bater dos tambores é
macho e massacre.
ANUNCIAÇÃO
O sonho e suas sete partes de dúvidas
as esperanças e suas intoleráveis
vertentes de lixo e dor
maresia maré morena
a agonia esquecida
que fatos eram aqueles
que remavam e vexavam
o desanuviar certeiro
do esplendor?
Joguei-os em meio aos cadernos
mal elaborados
maltrapilhos ensanguentados
nu e decidido o poente da terra
a anunciação do demover solícito
- era plano e mácula
e nada me dizia a respeito
do que forma e se conforma.
era oriente na face oeste da lua –
divisei o pranto e o exílio
e fui-me vencida
em meio ao luxo da vitória.
Jandira Zanchi é poeta, ficcionista e editora (singularidade). Atuou no magistério no ensino de matemática e física em faculdades, colégios e cursos. No final dos anos 80 foi professora cooperante na Universidade Agostinho Neto - Faculdade de Ciências, Luanda - Angola. Em Curitiba por cerca de dez anos esteve na FAE - Bussiness School. Como poeta publicou A Janela dos Ventos (singularidade, 2017), Área de Corte (Editora Patuá,2016), Gume de Gueixa (Editora Patuá, 2013), Balão de Ensaio (Editora Protexto, 2007) . Entre outras antologias participa deSaciedade dos Poetas Vivos vol 1, Poesia para mudar o mundo vols. I e II do site Blocos Online, organizadas por Leila Míccolis, e 101 Poetas Paranaenses-antologia de escritas poéticas do século XIX ao XXI, (Selo Biblioteca Paraná, 2014), organizada por Ademir Demarchi. Integra o conselho editorial de mallarmargens revista de poesia e arte contemporânea. Os poemas selecionados acima são do livro Gume de Gueixa (Patuá, 2013).
Me levem em
surdina e sem gritos
o leito perfumado
de aspirinas
PONTÍFICES
sou vazada e diurna
escorrego na ponte
pontífices e pedras
Fotografia de Isabel Furini |
Sou uma única mulher
quando a trombeta anuncia
um inverno sem tropeços.
Os legionários da palavra
espiam sua falta de dados
como me fiz por nenhum motivo
conheço o luxo de ser nua e insofismável
inquestionável é a questão
e o próximo dia.
Também invoco nas santas armações
da luta contínua por porto algum
as desculpas estilhaçadas em farpas
dos ausentes cansados em dentes de ogro.
Mas me canso descanso de meu fel.
Ardia na boca do estômago a fúria da pretensão
– esqueci-a retaliada no sofá branco e bagunçado –
deve haver algo melhor do que essa faca
gume de gueixa
a ponta de prata que rebola a qualquer ultraje
para dentro através da margem.
e porém... como dizia tenho azia
dor de baço e um cansaço...
aí retomei a pena e o pó dos livros
a lide das pernas e a busca do pão
pensei no amor como um condimento vespertino
dos enfeites adiei o aprumo
e por três ou quatro minutos
dos restantes sorri e adormeci
ali ao pé do carvalho planto, morena,
serena e de orvalho em pé e sombra
afogada e deslumbrada
– o nome daquele é o mesmo deste?
Estes os problemas e sua função.
MASSACRE
verme vomitado
no ventre
a mulher esvai
no sangue
o bater dos tambores é
macho e massacre.
ANUNCIAÇÃO
O sonho e suas sete partes de dúvidas
as esperanças e suas intoleráveis
vertentes de lixo e dor
maresia maré morena
a agonia esquecida
que fatos eram aqueles
que remavam e vexavam
o desanuviar certeiro
do esplendor?
Joguei-os em meio aos cadernos
mal elaborados
maltrapilhos ensanguentados
nu e decidido o poente da terra
a anunciação do demover solícito
- era plano e mácula
e nada me dizia a respeito
do que forma e se conforma.
era oriente na face oeste da lua –
divisei o pranto e o exílio
e fui-me vencida
em meio ao luxo da vitória.
Jandira Zanchi é poeta, ficcionista e editora (singularidade). Atuou no magistério no ensino de matemática e física em faculdades, colégios e cursos. No final dos anos 80 foi professora cooperante na Universidade Agostinho Neto - Faculdade de Ciências, Luanda - Angola. Em Curitiba por cerca de dez anos esteve na FAE - Bussiness School. Como poeta publicou A Janela dos Ventos (singularidade, 2017), Área de Corte (Editora Patuá,2016), Gume de Gueixa (Editora Patuá, 2013), Balão de Ensaio (Editora Protexto, 2007) . Entre outras antologias participa deSaciedade dos Poetas Vivos vol 1, Poesia para mudar o mundo vols. I e II do site Blocos Online, organizadas por Leila Míccolis, e 101 Poetas Paranaenses-antologia de escritas poéticas do século XIX ao XXI, (Selo Biblioteca Paraná, 2014), organizada por Ademir Demarchi. Integra o conselho editorial de mallarmargens revista de poesia e arte contemporânea. Os poemas selecionados acima são do livro Gume de Gueixa (Patuá, 2013).
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